SEMANA SANTA em OURO PRETO (MG): Dia 6 – Quarta Santa: Ofício de Trevas

A estremecedora cerimônia do Ofício de Trevas inclui uma utilização simbólica da luz. As 15 velas do Tenebrário são apagadas uma a uma a medida que as leituras dos Salmos se sucedem. O templo fica na completa escuridão, só uma delas fica acesa. O sacerdote oficiante leva esta vela para trás do altar por uns instantes e regressa. A obscuridade nesse momento no templo é imensa, o silencio também.

De repente faz-se um barulho do bater dos pés dos devotos presentes no chão do templo, símbolo da perturbação desse eclipse solar na ocasião da morte de Cristo. Porém, a vela reaparece, sem ter perdido nada da sua luz; o barulho cessa, e todos rendem homenagem ao Vencedor da morte.

Ofício de Trevas


Preservado por mais de três séculos, o antigo Ofício Divino é todo entoado em latim e repleto de simbolismo. A cerimônia é dividida em três partes e é realizada na quarta, quinta e sexta da Semana Santa.

No Tríduo Pascal (os três últimos dias da Quaresma e da Semana Santa: Quinta-feira Santa, Sexta-feira Santa e Sábado Santo ou de Alleluia), desde a Idade Média, as Matinas e Laudes foram ofícios de leitura abertos para a frequência publica e suas dimensões cresceram tanto a ponto dessas duas cerimônias fundirem-se em uma só, que passou a ser chamada de “Ofício de Trevas”.

As Matinas eram rezadas antes do amanhecer, as Laudes, como oração da manhã. O simbolismo do Ofício de Trevas foi uma das razões que motivou sua antecipação, já na Idade Média, da madrugada para a tarde anterior (além de facilitar o concurso dos fiéis), pois à extinção das velas correspondia também a extinção da luz solar, com o final das Laudes em plena noite.  Por isso, o Ofício de Trevas da Quinta-feira Santa passou a ser cantado na tarde/noite de quarta-feira, ocorrendo o mesmo para os demais dias do Tríduo Pascal.

Mas por que “de Trevas”? … O emprego da palavra “Trevas”, nesta dupla cerimônia, é alusivo ao episódio narrado no quinto Responsório das Matinas de Sexta-feira Santa: “Fizeram-se as trevas quando crucificaram Jesus”, extraído de Mateus 27, 45.

O significado da palavra Trevas nos diz da Escuridão total; ausência completa de luz. Como veremos a continuação esta cerimonia se apoia fundamentalmente no uso do simbolismo da luz em alusão a morte e ressureição de Jesus Cristo.

Simbologia da luz


Tenebrário

O Ofício das Trevas é uma liturgia cristã celebrada em latim relacionada à Paixão de Cristo, que existe desde o século 13, realizada durante a Semana Santa usando a simbologia das luzes de velas. Na medida em que se completam as rezas de um salmo, apaga-se uma das 15 velas colocadas num candelabro triangular chamado Tenebrário.

O Tenebrário é um candelabro, situado junto do altar-mor, de forma triangular com quinze velas, dispostas escalonadamente, que se vão apagando progressivamente ao término dos salmos (que são nove nas Matinas e cinco nas Laudes), começando pelo ângulo inferior direito, durante o ofício religioso.

As velas são feitas de cera amarela, ficando acendida ao término do oficio apenas a mais alta, comumente de cor branca, que representa a luz de Cristo.

As velas que vão se apagando representam os discípulos e seguidores, que pouco a pouco despedem a Cristo durante a Paixão. A crescente escuridão com o apagar das velas simboliza o estado de ânimo de Jesus nos momentos que antecedem sua prisão, o julgamento injusto, o sofrimento da crucificação, até a sua morte.

Muitas cidades de Minas Gerais têm buscado resgatar o Ofício de Trevas que deixou de participar nas programações pelo mundo após o Concílio Vaticano II e a reforma das normas da Igreja Católica. Diferentemente, Ouro Preto permaneceu no costumeiro rito, realizando-o na sua totalidade os três ofícios: o primeiro realizado na Quarta-Feira Santa à noite, tanto na missa na igreja de Nossa Senhora das Mercês e Perdões (Mercês de baixo) como na Basílica de Nossa Senhora do Pilar, acontece as 19 hs.

Enquanto à música, as intervenções do grupo coral contribuim ao clima reinante durante a cerimonio; ora todos juntos, outras partes do Ofício ficam a cargo de vozes masculinas que cantam em uníssono o gregoriano, às vezes individualmente como ocorre nas Lições (ou Leituras) e na maioria das vezes em coro como se dá quando da leitura dos Salmos.

Durante as celebrações da Semana Santa a orquestra/grupo coral permanece no coro da igreja (espaço destinado aos músicos situado acima da porta frontal da igreja). Entretanto, nos Ofícios de Trevas a orquestra é posicionada na parte central inferior, próxima aos altares laterais, no transepto.

As cerimônias dos Ofícios de Trevas que acontecem em São João del-Rei na Quartafeira Santa à noite, Sexta-feira Santa e Sábado Santo, ambos pela manhã, possuim um marco musico muito especial. (1) (2)

A cerimônia


Quanto à cerimônia, vale ressaltar: o altar desnudo, sem cruz e castiçais; no lado da epístola coloca-se o candelabro triangular ou, como é mais conhecido, o Tenebrário, com quinze velas que serão apagadas sucessivamente ao fim de cada salmo; acima no coro localiza-se o grupo coral para o canto das leituras.

Interior da Igreja Mercês de baixo com todas suas imagens cobertas

Na medida em que se realiza o ofício, ao final de cada um dos salmos que vão sendo cantados, uma das velas do tenebrário se apaga, e também vão se apagando as luzes do templo, de trás para frente, de modo que ao longo da cerimônia a igreja fica progressivamente na escuridão deixando apenas a região do altar iluminada.

Quando resta apenas a vela branca no ponto mais alto do candelabro e termina o último salmo, o sacerdote oficiante leva esta vela acesa para trás do altar e se mantém assim longe de todos os olhares durante a recitação do Miserere e da oração de conclusão que se segue a esse salmo, simbolizando, assim, a sepultura de Nosso Senhor cuja vida foi apagada pela morte durante três dias, ficando a igreja às escuras e em silêncio por alguns instantes.

Igreja de Nossa Senhora das Mercês e Perdões (Mercês de baixo)

De repente faz-se um barulho do bater dos pés dos presentes no chão do templo, símbolo da perturbação dos inimigos e do terremoto da natureza na ocasião à morte de Cristo. Porém, a vela reaparece, sem ter perdido nada da sua luz; o barulho cessa, e todos rendem homenagem ao Vencedor da morte.

A vela branca que permaneceu acesa durante todo o rito é então trazida novamente às vistas do público e recolocada no lugar mais alto do candelabro (Tenebrário), anunciando o fim do Ofício das Trevas com a persistência da luz de Cristo entre nós.

 

fonte:

  • http://historiasylvio.blogspot.com/2018/03/oficio-das-trevas.html
  • https://diocesedesaojoaodelrei.com.br/tradicao-crista-oficio-de-trevas/
  • https://saojoaodelreitransparente.com.br/works/view/842
  • Foto credito:  Ahmad Jarrah – Junior Viegas

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