Paróquia de Nossa Senhora de Balvanera – Parte I: O Santuário de San Expedito

Na esquina das ruas Bartolomé Mitre e Azcuénaga, o santuário original foi elevado à categoria de paroquia em 1 de abril de 1833. A igreja começou a funcionar em maio desse mesmo ano sendo a 12ª freguesia construída na cidade de Buenos Aires, a única fundada durante o governo de Juan Manuel de Rosas. Ao longo dos anos mereceu reformas e restauros, tornando-se num edifício de grande valor histórico e arquitetônico, pelo que constitui atualmente um importante Património Histórico da cidade.

O templo foi recentemente restaurado realçando a beleza de seu interior e cúpulas.

Os primórdios do bairro de Balvanera


Antigo bairro de Balvanera

Os primórdios do bairro de Balvanera situam-se no final do século XVIII, ocupando um terreno vizinho onde hoje se encontra a atual “Praça Once”, todos estes, terrenos marginais e pouco povoados. Por volta de 1770 se concentravam as carroças que chegavam do interior e em 1775 as “Corrais do Oeste”(como eram chamados), formados espontaneamente, seriam ordenados pela prefeitura e uma resolução do Cabildo os denominou “Corrais do Meio” ou “do Centro”.

Antonio González Uría, de 1756 tinha um local em uma esquina bem perto do Cabildo”; antigamente denominado de pulpería, (um tipo de armazém e padaria ao mesmo tempo). Em 1774 ele comprou das autoridades eclesiásticas, terras localizadas a cerca de 20 quarteirões a oeste da Plaza de Maio. Em 1776, González Uría instalou-se em sua nova casa, nos fundos de sua pulpería.

Já em 1778 vemos González Uría, 62 anos, trabalhando com seu sobrinho Antonio González Varela, apelidado de “Miserere” (que havia entrado no país em 1774). Em 1786 morreu Dom Antonio e “Miserere” herdou seus bens e em 1788, tomou posse legal deles, após uma longa disputa. Remodela e amplia o prédio, acrescentando um forno de tijolos e telhas e vários “quartos para alugar”.

Antônio González Varela (apelidado de “Miserere”), e sua esposa Josefa Ramírez, cederam um terreno onde foram construídos um hospício e um oratório dedicado à Virgem de Balvanera. Em 1797 os frades Damián Pérez e Juan Rodríguez, sob a invocação da Virgem de Valvanera, construíram um importante hospício com 18 quartos, refeitório e dependências às quais se acrescentaria um posterior oratório, antecessor da atual igreja. Aquele hospício funcionava como hospedaria para os missionários franciscanos que chegavam do interior. Também tinha um Cemitério e uma Escola que eradirigida por Juan Cueli, mas a partir de 1822 apenas a Capela permanecerá naquele local.

Em Espanha, a Virgem tem origem na Comunidade Autónoma de La Rioja, padroeira da cidade. Essa devoção da Virgem lá é chamada de Valvanera, forma que devido ao uso popular, em nosso país no México e Equador, se transformou em Balvanera.

Em abril de 1833 foi designada como paróquia pelo bispo Dom Mariano Medrano. Seu primeiro pároco foi o padre Andrés L. de los Ríos, que abriu o “Livro dos Batismos” no dia 16 de maio daquele ano.

Em 1822 os antigos “Corrais do Meio o do Oeste” já eram chamados de “Mercado do Oeste”, ao lado do qual foi construída uma Praça, que foi rebatizada de “Plaza del Mercado del Oeste”, até que em 1853, por decreto do governador da província de Buenos Aires, Pastor Obligado, passou a ser chamada Praça “Once de Septiembre” (comemorando a data do levante que separa a Província de Buenos Aires da Confederação Argentina, comandada por Urquiza, em 1852).

Em 1947, por disposição municipal, Plaza Once passou oficialmente a chamar-se “Plaza Miserere”, mas de acordo com a velha mania de mudar os nomes das ruas e praças, em 1962, outro decreto vai reimpor o seu antigo nome e voltará a chamar-se “Plaza Once de Setembro”, como é conhecida atualmente.

Reforma Eclesiástica


Grande parte do patrimônio da Igreja Argentina tem sua gênese na época colonial. Nos séculos 16 e 17, a coroa espanhola cedeu centenas de milhares de hectares aos bispados e conventos que foram estabelecidos no novo mundo. No século XVIII, por outro lado, o crescimento da propriedade eclesiástica derivou de doações e heranças.

A Igreja possuía 35.000 hectares de campos onde se estabeleceram posteriormente os partidos de Luján, Merlo, Avellaneda, San Pedro, Arrecifes, Moreno, Quilmes, Magdalena e Três de Febrero; na zona metropolitana de Buenos Aires. A Igreja também possuía 300 blocos na capital de Buenos Aires.

Em 1822, Bernardino Rivadavia, que atuou como ministro do governador Rodríguez, promoveu uma lei com um claro viés liberal denominado “Reforma geral da ordem eclesiástica”. Uma vez promulgada, esta lei modificou, entre outros aspectos, o que se refere aos privilégios do clero, o dízimo, o conselho eclesiástico e a secularização do clero regular.

Ao contrário do que acontece na maioria das desapropriações, o Estado não deu à Igreja pagamento ou compensação em troca. Muitas comunidades religiosas foram literalmente deixadas nas ruas.

A única ordem religiosa que conseguiu sobreviver à reforma foram os franciscanos e as que Juan Manuel de Rosas permitiu voltar entre 1835 e 1836: Dominicanos e Jesuítas.

Até então, a Igreja na Argentina era uma organização autofinanciada e independente do Estado. A partir da Reforma de 1822, todos os ministros do culto e párocos passam a perceber salários do Estado, manobra que visa enfraquecer ao máximo o poder da Igreja, discipliná-la e tentar geri-la na sua ação e na sua palavra.

Paróquia Nuestra Señora de Balvanera


Aquele hospício fundado em 1797 foi abolido por lei de Rivadavia em 1822, enquanto a capela permaneceu aberta ao público

A capela Nuestra Señora de Balvanera em 1833 era uma capela simples a que ao longo do tempo foram construídas as torres do campanário, o baptistério e o casa paroquial.

Em 1839 Rosas confiou ao arquiteto José Santos Sartorio (que havia construído a casa de Rosas em Palermo) a construção de um novo templo, que foi inaugurado solenemente e abençoado em 4 de abril de 1842.

É a única freguesia construída durante o governo de Juan Manuel de Rosas

A paróquia passou a se chamar Ntra. Sra. De Balvanera de la Encarnación, em homenagem à esposa de Rosas, Dona Encarnación Ezcurra, falecida em 1838. Essa dedicação foi perdida em 1852.

Após a morte da mãe, sua filha Manuelita passou a atuar como primeira-dama, acompanhando o pai nas cerimônias formais e recebendo embaixadores estrangeiros e representantes dos governos provinciais argentinos. Ela por vez, foi nomeada madrinha desta igreja.

Em 29 de setembro de 1856, o padre Wenceslao Ángel Brid assumiu como pároco de Balvanera. Este último contratou o arquiteto construtor Antonio Picarel para aumentar a altura da cúpula e elevar o número de naves para três, mantendo suas características atuais por volta de 1860.

Fachada


A igreja, de planta em cruz latina, tem três naves com cúpula sobre o transepto e um presbitério reto; a fachada apresenta um nártex com três arcos de igual altura com pequena rosácea e é ladeada por duas torres.

A fachada atual da Paroquia Nuestra Señora de Balvanera foi concluída em 1930

O templo não se destaca pelo seu exterior. À primeira vista, parece simples. No entanto, seu interior é muito marcante. Possui naves laterais, separadas da central por colunas e arcos semicirculares. Quanto ao forro, apresenta arco semicircular, algo típico da arquitetura românica, antecessora do arco em ponta.

É de estilo românico-neoclássico, “com uma roseta central e duas torres” e belos altares, consagrados, o Maior a Jesús Nazareno e os menores a San Juan Nepomuceno e Santo Cristo.

O teto do nartex não tem uma grande altura, mas na nave principal acontece uma mudança de escala onde ele sobe revelando a vastidão e a amplitude do espaço. Os frescos pintados são da autoria de Augusto Juan Fusilier, conferindo-lhe grande valor estético.

A cúpula foi construída com base na figura circular com vitrais em forma de óculo ao seu redor. Ao contrário de outros templos que contêm janelas de vidro comuns na cúpula.

O átrio foi palco de importantes episódios eleitorais, cujo principal protagonista Hipólito Yrigoyen duas vezes presidente dos argentinos (1916 e 1928). Foi o primeiro presidente derrubado por um golpe militar iniciou a sua carreira política no distrito desta freguesia.  Era filho de Marcelina e Martin Irigoyen Dodagaray. Em 1872, o pai assumira a comissária para pôr ordem naquele bairro, que ainda em época era bravo, muito politizado, cheio de compadritos, lutas de galo e bordéis pecaminosos. 

São Expedito


No interior da igreja existem duas virgens: a original trazida pelos jesuítas e uma mais moderna enviada pelos espanhóis. Mas nenhuma delas chama tanto a atenção como a imagem de São Expedito, patrono dedicado a resolver causas justas e urgentes.

A igreja é das mais antigas da cidade (nº 12) e deu nome ao bairro desde o início dos anos 1800: “Nossa Senhora de Balvanera”, mas a maioria a conhece como Santuário de San Expedito.

Segundo registros da instituição, todo dia 19 de abril, data em que o santo é venerado, comparecem entre 50 e 60 mil pessoas, e nos meses restantes entre 20 e 30 mil fiéis. A Festa começa na madrugada do dia 19 de abril, logo apos a meia noite quando a Igreja é solenemente aberta para a Missa que abre as comemorações do santo.

Colegio San José


O Colégio San José e a Igreja de Nossa Senhora de Balvanera, intimamente ligados em sua história, formam um único complexo significativo que ocupa um importante bloco central do bairro Balvanera.

Em 1858, o governador Pastor Obligado convidou os Padres Bayoneses (Congregação do Sagrado Coração de Jesus de Betharran) para fundar uma escola para ajudar a comunidade basca.

Os bascos trabalharam no comercio e saladeiros de carne nos arredores de Buenos Aires, entre Flores e Luján, operavam uma ampla rede de fazendas leiteiras e foram por muitas décadas os principais  fornecedores de leite da cidade. A comunidade basca, com uma sólida fé cristã, sentiu-se impotente em nosso país devido à falta de sacerdotes, especialmente sacerdotes que falaram o idioma basco.

No seu início ocupou uma casa que ficava em frente à igreja de Nossa Senhora de Balvanera e poucos meses depois instalou-se em um terreno adjacente a esta igreja. Os fundadores contaram com o apoio entusiástico do pároco de igreja, Pe. Angel Brid nos primeiros tempos do colégio.

 

fonte:

  • https://elarcondelahistoria.com/balvanera-recuerdos-de-un-viejo-vecino/
  • http://www.cienciayfe.com.ar/parroquias/parroquia.php?numeroparroquia=12
  • https://www.facebook.com/restauracionbalvanera
  • https://baiglesias.com/la-arquitectura-de-balvanera/
  • https://colegiosanjose.edu.ar/
  • http://www.infoalmagro.com.ar/noticias2018/iglesia_nuestra_senora_balvanera.html

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