Patrimônio Cultural Imaterial no Brasil: Lista Representativa e disciplinas nomeadas pela Unesco como Patrimônio da Humanidade – Parte V

O cultivo da mandioca e apresenta como base social os mais de 22 povos indígenas, localizadas ao longo do rio Negro relacionado às diversas etnias das famílias linguísticas aruak e tukano.

A Festa de Sant’ Ana de Caicó é uma celebração tradicional que ocorre há mais de 260 anos e reúne diversos rituais religiosos, profanos e outras manifestações culturais da região do Seridó norte-rio-grandense.

As Bonecas Karajá representarem cenas do cotidiano e dos ciclos rituais do povo indígena Karajá, elas portam e articulam sistemas de significação da sua cultura e, dessa forma, são também lócus de produção e comunicação dos seus valores.

21 – Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro

Esse bem cultural está ancorado no cultivo da mandioca brava (manihot esculenta) e apresenta como base social os mais de 22 povos indígenas, localizadas ao longo do Rio Negro. É entendido como um conjunto estruturado, formado por elementos interdependentes: as plantas cultivadas, os espaços, as redes sociais, a cultura material, os sistemas alimentares, os saberes, as normas e os direitos. O sistema agrícola do Rio Negro tem como elemento estruturante a mandioca, Manihot esculenta Crantz, denominador comum dos campos de expressão acima citados.

 

Há variações entre os povos nas formas de manejar e pensar a prática agrícola, o que precisaria ser aprofundado, mas há uma praxis compartilhada. É nessa perspectiva que propomos o registro do Sistema Agrícola do Rio Negro e definimos linhas de força para suas ações de salvaguarda.

Localização geográfica

Região do Alto e Médio Rio Negro, de montante a jusante: municípios de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelosn estado do Amazonas

Famílias Indígenas

O bem a ser registrado é principalmente relacionado às diversas etnias das famílias linguísticas aruak e tukano oriental com representantes no território brasileiro:

  • Tukano oriental: Tukano, Desena, Kubeo, Wanana, Tuyuka, Pira-tapuya, Miriti-tapuya, Arapaso, Karapanã, Bará, Siriana, Makuna
  • Aruak: Baniwa, Kuripako, Baré, Werekena, Tariana

22 – Festa de Sant’ Ana de Caicó

É uma celebração tradicional que ocorre há mais de 260 anos e reúne diversos rituais religiosos, profanos e outras manifestações culturais da região do Seridó norte-rio-grandense. Além de uma celebração representativa para este município, ela permite também vislumbrar a diversidade das manifestações culturais e possibilita a compreensão abrangente do Seridó potiguar.

Caicó é o maior município do Seridó e a sua povoação começou na Fazenda Penedo, em 1735. O município está localizado na região centro-sul do estado e fica distante cerca 269 km da capital e possui cerca de 60.000 habitantes. A Festa de Sant’Ana de Caicó é um bem cultural da mais alta importância para a vida dos sertanejos do Rio Grande do Norte, e para pessoas que, vindas das mais diversas partes do Brasil e do mundo, afluem para o Seridó Potiguar no período da Festa.

Apesar de seu caráter eminentemente religioso, a Festa de Sant’Ana aglutina elementos diversos da cultura sertaneja, incluindo a indumentária (bordados, chapéus), a culinária (chouriços, filhoses, buchadas), o artesanato (fabricação de imagens, trabalhos com couro e madeira), e as mais diversas formas de expressão (como a arte de enfeitar altares e andores e ritos como o “beija”, estabelecendo-se uma relação afetiva com a imagem da Santa).

Entre as atividades que compõe o cenário da Festa, encontramos a Cavalgada de Sant’Ana como expressão da devoção dos vaqueiros que saem da cidade de Acari, cidade que dista a 65 km, e finaliza em frente a catedral na Praça da Matriz.

23 – Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhão

O Bumba meu boi do Maranhão é uma celebração múltipla que congrega diversos bens culturais associados, divididos entre plano expressivo, composto pelas performances dramáticas, musicais e coreográficas, e o plano material, composto pelos artesanatos, como os bordados do boi, confecção de instrumentos musicais artesanais, entre outros. Em todo seu universo, destaca-se também a riqueza das tramas e personagens. Profundamente enraizado no cristianismo e, em especial, no catolicismo popular, o bumba meu boi envolve a devoção aos santos juninos São João, São Pedro e São Marçal, que mobilizam promessas e marcam algumas datas comemorativas.

Os cultos religiosos afro-brasileiros do Maranhão, como o Tambor de Mina e o Terecô, também estão presentes nessa celebração, uma vez que ocorre o sincretismo entre os santos juninos e os orixás, voduns e encantados que requisitam um boi como obrigação espiritual. O bumba meu boi é uma festa tradicional em que a figura do boi é o elemento central, porém reúne diversas outras manifestações culturais e assim se configura como um vasto “complexo cultural”.

As apresentações dos Bois ocorrem em todo o estado do Maranhão e concentram-se durante os festejos juninos. Seu ciclo festivo e de apresentações pode ser apreendido em quatro etapas: os ensaios, o batismo do boi, as apresentações e a morte.

Alguns aspectos intrinsecamente relacionados à celebração são o boi, a festa, os rituais, a devoção aos santos associados à manifestação, as músicas, as danças, as performances dramáticas, os personagens, os artesanatos e demais ofícios, os instrumentos, os diversos estilos (sotaques) de brincar o Bumba-meu-boi. Em geral, dividem-se os sotaques em cinco: Baixada, Matraca, Zabumba, Costa-de-mão, Orquestra; contudo, estes estilos não são os únicos e existem ainda muitas variações, assim como Bois alternativos.

24 – Saberes e Práticas Associados aos Modos de Fazer Bonecas Karajá

Mais do que objetos meramente lúdicos, as Ritxòkò são consideradas representações culturais que comportam significados sociais profundos, reproduzindo o ordenamento sociocultural e familiar dos Karajá. Com motivos mitológicos, de rituais, da vida cotidiana e da fauna, as bonecas karajá são importantes instrumentos de socialização das crianças que se vêem nesses objetos e aprendem a ser Karajá, bem como os ensinamentos, as técnicas e saberes associados à sua confecção e usos. Por representarem cenas do cotidiano e dos ciclos rituais, elas portam e articulam sistemas de significação da cultura Karajá.

Atualmente, a confecção dessas figuras de cerâmica, denominadas na língua nativa de ritxòkò (na ala feminina) e/ou ritxòò (na ala masculina), é uma atividade exclusiva das mulheres e envolve técnicas e modos de fazer considerados tradicionais e transmitidos de geração em geração e representam, muitas vezes, a única ou a mais importante fonte de renda das famílias.

O processo de confecção envolve o uso de três matérias-primas básicas: a argila ou o barro (suù), que é a matéria-prima principal; a cinza que funciona como antiplástico; a água utilizada para umedecer a mistura proveniente do barro e da cinza. O modo de fazer ritxòkò consiste, basicamente, nas seguintes etapas: extração do barro; preparação do barro; modelagem das figuras; queima e pintura. A pintura e a decoração das cerâmicas  estão associadas, respectivamente, à pintura corporal dos Karajá e às peças de vestuário e adorno consideradas tradicionais.

25 – Rtixòkò: expressão artística e cosmológica do Povo Karajá

A Ritxòkò; Expressão Artística e Cosmológica do Povo Karajá foi inscrita no Livro de Registro das Formas de Expressão, em 2012. As crianças participam na elavoracao desses objetos e aprendem a ser Karajá, bem como os ensinamentos, as técnicas e saberes associados à sua confecção e usos.

As bonecas Karajá condensam e expressam importantes aspectos da identidade do grupo, além de simbolizar diferentes planos da sua sociocosmologia.

O processo (criativo) de produção das ritxòkò  ocorre por meio de um jogo de elaboração e variação de formas e conteúdos determinado por uma série de fatores, como a experiência, a habilidade técnica e a preferência estética da ceramista pela combinação dos motivos temáticos e dos diversos padrões de grafismo aplicados, a função do objeto, o acesso às matérias-primas e a disponibilidade de recursos financeiros para a compra de materiais, a exigência do mercado interno e/ou externo às aldeias, entre outros.

O projeto de pesquisa interdisciplinar “Presença Karajá: cultura material, tramas e trânsitos coloniais” cartografa e estuda as coleções de bonecas Karajá (ritxoko) presentes em museus do Brasil e do exterior, sobretudo os aspectos de sua formação.

O projeto é cadastrado na Faculdade de Ciências Sociais da UFG (Curso de Museologia) e no Museu Antropológico da UFG, mas conta com integrantes também da Licenciatura Intercultural Indígena da UFG, Faculdade de Artes Visuais da UFG (Estudos de Indumentária), Universidade Federal de Minas Gerais e Universidade de Évora.

 

 

fonte:

  • http://portal.iphan.gov.br/
  • http://www.elfikurten.com.br/

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *