MUSEU INHOTIM – PARTE I: Arte Contemporâneo convida à preservação e a sustentabilidade do meio ambiente

O Instituto Inhotim, parte de um processo de colecionismo privado adquirindo atualmente contornos de museu, de jardim botânico, de escola não-formal, de centro cultural, a partir de campos especializados, tais como a arte, a botânica e meio ambiente, a educação, o paisagismo que se interligam e acabam evidenciando um conceito museológico original, ligado à preservação e sustentabilidade do meio ambiente.

INHOTIM: Origem do Nome


O museu fica localizado na zona rural do município de Brumadinho, no Estado de Minas Gerais, apresentando uma área total de 786,06 hectares, tendo como área de preservação 440,16 há, dentro da região da Mata Atlântica.

Foi anteriormente uma fazenda que pertencia a uma empresa mineradora que, no século XIX, atuava na região, cujo administrador era um inglês chamado “Sir Timothy”, que teria morado na região ocupada hoje pelo Instituto. O pronome “Sir” significa “Senhor” em português, e em Minas Gerais, se fala “Nhô”, assim “Sir Tim” se transforma em “Nho Tim”, dando origem ao nome do museu.

O fundador Bernardo Paz, empresário e colecionador de arte, a partir de conversas com o artista brasileiro Tunga teve o desejo de reunir uma coleção de arte desde os anos 1960 até a arte contemporânea e, desta forma, surgiu o Instituto Inhotim.

A amizade de Bernardo Paz com o artista e paisagista Roberto Burle Marx, entre 1987 e 1989, possibilitou que o fundador conhecesse novas espécies de plantas, o que posteriormente iria conferir ao Inhotim a posição de referência em paisagismo e espécies botânicas raras.

Bernardo Paz também compartilhava com Burle Marx o interesse na interdisciplinaridade, que é uma das características mais marcantes do Instituto Inhotim, capaz de unir arquitetura, arte, vida, natureza e paisagismo.

Museu Inhotim


O Museu Inhotim é estruturado como um complexo arquitetônico constituído por uma sequência não linear de galerias e obras de arte, em meio a um parque ambiental, apresentando iniciativas multidisciplinares, abrangendo as áreas de arte, meio ambiente, pesquisa e educação, caracterizando-se como um local que rompe com a estrutura arquitetônica e o modo de visitação dos museus convencionais.

Em sua entrada já se pode observar a bela vegetação que se apresenta em meio a jardins e alamedas

Esta ambientação de espaços fechados e abertos permite que o espectador tenha uma fruição mais direta com relação à obra e o espaço, convivem e interagem com o ambiente construído e o natural, que é a reserva florestal composta por lagos, trilhas e montanhas, caracterizada como um polo de pesquisa da biodiversidade botânica.

Por não haver um circuito obrigatório para percorrer o Inhotim, é interessante a experiência de caminhar e se deparar com obras de escala ambiental, em meio aos jardins exuberantes e à paisagem do bioma entre cerrado e mata atlântica.

A visitação ocorre através das alamedas e pavilhões. O percurso é um convite à reflexão sobre a importância da conservação da biodiversidade

Ao visitar a instituição, o primeiro passo é a leitura do mapa de visitação que permite ao visitante escolher o que deve visitar e para tanto, demanda um conhecimento prévio ou a aceitação de considerações de terceiros sobre o que é melhor de ser visto e o que não pode deixar de ser visto num conjunto formado por: 7 jardins temáticos e 23 galerias dispostas em 3 eixos de visitação entre lagos, mata tropical e reflorestamentos de eucaliptos decorrentes da mineração.

A área de visitação do Inhotim tem 96,87 hectares e compreende jardins, galerias, edificações e fragmentos de mata, além de cinco lagos ornamentais, com aproximadamente 3,5 hectares de espelho d’água.

Nos primórdios do processo paisagístico, um lago artificial foi construído onde anteriormente ficavam as escavadeiras no pátio de máquinas da mineradora. Agora está instalada a obra de Dan Graham, onde se localizam as Palmeiras Azuis e a obra de Hélio Oiticica.

Ainda a respeito da criação dos lagos artificiais, cabe destacar que como esses lagos não foram feitos com uma manta impermeabilizante, o fundo dele é muito vermelho, porque a terra tem muita composição de ferro. Portanto é agregado um produto comercial totalmente biológico que chama Lagoa Azul, é uma alga azul, moída, que vai colorindo e transformando o lago com uma cor azul mais legal.

Além das obras de arte em exposição, o museu conta com 98 bancos do designer Hugo França, que reaproveita resíduos florestais para a produção de esculturas mobiliárias. O primeiro banco foi colocado no jardim em 1990, sob a sombra da árvore tamboril, um dos símbolos do parque. Os bancos são feitos de troncos e raízes de pequi-vinagreiro, árvore comum na mata atlântica, que são encontrados caídos ou mortos na floresta.

Jardim Botânico


O paisagismo teve a influência inicial de Roberto Burle Marx (1909-1994) e em toda a área são encontradas espécies vegetais raras, em uma área que conta com cinco lagos e uma boa reserva de mata preservada. Cabe ressaltar que a coleção de palmeiras é uma das mais completas do mundo e contém espécies raras.

Além do grande acervo composto por obras de arte contemporânea, o Museu Inhotim apresenta um jardim que é um ponto chave na experiência do instituto, e requer atenção de um grande grupo de funcionários. Em 2011, o Museu Inhotim entrou para a associação de jardins botânicos do governo brasileiro, e a equipe começou a fazer um inventário das 4.500 espécies de plantas existentes no parque, incluindo 1.300 tipos de palmeiras.

O Instituto Inhotim abriga diversas plantas raras, tanto nativas quanto exóticas, sendo o único lugar da América Latina que possui um exemplar da flor-cadáver, cf. figura 22, uma espécie nativa da Ásia conhecida como sendo a maior flor do mundo. O espécime floresceu pela primeira vez em 15 de dezembro de 2010, e novamente em 27 de dezembro de 2012. A flor fica no Viveiro Educador, na Estufa Equatorial, ficou exposta ao público, e pôde ser visitada por interessados e curiosos.

 

Arte Contemporânea e Arquitetura


As obras estão expostas em espaços fechados ou abertos dialogando diretamente com o meio ambiente nas diversas linguagens artísticas, como esculturas, instalações, in situ, ambientes sonoros, vídeos instalações, fotografias, performance, danças, etc.

A proposta pode incluir a performance, o vídeo, obras cinéticas, numa proposta de integração da obra com o espaço onde se encontra.

A cada nova aquisição e consequente construção de galeria, aumenta a expectativa do público, ao mesmo tempo que reforça a ideia de um museu inacabado e em constante crescimento.

São cerca de quatrocentos e cinquenta obras de artistas brasileiros e estrangeiros, com destaque para trabalhos de Cildo Meireles, Tunga, Adriana Varejão, Jarbas Lopes, Hélio Oiticica, Matthew Barney, Doug Aitken, Chris Burden, Yayoi Kusama entre outros artistas.

O museu investe em aquisições que não são produtos acabados, mas sim ideias a serem executadas e com isso, demandam uma equipe multidisciplinar e muito tempo de trabalho e, nessa empreitada que retroalimenta a espetacularização, a curadoria do museu promove em grande forma a inauguração de cada obra.

O acervo do Inhotim é composto basicamente por esculturas e instalações em grandes dimensões e em escala ambiental, mas contudo, também tem:

  • galerias temporárias, muitas vezes expõem pinturas e esculturas tradicionais que nada exigem de uma expografia diferenciada tampouco da arquitetura.
  • galerias site specific, casos em que o museu compra a ideia do artista e para a sua concretização faz necessário uma equipe multidisciplinar, inclui arquitetos que viabilizem a concepção.

No último caso, os artista apresentam propostas e o museu ao comprá-las deve oferecer e mobilizar os instrumentos e procedimentos que forem necessários para a referida execução da proposta.

O enquadramento de instalações em galerias definidas para a obra de um único artista distingue-se em duas situações: aquelas projetadas nos primeiro tempos da instituição pelo arquiteto Paulo Orsini e que cumprem o papel de abrigo em soluções próximas ao cubo branco ou galpão; e aquelas em que na arquitetura da galeria busca-se uma mediação que potencialize a apreensão da obra de arte pelo espectador.

Em particular, a construção de um pavilhão que abrigasse duas obras adquiridas da artista Adriana Varejão, junto as de Linda do Rosário e Celacanto Provoca Maremoto, ofereceu à artista a oportunidade de trabalhar com Cerviño Lopez no projeto do edifício, em que se expressam os interesses do arquiteto e se concebe uma estrutura em sintonia com a obra de arte, ficando por sua vez a obra  intimamente ligada à arquitetura do abrigo, numa espécie de lugar construído.

Por uma parte a neutralidade do Cubo Branco parece ser a proposta adequado para a arquitetura de museus, mas em Inhotim podemos notar uma série de exemplos em que a arquitetura integra a expografia e potência outros recursos como a escala dos espaços, o uso da luz natural, os percursos, a implantação e a abertura ao entorno, dando um acabado exemplo de interação entre arte e arquitetura.

 

fonte:

Visite

  • Instituto Inhotim: A experiência de um complexo museológico e suas relações com a arte contemporânea, o meio ambiente e o desenvolvimento humano – Cynthia Elias Taboada (1)
  • Arte Contemporânea e meio ambiente no Museu Inhotim – Maria Lúcia Wochler Pelaes / Norberto Stori (2)

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *