A história da construção desta igreja começa no ano de 1766, com a implantação da Venerável Ordem Terceira de São Francisco de Assis no então arraial do Tijuco (antiga sede do Distrito Diamantino).
A construção desta belíssima igreja apresenta sua estrutura em madeira, com suas paredes feitas em adobe. A fachada principal desta igreja é ladeada por uma única torre, a única com relógio em toda Diamantina.
A igreja se destaca também por ser o local onde descansam os restos mortais de Chica da Silva.
Largo de São Francisco
O templo de Nossa Senhora da Conceição e São Francisco de Assis construído pelos irmãos terceiros franciscanos de Diamantina é um belo exemplar da arquitetura religiosa setecentista mineira de madeira e barro.
A construção se localiza em um sítio privilegiado do contexto urbano da cidade de Diamantina, localiza-se na esquina das Ruas São Francisco e Macau de Cima, nas proximidades da Praça Juscelino Kubitschek.

Localiza-se a noroeste, pouco distante da antiga matriz, em direção oposta à da igreja dos brancos carmelitas, com os quais concorriam pelo privilégio espacial nos centros urbanos.
A implantação do edifício em largo aberto, sobre plataforma elevada constituída por aterro, no ângulo de duas ruas, isolado de outras edificações, e a escadaria monumental em dois lances que ocupa toda a largura frontal foram outros recursos empregados para o destaque no entorno.
A construção do templo
A primeira arrematação para a execução das obras da igreja foi realizada em 1766 pelo preço de quatro contos e 950 mil réis lançado por Antônio Fernandes de Oliveira. Logo em outubro do mesmo ano, providenciou-se a preparação do terreno e do assentamento da estrutura, com a execução de desaterro, abertura de buracos, certamente para os nabos dos esteios, e de rasgão na parte posterior.
Nos registros da obra destaca-se a presencia de negros na execução da obra, cujos jornais eram recebidos por seus senhores, tanto os não especializados, que faziam tarefas mais pesadas ou trabalhavam a serviço de outros profissionais, quanto os oficiais, como os pedreiros de João Machado, de Felipe da Costa e do capitão Francisco José da Rocha.

No final da década de 1760, uma primeira etapa da obra estava concluida. Com isso, em 1770, os terceiros pediram licença ao bispado de Mariana para celebrar seus atos religiosos na capela e obtiveram permissão somente dois anos depois. No mesmo ano, pagaram 42,4 mil réis de encomenda de tintas para pintura artística que mandaram vir do Rio de Janeiro, e 20 oitavas de ouro ao irmão Bento Correia de Carvalho para solicitar um breve de Sua Santidade na cidade de Lisboa, cujo custo total seria comunicado à Ordem assim que o objetivo fosse alcançado.
Aos 20 de abril de 1768, toda a obra de carpintaria foi ajustada entre o arrematante Antônio Fernandes de Oliveira e o carpinteiro Francisco de Souza Matos. Em 1772/1773, o piso de campas estava em execução sob responsabilidade também do carpinteiro Francisco de Souza Matos. Os trabalhos encontravam-se adiantados em 1774. Tudo indica que o retábulo estava pronto, pois foram colocados dois vidros grandes no nicho de Nossa Senhora. Da mesma forma, as janelas da igreja e da sacristia também receberam vidros e ferragens confeccionados pelo ferreiro José da Silva Julião.
A nave e o coro estavam prontos, assim como a sacristia, como se depreende, também, de despesas feitas em 1776 referentes a materiais e mão de obra para assoalho, forro e coro.
O mestre carpinteiro José Manoel Freire executou as grades e também o caixão para a sacristia, certamente o arcaz ainda existente no local. A obra foi avaliada pelos irmãos e decidiu-se acrescentar as grades, o que custou mais 32 oitavas de ouro, que foram pagas a Manoel da Costa Brabo. Os documentos esclarecem as espécies de madeira utilizadas: tábuas de bálsamo largas para o caixão, pranchões de jacarandá e bálsamo que vieram de São Gonçalo para as grades, baldrame de braúna de 40 palmos de comprido para assentar as grades em cima, linha de bálsamo de 47 palmos de comprido para o coro e um pranchão de monjolo.
Foram tomadas novas providências para captação de recursos para pintura e douramento da capela-mor, como as listas de esmolas elaboradas em 1778. Por outro lado, pagou-se, em 1779, quantia não especificada ao sineiro José da Costa pelo sino da capela e, dois anos depois, 60 oitavas do resto da conta do adro a Manoel da Cunha Castro.
Mencionou-se, em 1781, a necessidade de continuar e terminar a torre e os sinos dela, o que foi empreendido diretamente por conta da Ordem, mediante pagamento de jornais de negro e compras de longa lista de peças de madeira, várias tábuas, caibros cerrados e um pau de monjolo, somando tudo 135 oitavas e quatro vinténs. Finalmente, pagou-se, um ano depois, pela fatura da grimpa e remate da torre, mandados fazer pelo procurador Antônio Furtado de Mendonça.

A conclusão da obra pode ser confirmada por meio da planta do Tijuco datada de 1784, na qual se encontra figurada a projeção da torre, ainda não representada na planta de 1774.
Vitoriano Lopes da Costa recebeu por vários serviços de negros no telhado, fatura de andaimes, feitio de frestas, baldrames no lugar das frestas, portão novo e, mais interessante, trabalhos no retábulo, conserto e remendos. A partir daí, os serviços de ornamentação passam a prevalecer nas providências e ações dos terceiros franciscanos e novos serviços de obra arquitetônica voltam a ocorrer com maior frequência no início da década de 1790.
Segue a execução dos forros da nave e do coro, para os quais se comprou tabuado em 1791 e cambotas em 1793. Nesse ano, o carpinteiro Narciso Xavier Ramos estava trabalhando por conta do ajuste do forro da igreja e, no ano seguinte, recebeu o último pagamento após os irmãos concordarem que a obra havia sido feita com a segurança precisa, conforme as condições propostas. Narciso Xavier Ramos recebeu 55 oitavas e meia e dois réis de ouro, em Bilhetes da Extração, e vinte oitavos de resto em 1794.
Pouco adiante, em 1796, o carpinteiro Narciso recebeu um pagamento restante, por todas as obras que estava fazendo para a Ordem, o que presumivelmente se refere à execução do forro do consistório. Merece destaque nesse período Antônio Furtado de Mendonça, membro da Ordem que, por vezes, tomou para si despesas e providências para a continuidade dos serviços, desde os anos 1770 aos de 1790.
Passou-se, então, à importante etapa de execução do adro e de acabamentos do interior da capela, como as grades, ou seja, as balaustradas das janelas do coro, do corpo da igreja, do coro e do sino grande. Manoel da Costa Brandão Bravo presumivelmente foi o responsável por essas obras.
Para os serviços do adro, foram conduzidos 68 carros de pedra e dez alqueires de cal, e despendidas 398 oitavas e meia e cinco vinténs de ouro com pagamentos de jornais de negros, mais quatro carradas de pedra e 12 de lajes das Bicas, e parcelas de pagamento do pedreiro Manoel da Cunha Castro. Executou-se, também, movimento de terra (serviços de aterro e desaterro) provavelmente no terreno ao lado da capela.
Entre os anos de 1810 e 1815, pouco restava a ser feito nas obras da capela. A finalização dos trabalhos é indicada por pagamentos de compras de barrotes e de tábuas para o assoalho da sacristia e para o guarda-pó e, ainda, de óleo de linhaça para pintar a cruz.
Somente cerca de 20 anos depois, em 1837, é que houve novamente algum movimento, em parte de obra de reparos. Em 1839, realizou-se serviço na cobertura, quando foram entregues duas dúzias de caibros grossos para a obra na igreja. Os caixilhos das frestas e a vidraça receberam vidros, e Germano Ferreira de Miranda pintou a cruz e maçanetas do frontispício.
Na ocasião, realizaram-se, também, trabalhos de pintura e douramento dos altares da nave. A partir dessa data, as despesas se referem à conservação da capela ou a intervenções, passando os termos conserto e remendos a predominar na documentação.
A Igreja foi tombada pelo Iphan no ano de 1949.
A fachada
O frontispício segue partido típico em Minas Gerais nos séculos XVIII e XIX, com portada e duas janelas altas ao nível do coro complementado por uma janela da torre. Salientam-se as linhas verticais da compartimentação definida pela divisão tripartida do painel principal, segmento intermediário e corpo da torre, marcada pelos esteios intermediários e cunhais.

O repertório ornamental da fachada se completa pelo belo almofadado e a perfilatura das vergas alteadas da portada e das janelas rasgadas do coro, os guarda-corpos de ferro e os pilaretes que ladeiam o frontão, os quais originalmente deviam possuir um arremate do tipo coruchéu.
Utilizou-se como sistema construtivo nesta obra a solução que era comumente adotada na arquitetura mineira da época; a construção apresenta sua estrutura em madeira, com suas paredes feitas em adobe, emboçadas e caiadas de branco. Quanto à cobertura da construção, esta apresenta diferenças de acordo com a área da construção à que se destina; se nota uma cobertura de duas águas na nave e na capela-mor, de meia água na sacristia e no consistório, e de quatro águas na torre da igreja.

As experiências espaciais do barroco e do rococó, desenvolvidas na região central da mineração a partir de meados do século XVIII, não repercutiram em Diamantina na ondulação das superfícies do corpo de alvenaria, prevalecendo maior despojamento. Essa arquitetura despojada abriga quase sempre magníficos conjuntos de talha, pintura e imaginária.
Pode-se presumir que as peculiaridades desta igreja: torre lateral, frontispício tripartido e painel de alvenaria entre a torre e o corpo central da fachada, constituam reelaboração local de soluções da arquitetura lusa por mestre de obras português que teria produzido os riscos dessas igrejas; ou um primeiro trabalho, talvez na matriz, retomado por seguidores nos projetos das igrejas de São Francisco, Rosário e Bonfim.
Por meio dos volumes quadrangulares, portanto, pode-se ler claramente a disposição dos espaços internos. A planta é composta em T, conforme a tradição da capela luso-brasileira dos séculos XVII e XVIII, com nave, capela-mor, ladeada por sacristia e consistório, e coro alto à entrada do átrio. Elemento excepcional, presente também nas igrejas do Rosário e do Bonfim, é a disposição da torre afastada do corpo da nave, no caso, ficando um vão entre os dois volumes.
A composição do frontispício consiste basicamente em um painel retangular central, geralmente subdividido em três planos, coroado por frontão reto ou arqueado e ladeado ou encimado por torre esguia arrematada por telhados pontiagudos.
Na portada, o brasão da Ordem Franciscana: a coroa de espinhos, os braços e os estigmas. A Cruz de Lorena, sempre presente nas igrejas franciscanas, como por exemplo nas de Ouro Preto e Mariana, não aparece aqui. A ênfase ornamental está dada pelas curvas e contracurvas do brasão franciscano no coroamento da portada e da moldura ondulada do óculo. Acima da cornija, o perfil do frontão recortado em segmentos curvos terminados por volutas completa a composição. Esse frontão, construído em madeira e forrado de tabuado, constitui uma das particularidades da arquitetura religiosa diamantinense, aparecendo também no Carmo e no Rosário como uma das poucas notas movimentadas do tratamento exterior dos templos.
O brasão esculpido em madeira anuncia representa a identidade franciscana com os atributos da Ordem. Composto de duas cartelas ornada de concheados, rocalhas e enrolamentos em S e C, é arrematado por coroa de espinhos e pelos braços com as chagas em cruz do santo e do Cristo, entre os quais passa o cordão que cai lateralmente em linha sinuosa, circundado por ornatos em madeira.
As fachadas laterais apresentam arranjo plástico simplificado, são fachadas retangulares simples, caiadas, delimitadas pelas linhas horizontais dos beirais, onde se destacam pontualmente apenas suas portas, janelas, esteios e cunhais pintados em azul e vermelho e detalhes em amarelo, assim com a fachada principal da construção.
A arquitetura da igreja destaca-se, ainda, pela presença da torre lateral, afastada do corpo da igreja. Ao lado das capelas diamantinenses de Nossa Senhora do Rosário e de Nosso Senhor do Bonfim, forma grupo excepcional de templos de torre lateral originalmente construída no século XVIII em Minas Gerais. A torre foi executada por Valério Fernandes Vilas Boas. É a única igreja em Diamantina com um relógio em sua torre.
O plano original, absolutamente simétrico, teve sua disposição alterada pela adição de ambientes à sacristia na lateral direita e compartimento na cabeceira da capela-mor. No consistório, a abóbada é rebaixada e decorada por bela tarja rococó, enquanto na sacristia sobressaem-se o arcaz e o oratório sobre ele.
Na lateral direita da capela, a área livre tem piso em lajeado. Ali, se sobressaem o volume da carneira (cemitério), coberta por entelhamento à portuguesa, e o talude em pedra aflorada. Francisca da Silva de Oliveira, a famosa Chica da Silva, morreu em 1796 e foi sepultada na igreja de São Francisco de Assis, privilégio reservado apenas aos brancos ricos.
fonte:
- A igreja de São Francisco de Assis em Diamantina – Selma Melo Miranda (1)
- Aproximação entre dois patrimônios: a construção narrativa dos Conventos Franciscanos nas Crônicas da Ordem no Período Colonial – Rafael Ferreira Costa (2)
- http://portal.iphan.gov.br/
- Credito Fotos antigas: Chichico Alkmim, Acervo IMS