Museu Nacional Rio de Janeiro: Um triste final

O dia 2 de setembro de 2018 vai ficar marcado na história do Brasil como a data em que o Museu Nacional do Rio de Janeiro foi completamente destruído por um incêndio de grandes proporções.

Localizado na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, Zona Norte do Rio, o prédio abrigava um acervo de cerca de 20 milhões de itens, dos quais mais de 3 mil estavam expostos para o público. O fogo começou por volta das 19h30 de domingo e foi controlado no fim da madrugada da segunda-feira seguinte, no que já é considerada a maior tragédia museológica do Brasil.

Funcionários avaliam que cerca de 90% do acervo em exposição foi consumido pelas chamas.

O museu é o lugar onde se guardam e preservam as coisas que são importantes para a história de um país, assim o museu, cumpre o papel social e educativo de transmitir cultura para a sociedade.

Um pouco de Historia

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O Museu Nacional era a instituição científica mais antiga do Brasil, tendo completado 200 anos há pouco, em 2018 mesmo.

Inicialmente chamado de Museu Real, foi fundado pelo rei Dom João VI em 1818.

O Museu Nacional se beneficiou muito da presença da família real portuguesa que tendo fugido de Lisboa em 1808 continuou governando o país europeu a partir do próprio Rio de Janeiro.

A família real portuguesa só saiu com o fim da monarquia no Brasil, quando aconteceu a Proclamação da República em 1889. Porém, nesses 81 anos de ocupação real e imperial, o Palácio (ou Paço) de São Cristóvão foi palco de eventos históricos de muita importância, como a assinatura do documento que libertava oficialmente o Brasil de Portugal em 1822, o nascimento de Dona Maria II, futura rainha de Portugal, de Dom Pedro II, futuro imperador do Brasil e, posteriormente, da Princesa Isabel.

Abrigou a família imperial brasileira até 1889 e sediou a primeira Assembleia Constituinte Republicana de 1889 a 1891.

Em 1892, Ladislau Neto, então diretor do Museu Nacional que ainda ficava no Campo de Santana, conseguiu que fosse aprovada a transferência da instituição para o Palácio de São Cristóvão.

O palácio foi tombado no ano 1938 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

No ano 1946, o Museu passou a ser administrado pela então Universidade do Brasil, atual UFRJ. Administração que segue até os dias atuais.

ACERVO PERDIDO

  • Biblioteca Francisco Keller, com um amplo acervo de 537 mil livros.
  • Luzia, nome dado ao fóssil humano mais antigo encontrado nas Américas, com cerca de 11 mil anos.
  • A coleção de etnologia africana e afro-brasileira era uma das maiores do mundo.
  • A coleção egípcia do Museu Nacional era considerada a maior da América Latina.
  • O acervo de Botânica também se perdeu. O herbário do museu chegou a ter 550 mil espécimes de todos os biomas brasileiros, que refletiam a riqueza da fauna e flora brasileira, muitas delas espécies estão extintas.
  • Um dos elementos de maior valor é o mais antigo fóssil humano encontrado no Brasil, batizada de Luzia, parte da coleção de Antropologia Biológica. Achado em Lagoa Santa, em Minas Gerais, em 1974, trata-se de uma mulher que morreu entre os 20 e os 25 anos de idade e foi uma das primeiras habitantes do país.
  • Também exposto no saguão do museu estava o maior meteorito já encontrado no Brasil, o Bendegó, com 5,36 toneladas. O meteorito foi achado em 1784, em Monte Santo, no Sertão da Bahia. Na época do achado era o segundo maior do mundo. Atualmente, ocupa a 16ª posição. A pedra espacial parece ser uma dos poucos objetos sobreviventes ao incêndio, integrava a coleção do Museu Nacional desde 1888.
  • A primeira réplica de um dinossauro de grande porte já montada no Brasil. O Maxakalisaurus topai, um herbívoro de 9 toneladas e 13 metros de comprimento, tinha uma sala só para ele.
  • As múmias também estavam entre os grandes destaques do acervo. O corpo mumificado de um índio Aymara, grupo pré-colombiano que vivia junto ao Lago Titicaca, entre o Peru e a Bolívia, abre a série de múmias andinas do Museu Nacional.
  • O Museu Nacional tinha a maior coleção de múmias egípcias da América Latina. A maior parte das peças foi arrematada por D. Pedro I, em 1826.
  • Um dos destaques da coleção de pedras do museu era amostra de quartzo proveniente de Minas Gerais, doada pelo presidente Getúlio Vargas ao museu em 1940.

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Um caso isolado?

Em 2018, o museu não recebeu integralmente a verba de R$ 520 mil por ano para sua manutenção cotidiana. Segundo o reitor, em 2015 foi apresentado um projeto do BNDES para instalação de um novo sistema de prevenção de incêndios, mas o dinheiro atrasou e só foi liberado neste ano. A reforma começaria após as eleições.

Várias instituições culturais sofrem com a falta de manutenção e de investimento, o que demonstra o descaso dos governos com o patrimônio e a ciência.

Infelizmente não é um caso isolado no Brasil. Já pegaram fogo a Cinemateca Brasileira (2016), o Museu da Língua Portuguesa (2015), o Liceu de Artes e Ofícios (2014), o Memorial da América Latina (2013), o Museu de Ciências Naturais da PUC Minas (2013) e o arquivo do Hospital Psiquiátrico do Juqueri (2005). No Rio de Janeiro, em 1978 um incêndio destruiu quase todo o acervo do Museu  de Arte Moderna, com mais de mil obras de arte.

No ano passado,  a Prefeitura do Rio de Janeiro cortou as verbas de manutenção do Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos. O museu, erguido sobre uma enorme cova repleta de ossos de escravos, atraiu 70.000 visitantes em 2016. Este ano, sobrevive com a doação de amigos para pagar itens como luz e material de limpeza.

Em 2017, o Museu Paraense Emílio Goeldi, o segundo mais antigo do país, quase fechou por falta de recursos. A instituição sofreu um corte de 40% da verba, o que ameaçou o funcionamento de suas bases. O museu possui mais de 4,5 milhões de itens sobre a fauna e a flora da Amazônia.

 

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