O prédio localizado na rua Florida, a mais famosa do centro de portenho, foi considerado o primeiro arranha-céu construído em Buenos Aires com 14 andares e 87 metros de altura. No rés-do-chão existe um passeio comercial com saída para a rua San Martin, denominado Galerias Güemes.
A primeira restauração foi realizada entre 2005-2008, na qual as cúpulas, os mármores italianos e a abóbada foram recuperadas; enquanto a segunda foi em 2011, na qual foi restaurada a fachada da rua San Martín.
Mas o que é mais surpreende é o fato de que um teatro e uma casa de chá funcionavam no porão deste edifício. Depois de décadas sem funcionar, eles também foram restaurados e hoje funciona o complexo “Palacio Tango”, onde foram montados dois teatros de tango que oferecem apresentações simultâneas para deleite dos turistas locais e estrangeiros: o “Teatro Astor Piazolla” e o “Teatro Carlos Gardel”.
Galería Güemes
A história dos arranha-céus de Buenos Aires começa com a construção das Galeria Güemes, na rua Flórida 165. Inaugurado em dezembro de 1915, foi considerado o primeiro arranha-céu construído em Buenos Aires, com 14 andares e 87 metros de altura.

Na década de 1910, a rua Flórida era uma das ruas comerciais mais movimentadas de Buenos Aires, virando exclusivamente para pedestres 10 horas por dia. Belas casas da classe alta foram construídas nela nas últimas décadas do século XIX. Na rua Catedral nº 74 (atual San Martín, rua paralela imediatamente ao leste da Flórida), em um terreno que pertencera ao General Ángel Pacheco, seria construída o Banco Superville e uma galeria que se chamaria “Galería Pacheco”. Por sua vez, logo após o início das obras, do outro lado no terreno que da para rua Florida 150, havia una casa de altos (como eram chamados os prédios antigos que tinham além do térreo, um primeiro andar), foi adquirido pelos salteños (originais do estado de Salta): Emilio San Miguel y David Ovejero. Eles planejaram a construção de um arranha-céu, cujo concurso de design em setembro de 1912 foi outorgado ao arquiteto italiano Francesco Gianotti, quem havia construído também a famosa Confitería del Molino.
Francesco decidiu fazer um prédio em cujo térreo teria uma galeria de 116 metros que ligasse a Rua Florida e a Rua San Martín. Como a sede do Banco Superville ficava na rua San Martín, fez um acordo para construir a galeria e combinar que todos os apartamentos que deram para a rua San Martín sejam usados como escritórios e os que dessem para a rua Flórida, seriam destinados a moradia.
Uma grande fachada de vidro e esculturas em bronze e mármore decoram a entrada. Se destaca a beleza das cúpulas de vidro e as grandes entradas para os elevadores, os arcos ornamentais, vitrais, ferragens decorativas, tetos abobadados e corredores de mármore. No segundo nível da galeria há fotografias dos primeiros anos do edifício.
A arquitetura desta galeria do início do século XX é inspirada nos grandes armazéns europeus da época. A grande escala da construção não impediu o empenho no acabamento, expresso na qualidade e riqueza da sua ornamentação.
A construção durou 33 meses e teve que superar um sério revés: o naufrágio do navio mercante italiano que transportava os mármores decorativos por parte de um submarino alemão, durante o desenvolvimento da Primeira Guerra Mundial. De qualquer forma, em 15 de dezembro de 1915, foi inaugurado o primeiro prédio do país totalmente construído em concreto armado e fez a sensação dos transeuntes da rua Flórida.
A propriedade não incluía apenas uma passagem comercial entre as ruas Florida e San Martín, mas também escritórios, apartamentos privados, restaurante e mirante no terraço … até um teatro no porão!!!
Um teatro indecente
A partir de sua inauguração, a alta sociedade portenha reunia-se no seu teatro, batizado como Teatro Privado Emelco e na sua sala de chá adjacente: o Verona. O programa consistia em assistir à projeção de um filme (já que a princípio a sala funcionava como um cinema) e depois festejar com os amigos na sala adjacente, enquanto uma Orquestra de Moças ou uma Vitrola animavam a tarde.

Porém, ao longo dos anos, o espaço do teatro tornou-se em um Teatro da Revista, que combina a participação de comediantes com vedetes, enquanto a casa de chá virou um cabaré, o Abdullah Club (mais tarde Florida Dancing). No Teatro Flórida, Pepe Biondi estreou em 1932 como palhaço e malabarista. José Marrone também passou e Juan Carlos Thorry se atreveu a cantar seus primeiros tangos. Em meio dessas transformações, com o decorrer dos anos, os dois espaços passaram a exibir filmes “realistas”, hoje chamados de pornôs.
Um teatro no porão
Em 1963 fechou as portas ao público. Em 2003, finalmente, um grupo de investidores argentinos se agrupou na Tango Entertainment S.A. e decidiu resgatar aquela joia portenha da arquitetura e decoração em estilo art nouveau. A sua intenção era dedicar este espaço olvidado à música que nasceu e cresceu ao mesmo tempo que a Galeria Güemes, no coração histórico e cultural da cidade. É curioso que um dos lugares mais sofisticados de Buenos Aires tenha esperado quase noventa anos para vencer o esquecimento e encontrar seu verdadeiro destino.
Inacreditavelmente, este espaço ficou fechado por 45 anos, ate que em 2004 foram encarados os trabalhos de restauração que acabaram em 2008 devolvendo toda sua magia e esplendor do novo espaço batizado “Teatro Astor Piazzolla”.
“Depois, durante décadas, todo o porão da Galeria Güemes ficou fechado”, diz Juan Fabbri, um conhecido empresário, hoje responsável de gerenciar os dois espaços, denominados Palacio Tango.
Sala Astor Piazzolla
Astor Piazzolla foi um dos maiores nomes do tango argentino do século XX, tendo suas canções reproduzidas até hoje em qualquer parte do país, seja em um café ou um bar. Mas é nessa sofisticada e elegantíssima casa de tango, faz honor a seu nome e presta uma das mais lindas homenagens, não só ao importante compositor, mas ao ritmo que emociona toda a Argentina.

Diariamente a casa abre as suas portas, convidando para um ambiente que leva os visitantes de volta para o passado, em um ambiente impecável e requintado, é possível aproveitar uma apresentação única de “Las Cuatro Estaciones del Tango”, baseado nas tradicionais canções de Piazzolla e outros grandes compositores argentinos. Tudo graças a performance ao vivo de uma banda, seis impecáveis bailarinos e duas belas vozes que trazem todo o espírito e magia do tango.

.O setor da plateia ainda se encontra montado sobre a laje original de concreto armado, que, por sua vez, possui um suporte giratório capaz de alterar a inclinação da sala. E o que é mais surpreendente: ainda funciona até hoje.
“Quando o espetáculo começava, esse mecanismo modificava a inclinação de todas as poltronas em cinco ou seis graus e isso permitia uma visão perfeita de todos os espectadores, já que quando as fileiras se inclinavam, as da frente não cobriam as de trás. É uma obra de engenharia incrível, parece mentira que no início do século eles tivessem cabeça suficiente para imaginar algo assim e fazer acontecer”, diz Fabbri.
Diferente das principais casas de tango de Buenos Aires em que os turistas compartilham a mesa com outras pessoas, o Piazzolla oferece mesas individuais com boa vista para o show.
Após o saboroso jantar, inicia-se o espetáculo que percorre as melhores e mais importantes canções de tango, acompanhados, é claro, dos mais incríveis bailarinos profissionais, que fazem a noite uma primorosa experiência.
Atualmente a Escola de Dança de PIAZZOLLA TANGO é dirigida pelos melhores bailarinos. Funciona no imponente palco do Teatro, da manhã ao anoitecer, quando chega a hora salão de montar todo para o show da noite. Aqui você pode obter o diploma de dançarino profissional de tango, aperfeiçoar as figuras da milonga ou fazer um curso rápido. Cada nível oferece um certificado.
Hall Central
No subsolo do Palácio, o arquiteto conseguiu criar uma obra-maestra de distribuição, projetando com belas proporções e sob um inspirado conceito artístico, duas grandes salas unidas por um hall central que mede dez metros por trinta.
Teatro Carlos Gardel
“Assumi o lugar em 2011 e mudei o nome do teatro para Astor Piazzolla. Então, no ano passado, decidi converter o salão de festas anexo em outro teatro e chamá-lo de Carlos Gardel. Hoje os dois espaços compõem o complexo Palacio Tango”, que estão localizados no primeiro subsolo do Florida 165.
“A ideia é oferecer dois espetáculos diferentes todos os dias e ao mesmo tempo, um dedicado ao mito de Gardel que retrata a época de ouro do tango e outro dedicado ao gênio de Piazzolla”, continua Fabbri, “oferecendo em cada sala a opção de um jantar ou uma bebida antes do show”.
O Teatro Carlos Gardel mantém seus camarotes e até a varanda original onde tocava a Orquestra das Señoritas. Agora, nessa varanda está instalada a orquestra do espetáculo (composta por dois bandoneonistas, dois violinistas, um pianista e um contrabaixista), junto as cinco duplas de bailarinos, Essa sala, em tempos normais, comporta 220 pessoas.
O próprio Carlos Gardel apareceu neste teatro em 1917. O mesmo ano em que ocorre um acontecimento de singular importância na história da música popular argentina, o poeta Pascual Contursi, com música de Samuel Castriota, compõe a “primeira obra do tango-canção” intitulada MI NOCHE TRISTE. Esta obra é gravada alguns meses depois por Carlos Gardel com o Selo Odeón tornando-se no primeiro cantor nacional a interpretar o primeiro tango com letra, o denominado “tango-canção”.
O salão exibe os detalhes construtivos que o tornaram único: as claraboias com vitrais, os painéis de mosaico e as pérgulas com guirlandas.
O show cobre em 90 minutos mágicos todas as histórias do tango e homenageia ao Zorzal Crioulo com seus melhores trabalhos. Uma mostra artística do mais alto nível e uma produção à altura da personagem homenageado, abrangendo parte da sua obra e também a dos maiores compositores da época de ouro do tango.
Entre os artistas que compõem o elenco podemos encontrar bailarinos de renome internacional e os melhores músicos do gênero. A título de exemplo, entre seus cinco parceiros de dança estão três casais campeões mundiais de tango. A orquestra, o sexteto Virginia di Salvo é formado pelos músicos mais importantes do gênero e as vozes de Ache Rey e Ximena Jimenez deslumbram com sua força juvenil. É importante destacar que o elenco artístico do Tango Carlos Gardel é formado por muitos dos artistas que na época faziam parte da Esquina Carlos Gardel, a mítica casa de tango do Barrio del Abasto que marcou a renovação dos shows de tango em Buenos Aires, pioneiro em seu gênero e líder absoluta de mercado há quase 20 anos. Toda essa experiência, sofisticação e glamour estão hoje presentes no Tango Carlos Gardel, oferecendo um show de hierarquia internacional que viajou o mundo visitando mais de 187 cidades. Nós levamos o show para Mônaco em outubro de 2019, antes da pandemia”, conta Juan Fabbri.
O espetáculo é dirigido pela criadora dos melhores trabalhos de tango dos últimos 25 anos: Dolores de Amo, que contribui com ideia, figurino, encenação e direção geral. Entre algumas de suas criações em sua carreira de sucesso podemos citar: Sueños de Tango, Esquina Homero Manzi, Esquina Carlos Gardel, Solo Tango- The Show, Tango Porteño, Piazzolla Tango, Tango House (EUA) e agora os shows do Teatro Astor Piazzolla e o Tango Carlos Gardel.

Detalhes construtivos dos teatros
Apesar da importância dos detalhes construtivos do edifício, não são eles os mais interessantes e características deste lugar. Tanto do ponto de vista técnico como construtivo, o teatro situado no segundo subsolo é muito superior, com mais de 500 m2 de superfície e que se apresenta perante a vista do observador, harmonioso nas suas linhas e totalmente isento de colunas aparentes e vigas.
Dois feixes gigantescos de 14 metros de luz, por 2,90 m de altura, disfarçam-se longitudinalmente dos dois lados no mezanino do teto, resistindo a cargas, acidentalmente distribuídas, de mais de 120 toneladas: esses feixes são almejados por uma laje grossa que assenta sobre uma série de vigas normalmente dispostas às duas principais.
Graças à aplicação racional do concreto armado, foi solucionado o importante problema que implicava a construção do teatro no subsolo, sem afetar em nada a parte exigida pela estética para a completa visualização desse ambiente. O teto atinge uma altura de 9 metros na sua parte central acima das plateias, dando origem com a amplitude assim obtida, a um belo conjunto tanto do ponto de vista técnico como artístico. É importante acrescentar que esta solução perfeita para o problema proposto foi alcançada sem sacrificar nenhum dos requisitos que a acústica impõe a um espaço desta natureza, destinado a concertos e espetáculos teatrais, etc.
O piso do teatro é constituído por uma gigantesca laje de cimento armado, deslocando-se sobre um eixo transversal central: esta enorme laje monolítica tem uma superfície de mais de 400 m2, o seu peso ultrapassa 100 toneladas e está calculada para suportar uma carga de 450 Kg. por m2.
A superfície ocupada pelo público na plateia e camarotes é de 180 metros quadrados contra mais de 150 que ocupam os corredores. Nas arquibancadas superiores, essa proporção é ainda mais marcante, pois para 75 metros quadrados ocupados pelo público, encontramos 110 de superfície coberta pelos corredores.
As questões de segurança foram contempladas com critérios muito acertados. A saída para o hall, omitindo as de emergência que medem três metros, apresenta uma abertura livre de 8 metros de luz, enquanto a sala oferece uma amplitude de seus corredores: (aqueles que conduzem aos palcos) de 2,10 m de largura. Na plateia, as laterais de 1,20 m permitem que a sala seja evacuada em breves momentos, com facilidade, sem causar congestionamento em nenhum ponto.
As viúvas ocultas
No início do século passado, o luto era um ritual que, em certos níveis socioeconômicos, era levado ao extremo, principalmente nas mulheres. Com a morte do marido, a sociedade ordenava à esposa que abandonasse completamente a vida pública por dois anos. Por isso, havia recintos ocultos fechados com grades para as viúvas e as impediam de serem vistas publicamente.
Uma raridade que, até agora, apenas contemplava o Teatro Colón. Eles podem ser vistos até hoje, nas laterais do agora chamado Teatro Astor Piazzolla, onde todas as noites acontece o jantar e show de tango. “As viúvas entravam por uma espécie de galeria subterrânea”, explica Juan Fabbri, afastando uma cadeira vermelha para mostrar parte daquelas velhas caixas com treliça dourada, cuja faixa superior fica ao nível atual do piso.
A rodagem do filme Evita
No segundo nível da galeria há fotografias dos primeiros anos do edifício e mostra-se o projetor cinematográfico original (marca Ernemann-Werke AG.), com o qual os filmes foram exibidos no cinema-teatro da Flórida.
Desde 1891, Heinrich Ernemann conseguiu estabelecer sua empresa na Alemanha, tornando-se uma das mais importantes da indústria fotográfica mundial. Pesquisa, tecnologia e inovação o levaram a criar a primeira pequena câmera para amadores, logo depois a fabricar a primeira câmera reflex e depois várias patentes e dispositivos para a indústria cinematográfica. Hoje a marca Ernemann subsiste e se dedica à fabricação de projetores de cinema com o mesmo prestígio de seus primórdios.
Curioso é que em 1996 o famoso cineasta Alan Parker, ao saber da existência desse projetor histórico, o pediu emprestado para rodar algumas cenas do filme “Evita”.
fonte:
- https://www.palaciotango.com/
- http://galeriaguemes.com.ar/galeria/
- https://www.lanacion.com.ar/espectaculos/musica/el-ex-piazzolla-tango-reabre-hoy-gran-nid2530226/
- https://teatroastorpiazzolla.com/http://www.acciontv.com.ar/soca/bsas/fotos6/guemes.htm