Igreja San Pedro González Telmo – Parte IV: Divisão eclesiástica 

Igreja San Pedro González Telmo: Divisão eclesiástica 

A população primitiva e pequena que se desenvolvera em torno da Plaza Mayor, em uma área não superior a cinco quarteirões, sob a influência do Cabildo e a tutela espiritual da Catedral, estava crescendo e se expandindo para os dois limites dos traços da cidade de Buenos Aires: o Zanjón de Granados (Rua Chile) e o Zanjón de Matorros (Rua Tres Sargentos).

Por volta de 1769, existiam quatro grandes centros populacionais ou bairros orilleros que foram precursores do crescimento da cidade: Santo Domingo e Alto de San Pedro ao sul, la Merced e da Socorro para o norteSanto Domingo e La Merced se desenvolveram mais rapidamente, devido à sua localização excepcional; o Alto de San Pedro e o Socorro, localizados fora dos muros, cresceram mais lentamente.

Até meados do século XVIII, apenas a Iglesia Mayor (Catedral) exercia jurisdição em um território de aproximadamente 50 léguas ao redor da Plaza Mayor; mas com o aumento do bairro de Buenos Aires e “seus subúrbios”, os dois padres orientadores do mesmo, não puderam cumprir satisfatoriamente as várias funções religiosas. A princípio, para resolver esse problema, foi estabelecido que certas igrejas como a de Concepción, São Francisco e San Nicolás, ajudassem a Catedral.

Primeira divisão eclesiástica

No final de 1769, foi realizada a primeira divisão eclesiástica da cidade de Buenos Aires devida de certa maneira à importância que as igrejas primitivas haviam adquirido. Casamentos, nascimentos, batismos e mortes foram registrados em cada um delas; foi prestada ajuda aos necessitados e, além disso, constituíram o ponto de encontro das comissões do bairro, para o tratamento de assuntos extremamente graves, como epidemias e inundações.

Esta primeira divisão eclesiástica deveu-se aos esforços do bispo Manuel Antonio de la Torre, que propôs a divisão do território da cidade em seis cuarteles, a saber: a Catedral, a Conceição, Monserrat, San Nicolás, La Piedad e Socorro.

O curato ou Paróquia da Conceição cobria a área limitada entre as ruas atuais Caseros, San José, Chile e as margens do Rio da Prata; consequentemente, o Alto de San Pedro deixou de pertencer à jurisdição da Catedral e tornou-se dependente da Paróquia de Conceição.

No início do século XIX, o Alto de San Pedro, que já fazia parte do traçado da cidade, adquirira grande importância. El 31 de maio de 1806, graças á iniciativa do Bispo Lué estabeleceu-se a paróquia de San Pedro González Telmo, tirada da jurisdição da paróquia de Conceição.

A partir dessa data, começou a segunda grande etapa de história do bairro de San Telmo, ao mesmo tempo que a paróquia de San Telmo, foi estabelecida como centro espiritual do bairro.

As ruas de San Telmo, empoeiradas no verão e enlameadas no inverno, careciam dos benefícios da pavimentação. La Rua Defesa , ex Camino do Comercio, era o caminho direto para a Plaza Mayor, e por causa de seu dinamismo, resultante do tráfego pesado de carros provenientes do interior do país, tornou-se um dos mais progressistas do bairro.

A segunda divisão eclesiástica

Após a queda de Rosas e até o início do último terço do século XIX, o bairro havia se tornado o local de residência de vários fazendeiros, proprietários de terras, arrendatários e profissionais; mas a grande massa de sua população era constituída por diaristas.

Em 1859, a cidade de Buenos Aires foi dividida em onze paróquias, os seguintes limites correspondentes à paróquia de San Telmo: Brasil, Defesa, Caseros, Bolívar e Chile. É necessário salientar que essa jurisdição eclesiástica também se estendeu na área dos bairros de Boca e Barracas. Nos arredores, em Puerto de los Tachos (hoje Vuelta de Rocha), foi possível observar um grande número de casas de madeira, sinalizando o nascimento do populoso bairro de La Boca .

Nesse mesmo ano, o Hospital General de Hombres foi construído  próximo à igreja paroquial de San Pedro González Telmo.

A terceira divisão paroquial

Em 1867, sendo capital provisória da Nação em Buenos Aires, foram estabelecidos os novos limites do município, a saber: o Riachuelo, as ruas atuais Sáenz, Boedo , Medrano e Córdoba e o riacho Maldonado.

As paróquias foram: Catedral, San Telmo, Concepção, Monserrat, Balvanera, San Miguel, San Nicolás, El Socorro, Pilar e a Piedade.

Em 1869, San Telmo se tornou um dos bairros mais populosos da cidade de Buenos Aires. De uma população total de 177.787 pessoas residia no San Telmo 12.329 indivíduos, dos quais 6588 eram argentinos.

A edificação adquirira grande importância. Num total de 1283 casas, predominaram as casas de material de um corpo com terraço; mas também era possível ver casas de material com telhado de telha, casas de madeira e ranchos de adobe com telhado de colmo.

Em 1869, a cidade de Buenos Aires foi dividida em treze tribunais e paróquias. A jurisdição do Tribunal a e da Paróquia de San Pedro González Telmo foi delimitada pelas seguintes ruas: Martín García, Bolívar, Caseros, Chacabuco e México. É necessário ressaltar que, pela primeira vez, desde a fundação da cidade de Buenos Aires, as fronteiras civis, policiais e eclesiásticas de San Telmo coincidiram.

Finalmente, neste bairro populoso, dinâmico e tradicional de Buenos Aires, limitado na época pelas ruas Martín García, Chacabuco e México, nele penetrou e se espalhou no início de 1871 o terrível flagelo da febre amarela, que dizimou sua população. Naquele ano trágico, San Telmo se tornou o bairro mártir da cidade de Buenos Aires.

 

 

fonte:

  • Iglesia San Pedro González Telmo – Nora Bazzi Figueroa de Pérez Alen (1)
  • Los Límites Primitivos de San Telmo – Dr. Rafael Berruti (2)
  • Los hospitales coloniales- Federico Pérgola (3)
  • www.revisionistas.com.ar

Basílica de San José de Flores – Parte III: Imaginaria do templo do único São José coroado em America do Sul

A igreja de São José de Flores, foi elevada a Basílica em 20 de janeiro de 1912, pelo Papa Pio X. A velha imagem de São José que se encontra no camarim (capela lateral) é uma das poucas pecas que sobraram do antigo templo.

Outra data marcante desta igreja foi em oportunidade da coroação da imagem de São José que está no Altar-Mor, que aconteceu em 28 de outubro de 1956. É a única imagem de San José coroada pelo Decreto Vacano na América do Sul. Na América são duas, a de Flores e a outra em Montreal, Canadá. Continue lendo “Basílica de San José de Flores – Parte III: Imaginaria do templo do único São José coroado em America do Sul”

Igreja de São Juan Bautista de Betharram – Parte V: O Convento das irmãs Capuchinhas

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Chegou a hora de falar sobre o Convento das Irmãs Capuchinhas, o Convento Nossa Senhora do Pilar, localizado junto á igreja San Juan Bautista no bairro de Monserrat.

Os únicos dois mosteiros de clausura que Buenos Aires possuía durante o período colonial foram: Nossa Senhora do Pilar, das Capuchinhas“descalzas”-Santa Catalina de Sena, das Freiras Dominicanas “calzadas”.

Um grupo de irmãs capuchinhas deixou Santiago do Chile em 1745 para se estabelecer o segundo convento de freiras da cidade de Buenos Aires. Depois de dois anos dolorosos de viagem por terra, elas chegaram em 174 7. As irmãs da congregação Capuchinhas viveram no claustro até 1982, agora chamadas Clarissas, mudaram-se para a cidade de Moreno (zona metropolitana de Buenos Aires).

Uma parte do convento, foi demolido. Onde atualmente se encontra o “Pátio da Reconquista”, cenário das batalhas sucedidas durante as invasões inglesas (1806 – 1807). Durante os confrontos bélicos o convento foi usado como hospital, para os feridos de ambos os lados. O pátio central era a área usada para atendê-los. A maioria dos soldados patriotas e ingleses falecidos em combate foram sepultados aqui.

O “Pátio da Reconquista” é uma bela praça arborizada, ligada a antigos pátios, cercada pelas paredes originais da igreja – com mais de dois metros de espessura. Nos fundos da igreja, lugar da antiga horta,  um importante hotel cinco estrelas foi construído, que a través do Pátio, o Convento e pela moderna torre do “Hotel Intercontinental”, o complexo turístico comunica-se nos fundos com os domínios da igreja. Continue lendo “Igreja de São Juan Bautista de Betharram – Parte V: O Convento das irmãs Capuchinhas”

BASÍLICA de SAN JOSÉ de FLORES – PARTE II: O novo e definitivo templo construído no bairro de Flores

Em 4 de maio de 1879, a pedra fundamental do novo templo foi lançada. O risco esteve a cargo dos arquitetos italianos Benito Panunzi e Emilio Lombardo. A construção foi executada pelos arquitetos Andrés Simonazzi e Tomás Allegrini.

Em 18 de fevereiro de 1883, após 3 anos e 9 meses, foi inaugurada a atual Igreja de San José de Flores. A rápida conclusão da obra foi produto da eficiente ação da comissão encarregada de arrecadar fundos, composta por membros de famílias mais abastadas do bairro de Flores. Continue lendo “BASÍLICA de SAN JOSÉ de FLORES – PARTE II: O novo e definitivo templo construído no bairro de Flores”

Igreja San José de Calasanz – Parte II: O Interior do Templo

A história desta igreja começa em 1900 quando os Padres Escapulários viram a construção de seu colégio concluída sob risco do arquiteto Juan Antônio Buschiazzo. Ele chegou da Itália aos quatro anos de idade, formou-se engenheiro e arquiteto desempenhando com excelência sua função de Diretor do Gabinete dos Engenheiros Municipais da Prefeitura justamente no momento em que Buenos Aires (recentemente declarada capital oficial da República Argentina) enfrentava um processo de remodelação inédito, onde a antiga imagem colonial deu lugar à qualificação do tecido urbano com o traçado de avenidas e parques, paralelepípedos, pontes e a construção do primeiro .

A família aristocrática Ortiz Basualdo foi a principal benfeitora que permitiu a construção do templo. O estilo românico-bizantino com influências lombardas escolhidas por Buschiazzo e o fino interior com o seu Altar-mor em mármore carrara e grandes vitrais, todos trazidos da Europa, conferem à Igreja de San José de Calasanz um local digno de visitar. Continue lendo “Igreja San José de Calasanz – Parte II: O Interior do Templo”

Basílica de San José de Flores – Parte I: O antigo Templo de Flores

A primitiva capela e a praça foram o núcleo em torno do qual começou a crescer o bairro de Flores. A igreja de Flores contou com um antigo templo inaugurado em 1831, mas infelizmente ele se deteriora progressivamente apesar das constantes reparações. A construção da atual igreja começou em 1879 e foi inaugurada em 18 de fevereiro de 1883. Continue lendo “Basílica de San José de Flores – Parte I: O antigo Templo de Flores”

Virgem de Caacupé – Parte II: A Virgem de origem Guarani em Paraguai e Argentina

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Costuma-se dizer que Caacupé é a capital espiritual do Paraguai, porque possui o maior santuário do país pois a Virgem de Caacupé é a padroeira do Paraguai. Durante sua visita ao pais em 2015, o Papa Francisco elevou o Santuário da Virgen de Caacupé à categoria de Basílica Menor.

Em 1986 a Virgem chega a Argentina acompanhada como consequência da grande imigração paraguaia que vem acontecendo nas ultimas décadas, junto a outras nacionalidades latino-americanas como as procedentes de Bolívia, Peru e Venezuela. A Virgem chegou para se instalar no bairro de Caballito na antiga igreja fundada pelas freiras britânicas pertencentes à ordem francesa da União Sagrada dos Sagrados Corações, que construíram nos finais do século 19 junto ao Colégio da irmandade.

Em Paraguai, em 4 de novembro de 1980, a primitiva Igreja e Santuário de Tupao Tujá foi demolida para construir o novo Santuário da Virgem, hoje a Basílica Menor de Nossa Senhora de Caacupé. Para que a nova Basílica fosse construída, eles demoliram uma igreja do século 18.

Em 1937 o governo argentino desaproprio das freiras o Colegio e Igreja com o intuito de estabelecer lá o novo Palácio Municipal de Buenos Aires, fato que nunca chegou a se concretizar. A igreja infelizmente foi transformada em depósito, separada do prédio da escola, a capela ficou inativa e abandonada ao seu destino por mais de 40 anos.

Neste post vamos conhecer os templos da Virgem de Caacupé em  Paraguai e Argentina e descobrir como é que aconteceu esses sucessos tão infelizes para Patrimônio Histórico de amos os dois países. Continue lendo “Virgem de Caacupé – Parte II: A Virgem de origem Guarani em Paraguai e Argentina”

TIRADENTES (MG): Igreja Nossa Senhora das Mercês – Parte I: A Oredem das Mercês

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A Igreja de Nossa Senhora das Mercês dos pretos crioulos está localizada no Largo das Mercês, perto do Largo das Forras, no Centro Histórico de Tiradentes.

A Irmandade das Mercês, durante a época colonial, era reservada aos pretos nascidos no Brasil e aos mulatos principalmente. Em Minas Gerais tornou-se extremamente popular. Em praticamente todas as vilas mineiras existiram irmandades de Nossa Senhora das Mercês.

A igreja do final do século XVIII, construída em estilo rococó, esconde detras de sua fachada simples um interior com belas pinturas atribuídas a Manoel Victor de Jesus, das quais Kellen Cristina Silva fez um estudo iconológico muito detalhado em sua tese de graduação citada na fonte deste post. Continue lendo “TIRADENTES (MG): Igreja Nossa Senhora das Mercês – Parte I: A Oredem das Mercês”

Igreja San Pedro González Telmo – Parte III: O Templo

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O começo da construção desta igreja é muito antigo, em outubro de 1734,  sendo fundada em primeiro lugar pelos frades Jesuítas. O risco do templo como a residência erguida do lado ficou a cargo do arquiteto irmão Blanqui, autor de muitos templos na época. Os ornamentos, carpintaria e marcenaria ficaram nas mãos do irmão  jesuíta José Schmidt. A comparação com a outra igreja jesuíta em Buenos Aires (San Ignacio de Loyola, no bairro de Monserrat), resulta inevitável … para surpresa de muitos a igreja de San Telmo é muito maior.

Vamos conhecer neste post o interior deste templo, que acompanhou o nascimento e desenvolvimento do antigo arraial de San Pedro, para transformar-se no centro de referencia espiritual do atual bairro de San Telmo, um dos bairros mais adorados pelo turismo internacional. Continue lendo “Igreja San Pedro González Telmo – Parte III: O Templo”

Igreja de São Juan Bautista de Betharram – Parte IV: Imaginária, Virgens e Santos

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Como em todas as minhas visitas ás igrejas, sempre procuro achar a Santeria Paroquial, o lugar onde habitualmente são vendidas estampas, rosários e imagens religiosas dos santos e virgens, na procura (com maior e menor sorte), de livros ou publicações que falem da historia e arquitetura do templo.

Não é o caso de esta igreja, alias no momento da minha visita a missa estava por começar. Abordo uma das fieis que estava envolvida na preparação do ritual junto ao padre. Diz-me que não tem nada impresso, mas que sim podia enviar um arquivo pdf a meu email (fez na hora) que falava alguns detalhes da igreja.

Dias depois abri com surpresa e descobri que se tratava de uma antiga publicação escaneada com a descrição precisa dos Altares Laterais e Altar-mor, repleta de imagens de santos da Ordem das Irmãs Clarissas Capuchinhas, devotas de Santa Clara de Assis, ordem religiosa feminina da ordem franciscana.

Agradecendo ter recebido tão detalhada informação foi que decidi dedicar este post á Imaginaria, ou seja, todo o conjunto de imagens, exibidas nesta igreja. Também vou falar da Tapeçaria Histórica que as Freiras Capuchinhas tinham nesta igreja e corresponde à obra de arte mais importante que a Argentina teve no século XIX; “A Adoração dos Reis Magos”, de Rubens. Continue lendo “Igreja de São Juan Bautista de Betharram – Parte IV: Imaginária, Virgens e Santos”