Museu de Arte Espanhola: “ENRIQUE LARRETA”; Buenos Aires, Argentina

Sobre a Rua Juramento, a uma quadra da Av. Cabildo, no coração comercial e efervescente do bairro de Belgrano, encontra-se esse museu que alguma vez foi o lar do escritor Enrique Larreta.

O Museu Municipal de Arte Espanhol Enrique Larreta vale a pena ser visitado por sua coleção de arte espanhola, mas também pelo casarão que o abriga e seu magnífico jardim de estilo andaluz de 5000 m2, único em seu tipo na América do Sul.

O patrimônio do museu é de cerca de 2.300 peças, das quais agora são exibidas cerca de 230. Em seus quartos, vivem manifestações genuínas da arte espanhola da Era de Ouro, uma alquimia perfeita entre arquitetura, teatro, literatura e cultura espanhola. Alias, devemos adicionar os mais de 10.000 volumes que possui a biblioteca.

A Casa e sua história

Na época da fundação da cidade de Belgrano (1855), essas terras pertenciam a um senhor chamado Vanegas. Mais tarde, eles foram adquiridos por Lauriano Oliver e, após sua sucessão, Francisco Chas e Catalina Salas os compraram. Estes últimos confiaram ao genro, o arquiteto Ernesto Bunge, a construção da casa de veraneio que terminou em 1882.

Ernesto Bunge (1839-1913), filho do banqueiro alemão Carlos Bunge e irmão do futuro prefeito de Buenos Aires Emilio Bunge, realizou seus estudos na Europa, ele aprendeu alemão, inglês, francês, holandês e italiano e recebeu seu diploma na Real Academia de Arquitetura em Berlim, voltando para a Argentina para os 30 anos de idade, nos tempos da fundação do Estado moderno.

Ele foi acadêmico fundador da Faculdade de Engenharia da Universidade de Buenos Aires em 1875. Em 1878 ele consegui receber o título de arquiteto, desta vez em América, sendo, junto com Buschiazzoos dos  primeiros arquitetos da Argentina.

Ele não só desenhou esta casa de veraneio e outras residências em localidades do Gran Buenos Aires (área metropolitana), em seu portfólio de obras tem capelas, escolas, asilos, prisões, hospitais e lares de idosos.

Ele foi sócio fundador da Sociedad Central de Arquitectos, e seu primeiro presidente. Seu filho Jorge Bunge pegou a profissão paterna e se transformaria em um dos primeiros arquitetos argentinos mais próximo ao racionalismo que iria anunciar o começo da modernidade.

Em 1892, a casa foi adquirida por Mercedes Castellanos de Anchorena, que a deu à filha Josefina em 1903, após o casamento com Enrique Larreta. O escritor estabeleceu sua residência estável aqui e projetou as modificações que foram mantidas até agora.

Nele viveu de 1916-1920 com seus filhos e, mais tarde, com seus netos, até sua morte em 6 de julho de 1961. Colocado à venda, o município desta cidade estava interessado em sua aquisição para ser usado como Museu de Arte Espanhola, por suas características de construção e pela origem espanhola da coleção adquirida por Larreta.

Como na atualidade, a fachada estava na Rua Juramento, local de acesso, e portão para carruagens na Rua Vuelta de Obligado. O interior foi organizado em torno de um pátio aberto. Cercado por um quinto com árvores de fruto, tinha uma área total de 7.245 m2.

O aumento do núcleo familiar determinou a construção de um primeiro andar na planta primitiva, além de adicionar um setor de serviços com entrada pela Rua Vuelta de Obligado. Essa delimitação e a incorporação de concreto armado e aquecimento central completam as características e aprimoramentos da arquitetura neocolonial.

A casa foi reformada em 1916 pelo arquiteto Martin Noel, acentuando o estilo original. Uma casa com paredes brancas de janelas ramificadas, possui um belo jardim andaluz, com traços mediterrâneos, com características do barroco espanhol.  Modificada tanto no ornamental quanto no funcional, sua arquitetura é um expoente do estilo neocolonial (1910-1940) que, baseado na busca pela identidade nacional, voltou os olhos para os edifícios hispano-americanos e da própria Espanha, para retomar uma estética de tradição.

Como museu, funciona desde 12 de outubro de 1962.

Museu de Arte Espanhola: “Enrique Larreta”

O roteiro museológico aborda a figura de Enrique Larreta nas muitas facetas que ele interpretou ao longo de sua vida: o escritor (com seu romance histórico: “A Glória de Don Ramiro. Uma vida na época de Filipe II”), o diplomata (sua vida como embaixador da França) e a de um colecionador de arte espanhol entre os séculos XVI e XVII (pinturas, esculturas, móveis, cerâmica).

Precisamente uma das principais atrações do museu é a intenção de recriar uma atmosfera da Idade do Ouro espanhola, com obras medievais, renascentistas e barrocas, muitas delas únicas na Argentina. Refletindo também a diversidade cultural da Espanha na época, convergindo cristãos, muçulmanos e judeus em relativa harmonia.

A decoração recria o renascimento espanhol tanto na área de recepção, como os oito quartos ao redor do pátio coberto

Quando no princípio do século XX Larreta voltou a instalar-se em Buenos Aires depois de trabalhar como diplomata na França, trouxe uma grande coletânea de arte e mobiliário espanhol e peças  religiosas para decorar o seu novo lar.  Ao longo dos anos, o patrimônio original foi aumentando por meio de aquisições, doações e transferências, agregando obras valiosas e perfeitamente integradas à coleção nacional.

As instalações do museu são as seguintes: a partir do Pátio Central e as diferentes salas: a Sala Azul, o Oratório, a Sala Vermelha, secretária, sala de jantar, biblioteca e que foi anteriormente os quartos privados, hoje destinados a exposições temporárias.

Evita_Perón_Eva_Figurino_Vestido_Traje_Patrimônio_Histórico_Buenos Aires_Argentina

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Entre o portal e o interior, há um saguão com escada e fachada plateresca que dá acesso ao salão principal ou ao pátio coberto. Fechadas com um teto mais alto que a galeria, naquela seção foram colocadas janelas com aire-luz, ornamentadas com barras e plantas; recurso retirado das casas da Andaluzia. As capitais dessas colunas têm uma ordem muçulmana.

Como nas importantes salas do século do ouro, com suas características mudéjar, existem tetos com vigas expostas, frisos de gesso, rodapés de azulejos, grades de ferro forjado e portas de madeira trabalhada. Entre a ornamentação mural, destaca-se uma janela de Toledo do século XV.

A primeira sala do museu é a Sala Azul, a oficina onde está localizado o retrato de Larreta, do pintor espanhol Ignacio Zuloaga pintado em Paris, em 1912, (na época, “concorrente” do também conhecido artista Joaquín Sorolla).

As paredes de algumas salas, estofadas em damasco de seda e as amplas cortinas, mostram o papel que os tecidos desempenharam como isolantes térmicos por vários séculos, além de destacar a suntuosidade dos ambientes. Os pisos são de vários materiais e de excelente qualidade.

A sala seguinte, o Oratório, destaca-se o retábulo em honra à Santa Ana do Mestre de Sinovas,( ano 1503, estilo gótico tardio) onde foi batizado, rezou, casou-se e até foi velado. Larreta interessava-se fundamentalmente pelo período renascentista e barroco, e por tanto quase a totalidade das peças expostas são de temática religiosa.

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Também encontramos peças relacionadas com a nobreza, a igreja e com a guerra, com autênticas armaduras e armas de diferentes tipos.

O Jardín Andaluz

Uma das atrações mais interessantes desse museu não se encontra no museu mesmo: trata-se do seu jardim.

O Jardim tem labirintos, trilhas, fontes, esculturas e variadas espécies de vegetação

Este jardim foi encomendado pelo escritor e diplomata Enrique Larreta no meio da década de 1910, como parte da remodelação que fez em toda a sua casa. A quinta com árvores frutíferas que cercavam a casa foi transformada em um jardim de estilo andaluz.

Com o jardim, Larreta procurou representar parte da Alhambra, em Granada, no sul da Espanha, região dominada pelos árabes entre o início de 700 e o final de 1400. Ocupa cerca de 5.500 m2, razão pela qual é considerado um dos jardins muçulmanos hispânicos mais importantes da América do Sul.

Os arbustos criam labirintos de lendas e dividem a terra em quatro, aludindo à terra, água, ar e fogo: os elementos da natureza. Esse desenho, suas espécies, palmas, glicina e laranjeiras, entre outras, característico de todos os jardins espanhóis.

A monumental escultura em granito “De Reojo” (obra de Pablo Larreta)

 A Fonte dos Sapos: Octagonal, é um exemplo de arte muçulmana. A majólica dá o toque espanhol. E o revestimento de mármore de carrara e os sapos dispensadores de água, localizados ao redor.

David: Esta escultura, de autor desconhecido, representa esse caráter bíblico, pisando na cabeça do gigante Goliat.

O jardim conta com numerosos bancos nos que o visitante pode sentar e simplesmente desfrutar

Biografia de Enrique Larreta

Descendente de família patrícia, nasceu em Buenos Aires em 1875, destacou-se como poeta, dramaturgo, romancista e ensaísta argentino. Homem de fortuna, morou em Buenos Aires, em uma luxuosa residência na Rua Juramento, uma magnífica expressão da arquitetura e mobiliário espanhóis.

Enrique Larreta

Pertencente a uma família abastada, ele pôde viajar desde tenra idade na Europa, onde ficou impregnado da cultura literária francesa e recebeu a influência dos autores contemporâneos mais importantes (especialmente as obras de Pierre Lous e Paul Groussac). Ele estudou direito e, uma vez terminado seu vínculo com o mundo das letras foi imediatamente revelado em suas colaborações nas publicações literárias de seu tempo (Caras y Caretas e La Biblioteca)

Seu livro de maior sucesso constitui o romance histórico intitulado La gloria de don Ramiro (1908), reconstrução detalhada da Espanha no século XVI, torná-lo uma das peças emblemáticas da narrativa modernista americana espanhola.

Ele se formou como advogado na Faculdade de Direito de sua cidade natal, tornou-se parte do corpo diplomático de seu país. e depois viajou várias vezes para a Europa em missões diplomáticas ou interesse cultural. Ele ganhou prêmios e decorações no país e no exterior. Em 1919, a cidade espanhola de Ávila designou uma de suas ruas com o nome do escritor argentino.

Restauração 2017

A instituição levou a cabo reformas museológicas importantes em 2017. As obras de melhoramento foram realizadas em parte graças à contribuição do Mecenazgo Cultural e dos equipes demontagem, pesquisa, design, conservação e restauro do Museu, sob a gestão de os diretores anteriores do Museu Enrique Larreta : Nicolás Helft e Delfina Helguera, bem como a intervenção de Patricia Nobilia e Valeria Keller, entre muitos outros profissionais.

Novos sistemas de iluminação e ar condicionado, a construção de uma sala de máquinas, a mudança total do sistema elétrico, a restauração de peças e obras, restauração dos banheiros, reabertura da biblioteca, mudanças nos roteiros museográficos e museológicos (e, como conseqüência disso, inauguração de espaços com exposições permanentes inéditas), são apenas algumas das intervenções realizadas.

Desde a paz do jardim e suas janelas para o caos da Rua Juramento

Museu de Arte Espanhola: “Enrique Larreta”

Endereço: Juramento 2291

 

fonte:

  • www.mibelgrano.com.ar
  • www.buenosaires.gob.ar
  • www.lanacion.com

 

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