Inaugurado em 1894 “Los 36 Billares” é um dos bares mais tradicionais de Buenos Aires e um dos centros mais importantes para jogar sinuca. Foi inaugurada logo após o término da inauguração da Avenida de Mayo, ponto de encontro obrigatório de personagens da cultura e da arte das primeiras décadas do século XX. Os arquitetos Colmegna e Tiphaine foram os autores da obra que respondeu ao gosto requintado do final do século com a forte influência da comunidade hispânica.
Hoje o clássico e lendário bar “Los 36 Billares” na Avenida de Mayo é visitado por muitos curiosos por ser um dos pontos turísticos mais importantes da Cidade de Buenos Aires.
Avenida de Mayo
Impossível referir-se à Avenida de Mayo em Buenos Aires sem pensar em suas calçadas largas, seus plátanos e seus palácios que são uma verdadeira lição de arquitetura ao ar livre, formando por um belo boulevard da “Belle Époque”, com estilo gótico edifícios, de estilo italiano ou académico francês, que se apresentavam presunçosos ao longo do seu traçado tornando-se símbolo de uma antiga modernidade.
A inauguração da avenida foi celebrada em 1894 com uma procissão de 500 tochas. Desde então, e apesar dos confrontos entre os portenhos que relutaram nas primeiras transformações urbanas que sofreu a artéria, a área foi povoada por aqueles edifícios emblemáticos dos quais a maioria ainda está de pé. É o caso deste bar localizado desde aquele ano entre as ruas Salta e Santiago del Estero, e que foi ponto de encontro de cavalheiros viciados em cocktails e jogos de sinuca, dados, dominó e xadrez, entre outros jogos de moda nestes anos.
Após 10 anos de obras, a Avenida de Mayo foi inaugurada em 9 de julho (dia da independência argentina) de 1894, e com a abertura desta estrada, a cidade deixou de ser uma “grande aldeia” para passar a sonhar em ser a capital cultural da América Latina.
Foi Torcuato de Alvear, o primeiro prefeito da cidade, que inspirado nos grandes bulevares europeus, principalmente parisienses, deu início a esta grande obra, infelizmente ele não pôde ver concluída, porque a morte o surpreendeu antes.
Bar “Los 36 Billares”
A primeira localização deste bar foi na rua Corrientes e causou sensação por volta de 1882, estabelecendo a moda do jogo a ponto de, em 1890, haver uma centena de locais com mesas de sinuca em Buenos Aires. Desde 1894 foi instalada na localização atual, quase ao mesmo tempo que a mítica avenida.
A fachada combina tons de tijolo e areia. Toldos listrados na mesma faixa de cores sombreiam as janelas. As lanternas iluminam a calçada e a placa que fica na rua mostra as especialidades da casa, dando um toque de distinção e aconchego ao local, de forma que incentiva moradores e turistas a entrar.
Declarada Patrimônio Histórico Nacional, com seus bares notáveis e belos edifícios, a Avenida de Maio foi ponto de encontro obrigatório de personagens da cultura e da arte durante as primeiras décadas do século XX.
Os 36 Bilhar ocupavam o térreo e o subsolo de um prédio de apartamentos construído em 1914 para a Seguradora “La Franco Argentina”, feito pelos arquitetos Tiphaine e Colmegna, de estilo acadêmico francês.
Grandes janelas voltadas para a rua, mesas de bilhar e café integram a visual. No interior existe um palco situado em frente ao bar que tem um balcão com tampa de granito, a boiserie é decorada com cachos de uvas e junto a algumas mesas quadradas e redondas de madeira dão vida ao ambiente.
Clientes ilustres
Ao longo de sua história de 125 anos, este reduto na Avenida de Mayo atraiu inúmeros peregrinos ilustres, como o poeta espanhol Federico García Lorca, que se hospedou no vizinho Hotel Castelar. Sua ligação emocional ao bar foi imortalizada em um café da manhã que leva seu nome como homenagem e ocupa lugar de destaque no cardápio, ao lado de outro favorito do público: o pão doce artesanal, que é vendido o ano todo.
Muitas histórias de café passaram por suas mesas. Números habituais da noite de Buenos Aires o frequentavam. Entre eles Miguel Angel Bavio Esquiú, chefe da seção de Esportes do jornal El Mundo na década de 1940, e criador da revista Rico Tipo. Outro participante regular foi o escritor Abelardo Arias, o mesmo que em sua novela “La vara de fuego” recria uma história ambientada na década de 1930 em um prédio do mesmo quarteirão, o Hotel Lutecia (hoje Hotel Chile). Entre os personagens emblemáticos da nossa história que o visitaram, podemos citar Jorge Luís Borges, Alfonsina Storni, Carlos Gardel, Marcelo T. de Alvear e Timo Zorraquín.
Em 1999, “Los 36 billares” foi incluído na seleção de Bares Notáveis da Cidade de Buenos Aires, uma lista que destaca e celebra os cafés e confeitarias que, por sua antiguidade, arquitetura ou relevância cultural, definem parte da identidade da cidade capital da Argentina.

Mas o sinal particular deste bar não está no térreo, mas no porão: ali repousam; ou não tanto, dependendo da hora, as nove mesas de sinuca e uma quantidade semelhante de pool que completam o quebra-cabeça. Não é que sejam 36, pois o nome do local remete à marca das primeiras mesas, compradas de uma fábrica que ficava a poucos metros do local. Os tempos mudaram e o cenário foi atualizado, mas apenas o suficiente para se manter em vigor como um espaço ideal para as competições profissionais: por exemplo, os panos não são mais verdes, mas azuis, como marcam as regras de etiqueta do circuito internacional, e agora o ambiente tem calefação para aquecer os dias de inverno.
No subsolo do bar você encontrará a melhor sala de Bilhar de Buenos Aires: nove mesas de bilhar totalmente restauradas, uma delas tem uma antiguidade de 120 anos. Nas paredes, dos armários originais em madeira de cedro onde, após a cerimônia, os jogadores guardam seus tacos até o próximo jogo.

Fabián Oliveto é o gerente da sala de bilhar do bar e um jogador renomado do esporte.: “Pode-se dizer que este é o melhor lugar para jogar sinuca. Agora, existem muitos, mas este é icônico. É um templo do bilhar”, afirma Fabián Oliveto, titular da sala e destacado jogador com mais de 40 anos de experiência, nos quais conquistou campeonatos de todos os tipos: cinco prêmios Olimpia de prata e três prêmios Jorge Newbery, entre outros louros. Além de organizar torneios e garantir que tudo esteja em boas condições, ele se define como anfitrião. Fabián também acompanha de perto a divulgação da atividade. O bar tem escola gratuita para aprender a jogar sinuca, que funciona de segunda a sexta-feira, das 11h às 18h, e funciona para todas as idades.
“O bilhar é a minha vida, deu-me tudo”, resume Fabián, e não exagera: para além da sua vocação e do seu trabalho, casou-se com a filha de outro famoso jogador de bilhar, Manuel Giro e, como não pôde ser de outra forma, a paixão familiar também foi transferida para seu primogênito, que compete até no exterior. Fabián confessa que o bar é como a sua segunda casa, sentimento que partilha com Yanina, com os seus clientes de longa data e, porque não, com a própria Avenida de Mayo, a mais parisiense e espanhola da cidade.
Novos proprietários e restaurações
Por ter permanecido até os dias atuais, preservando seu caráter e decoração originais, em 1987 o Museu da Cidade e o Arquiteto José María Peña, seu fundador, reconheceram “Los 36 Billares” como um Testemunho vivo da Memória Cidadã.
Estava muito degradado quando em 2002 a Direção do Patrimônio de Buenos Aires a incluiu no circuito dos 38 bares notáveis e confeitarias de Buenos Aires. O reconhecimento veio para acelerar uma restauração com a ideia de aprimorar a aparência de quando o bar era um refúgio na penumbra, envolto em fumaça de cigarro e barulho de bolas de bilhar, e onde nenhuma senhora decente se atrevia a colocar um pé, exceto para arrastar maridos pelos cílios que costumavam deixar seu salário na mesa de jogo.
Por iniciativa dos proprietários, e com a direção da arquiteta Cristina Anglesio, iniciou-se uma restauração que durou quase quatro meses e cuja premissa era eliminar todos os detalhes agregados ao longo do tempo que não correspondiam aos franceses originais.
“Quando iniciamos o trabalho descobrimos que havia velhas latrinas nos banheiros dos homens”, lembra a autora do projeto. Mas a porta de entrada com ferragem de bronze e a boisserie de carvalho são talvez os detalhes mais preciosos de Los 36 Billares, uma vez que foram preservados intactos por mais de 100 anos. Então eles foram lavados e polidos, e foram retirados os painéis durlock que cobriam os tetos e algumas paredes, agora impecavelmente estofados com um papel dourado que imita a trama do brocado.
Os grandes lustres de bronze que iluminam o salão principal também são originais e, com exceção de alguns abajures, ficaram em perfeito estado após a restauração. O balcão que antes era feito de puro mármore de carrara havia foi substituído por outra de granito comum, finalmente foi substituído por um balcão mais elegante como aquele que tinha em seus dias de glória.
Outro ponto fundamental do projeto foi a reciclagem da fachada, antes coberta por barulhentos aparelhos de ar condicionadores e uma placa de neon que estragou a ornamentada estrutura de ferro, típica da época.
Mas a dura realidade indica que esses locais muitas vezes não suportam as pressões fiscais que desequilibram seu balance econômico. Não bastou que a Assembleia Legislativa de Buenos Aires o tenha declarado Patrimônio Cultural. Nem o fato de ser parte do universo mágico dos Bares Notáveis da Cidade. Nem o reconhecimento que o Museu da Cidade lhe deu por ter permanecido intacto desde a sua inauguração. Nem a homenagem prestada pela Comissão do Centenário da Avenida de Mayo pela sua presença naquela artéria. Nem sequer ajudou que um grupo de vizinhos realizará um abraço simbólico à sua porta, mal se sabia a notícia de que tinha sido adquirida por uma rede de pizzarias e se tornar mais uma filial da “La Continental”.
Em dezembro de 2013, os seus novos proprietários, a cadeia de pizzas e empanadas La Continental, decidiram fechá-la para uma exaustiva restauração e remodelação.
Na sessão de 5 de dezembro, a Assembleia Legislativa de Buenos Aires a declarou Patrimônio Cultural da Cidade por ampla maioria. Esta medida restringe a mudança de uso do local e dos bens, objetos e / ou coleções de valor patrimonial e importância cultural que se encontrem no interior e / ou no exterior. Entre eles a fachada, a placa, a porta de madeira e vidro, os acabamentos e detalhes em bronze, as janelas guilhotina e os vitrais frontais.
Após um ano, em que se realizou um trabalho praticamente artesanal, ‘Los 36 Billares’ reabriu as suas portas, em dezembro de 2014, tendo recuperado todo o esplendor dos seus anos dourados e mantendo intacta a sua essência de bar histórico, restaurante e local de jogos.
Tango show

Os novos proprietários fizeram toda a restauração com o assessoramento da Direcção-Geral do Património do Ministério da Cultura de Buenos Aires, recuperaram, por exemplo, a madeira das paredes, o balcão e os lustres. Também cadeiras e mesas.
As reformas incluíram o andar principal, com acesso pela Av. De Mayo, onde ficavam o café e o palco, e também a sala dos fundos, com acesso pela rua Rivadavia, onde se jogavam cartas e dominó. Foi promovido o desenvolvimento de novas atividades culturais, que antes mesmo da restauração eram realizadas em um palco improvisado localizado entre as mesas.
Hoje existe uma sala privada que tem capacidade para 60 pessoas, tem palco e um piano alemão C. Bechstein e tem projetor e tela de fundo. É ideal para a realização de Eventos Empresariais e Sociais, Convenções, Congressos, Lançamentos de Produtos, Exposições, Festas ou Encontros Sociais como Civis, Aniversários, Despedidas e todo o tipo de entretenimentos.
Se bem seus novos donos da Continental se especializam em pizzas eles tem outras opções no cardápio. Muito recomendável é pegar aqui o café da manha ou café da tarde com uma ampla variedades de bolos deliciosos.
fonte:
- https://www.periodicovas.com/los-36-billares-solitario-y-triste-final/
- https://www.lanacion.com.ar/
- http://www.cronicasdelaemigracion.com/articulo/cronicas/36-billares-sigue-haciendo-historia-buenos-aires/20150212124228064268.
- https://cuescore.com/venue/Los+36+Billares/2222089http://www.los36billares.com.ar/