A construção da Casa de Câmara e Cadeia determinou a duplicação da atual praça Tiradentes, não só com a demolição da primitiva cadeia mas ainda de diversas casas que comprometiam a visibilidade do edifício mais importante da capital.
A reconstrução de todo o largo, executada em 1797, por José Ribeiro Carvalhais, veio garantir ao museu um espaço acorde com a sua monumentalidade, uma vez que, juntamente com o prédio do Palácio dos Governadores, compunha o centro cívico de maior poder de decisão da Colônia na época.
O programa das Casas de Câmara e Cadeia tinha como finalidade satisfazer necessidades de serviços administrativos e judiciais, penitenciários e religiosos da cidade. Em 1863, diante da necessidade de aumentar o número de celas, a Câmara, que funcionava no andar superior, transferiu-se para o mesmo imóvel em que funciona até hoje.
Em 1938, com a construção da Penitenciária Agrícola de Neves, nas imediações de Belo Horizonte, a antiga Casa de Câmara e Cadeia foi doada à União, sendo destinada a abrigar o atual museu MDINC.
Museu da Inconfidência, Ouro Preto MDINC – (MG)
Para substituir a antiga cadeia de pau-a-pique, o rei de Portugal ordenou, em 1730, a construção de uma nova cadeia de pedra e cal em Vila Rica. Da primeira arrematação para a obra, ocorrida em 1732, não se obteve resultado prático. Coube então ao brigadeiro José Fernandes Pinto Alpoim, engenheiro das obras reais, organizar plantas e apontamentos para uma nova arrematação em 1745.
Fracassados os projetos anteriores, o próprio governador da Capitania de Minas Gerais, capitão-general Luís da Cunha Meneses assumiu o trabalho. A partir do projeto de autoria própria, o prédio, edificado entre 1785 a 1855, constitui um dos mais notáveis exemplares da arquitetura civil colonial.

Para concretizar o audacioso projeto, foi criada uma loteria, mediante licença régia, e estabelecida uma fábrica de cal nas imediações da cidade enquanto mão de obra de prisioneiros, vadios e escravos fugidos, submetidos a trabalho forçado foram utilizadas.
Em 1855, o edifício foi concluído, com algumas alterações no projeto inicial de Luís da Cunha Meneses. Parte da cadeia começou a funcionar desde os primeiros tempos, possivelmente ainda no seu governo, tendo a Câmara ali se instalado ja em 1836.
O projeto original da Casa de Câmara e Cadeia de Vila Rica contemplava todas as necessidades desse tipo de edificação: a torre sineira para convocação do povo, relógio público, salas de audiência e administrativas, cárcere, enfermaria, oratório, cozinha, tribunas, pátios. Não faltavam, no projeto de Cunha Meneses, instalações para o “açougue” ou mercado, localizadas no andar térreo, em área posterior ao edifício, mas que não chegaram a ser construídas.

O frontispício, provavelmente inspirado no Capitólio de Roma, apresenta características inovadoras como a adoção de três colunas, em vez de quatro, para os dois vãos da porta, em contraposição ao rigor da composição neoclássica.
Ao longo de quase seis décadas de construção, o projeto original sofreu algumas alterações, entre as quais a substituição na fachada da varanda de balaústres de pedras pela de ferro, e a estrutura em curvas da torre pela de linhas retas e a da escada em um só lanço pela de dois com patamar.
Estátuas das Virtudes
Nos quatro cantos da platibanda se elevam as figuras de pedra-sabão representando as virtudes cardeais- Prudência, Justiça, Temperança e Fortaleza, cuja autoria é atribuída ao português Antônio José da Silva Guimarães, que as teria entalhado na fazenda do Manso, ao pé do Itacolomi.
Prudência: Colocada à esquerda da parte central, está representada por uma donzela segurando uma serpente. Simboliza a qualidade de quem age com cautela e precaução. Para ser prudente, deve-se especular e, por isso, é natural que essa virtude segure também o espelho (símbolo da verdade e sinceridade), instrumento divinizatório capaz de revelar a verdade para que não haja erros nas decisões.
Justiça: Instalada à direita da parte frontal da edificação, está representada com seus atributos tradicionais: uma donzela segurando uma balança e a espada. Na configuração tradição, a Justiça tem olhos vendados, mas esse detalhe foi omitido pelo artista em Vila Rica. Como inovação, ele apresenta a alegoria com capacete militar. A balança simboliza a pesagem dos atos e do julgamento preciso, sabedoria de quem sabe pesar atos e obrigações. O equilíbrio simbolizado pela balança indica retorno à unidade, fim da desordem. A espada é símbolo destruidor da injustiça, força mantenedora da paz.
Fortaleza: Colocada ao fundo do edifício, à direita, é epresentada por um homem forte segurando a lava. Símbolo da vitória da alma.
Temperança: Situada à esquerda, nos fundos do prédio. O artista idealizou essa virtude como uma criada usando uma touca típica de serviçal, um freio real pendente na mão esquerda e apenas um copo sobre a bandeja sustentada pela mão direita. A Temperança é qualidade de quem é comedido, significando o domínio do desejo, a moderação, a medida. O freio é também símbolo de controle. Os vasos significam a ação de discernir entre o prazer e a medida certa.
Torre sineira: Retilínea e elevada, acentua a verticalidade do prolongamento do eixo central. Colaboram nesse sentido os pináculos que ladeiam a torre, onde estão o sino e o relógio; também o fazem as estátuas situadas nos quatro ângulos do edifício. O relógio que se encontra atualmente na torre foi adquirido pelo senador Rocha Lagoa para a Igreja São Francisco de Paula, da mesma cidade, não se tratando portanto do primitivo relógio da cadeia velha demolida de autoria de Manuel de A. Fonseca Neto.
O chafariz da fachada é o antigo da ponte de Ouro Preto, tendo sido inaugurado no seu novo destino, a 2 de dezembro de 1846, como indica a placa acima existente.

Acervo Museológico – Primeiro Andar
Formado por mais de 4.000 (quatro mil) peças, o acervo do MDINC possui exemplares das mais variadas esferas da vida sociocultural mineira dos séculos XVIII e XIX.
O primeiro piso apresenta a infraestrutura da cidade, das origens até o período imperial. Objetos de construção civil, meios de transporte, mineração, aspectos da vida social e do movimento político da Inconfidência documentam a evolução de um agrupamento humano que iria pensar a independência brasileira. Já o segundo piso revela a superestrutura da criação artística, colocando em evidência a importância da Igreja.
A primeira etapa do projeto de modernização do Inconfidência foi concluída em agosto de 2006, quando o Museu reabriu suas portas. A museografia, a cargo do especialista francês Pierre Catel, assumiu proporções de nível internacional. Três anos depois, a instituição finalizou todo o processo, com a inauguração da iluminação externa.
As 16 salas que compõem o circuito expográfico do museu foram intituladas, em ordem de visitação sequencial, da seguinte forma:
- Primeiro piso: Das Origens; Construção; Transporte; Mineração; Inconfidência; Panteão; Império; Vida Social.
- Segundo piso: Arte e Religião; Triunfo Eucarístico; Associações Leigas; Oratórios; Aleijadinho; Mobiliário; Ataíde; Pintura e Escultura.
Sala Das Origens
A partir da narrativa se percebe que a ideia do museu é demonstrar ao visitante, desde a primeira sala, que o século XVIII mineiro representou um momento de grande desenvolvimento do que viria a ser a nação brasileira, forjando artistas e intelectuais que perpetuam suas influências e despertam interesses e curiosidades nas pessoas até hoje e que a origem de todo o desenvolvimento estaria nos próprios indígenas que habitavam a região no contexto da chegada dos bandeirantes.
Mas apesar da sala ser intitulada Das Origens e da tentativa de valorização dos nativos no painel histórico, poucos objetos dos indígenas são apresentados (urna funerária e lâminas de machados indígenas no período pré-colonial) e o que realmente se impõe e chama a atenção dos visitantes na vitrine são os quadros com imagens da Família Real Portuguesa no contexto da Inconfidência Mineira e objetos da elite da sociedade colonial.

Os senhores da terra, antes da chegada dos portugueses na região, eram os índios Cataguases, os quais foram dizimados e também utilizados como escravos, apesar da proibição legal, complementando a mão-de-obra dos negros africanos e atuando na economia mineradora, na agricultura e/ou nos serviços domésticos.
Os indígenas ajudaram a compor o cenário urbano que se formou nas Minas Gerais colonial. Esses índios, comprados, raptados e barganhados, ou fruto de correrias pelo sertão – sejam os que vieram com os paulistas, os remanescentes de entradas nos sertões ou os fugitivos das aldeias, sejam aqueles que foram desalojados de suas terras – todos engrossavam as fileiras dos “índios coloniais” que passaram a viver nas vilas e lugarejos mineiros, sob a tutela dos seus administradores. Incorporados ao cotidiano colonial, irão ajudar a compor um novo cenário das Minas Gerais Setencentista.
Ainda tem uma figura referente ao encontro entre bandeiras e os índios Guararapes. Embora este encontro possa não ter sido amistoso, a ilustração expressa o contrário. Existem índios e brancos se abraçando, trocando presentes, enfim, se tratando muito bem como se a tomada da terra indígena tivesse ocorrido com tanta diplomacia.
Ao lado dos objetos indígenas encontram-se armas e uma espada, os quais podem remeter ao extermínio que foi também uma consequência da expansão bandeirantista. Soma-se uma urna de eleição do Senado da Câmara de Vila Rica e as varas de juiz.
O retábulo de madeira no local mais alto da vitrine complementa um discurso tradicional de que acima de toda a sociedade estava a Igreja, a obra intitulada Santíssima Trindade, feita por Francisco Xavier de Brito, lembrando a força da Igreja que foi a grande parceira da monarquia portuguesa.
Quatro quadros tem a vitrine, sendo: Dona Mariana Vitória (Rainha de Portugal), Dom Pedro III (Rei de Portugal), Dona Maria I (Rainha de Portugal) e Dom José (Príncipe do Brasil), todos estes obras de João Lopes Maciel e descritos em ordem da esquerda para a direita. Dos personagens da família real portuguesa, destaca-se D. Maria I (1774-1840), Era a filha mais velha do rei José I e sua esposa a infanta Mariana Vitória da Espanha.

Princesa da Beira e do Brasil, foi a primeira rainha em assumir o trono entre 1777 e 1816. Casou-se com seu tio, D. Pedro III, com quem teve D. José, príncipe da Beira e do Brasil, filho primogênito do casal, que faleceu jovem. De 1792 até sua morte, seu filho mais velho e herdeiro João, que futuramente se tornaria João VI de Portugal, atuou como regente do reino em seu nome devido à sua doença mental. A 5 de janeiro de 1785 foi ela quem promulgou um alvará impondo pesadas restrições à atividade industrial no Brasil; como por exemplo proibia a fabricação de tecidos e outros produtos.
A família real de Portugal foge para o Brasil a 13 de Novembro de 1807, assediada pelo exercito de Napoleón. Maria viveu no Brasil por oito anos. Ela morreu no Convento do Carmo, na cidade do Rio de Janeiro, em 1816, aos 81 anos de idade. Em 1821, após o retorno da Família Real para Portugal, seus restos mortais foram transladados para Lisboa e sepultados em um mausoléu na Basílica da Estrela, igreja que ela mesma mandou erguer.
Sala Construção
A narrativa da segunda sala, Construção, deixa perfeitamente claro o caráter evolucionista da história admitida como oficial pelo museu e pretende fazer com que o visitante descubra um pouco do universo das construções civis do século XVIII: Por volta de 1740, Vila Rica passaria a exibir novos elementos construtivos na paisagem urbana. Vencidos os imperativos naturais e as vicissitudes da vida rude e improvisada, as edificações tornavam-se mais apuradas. Os ranchos primitivos cediam lugar a casas de morada, de caráter mais sólido e permanente. Novas técnicas e materiais iam sendo empregados, como a madeira, a pedra, a telha o adobe e o ferro, em substituição ao uso de vegetais e do pau-a-pique.

Casas térreas e sobrados atestavam um sentido de fixação e uma crescente valorização do núcleo familiar, com maior número de aposentos para funções específicas. As fachadas tornavam-se requintadas, mas o interior permanecia simples e despojado. Ruas novas foram abertas e surgiam as monumentais obras civis e religiosas.
Chama a atenção nesta sala objetos que remetem à construção civil no período colonial. É a intenção principal no discurso do museu demonstrar ao visitante que até mesmo a construção na região mineradora sofreu uma considerável transformação e progresso, tal como a sociedade.
Sala Transporte
Permanecendo a perspectiva de transmitir ao visitante uma sensação de que ele acompanha a evolução do século XVIII, a sala seguinte apresenta objetos utilizados no transporte pelos moradores da região mineradora e pelos viajantes. Nesta sala, a vitrine é composta por objetos como armas, selas, esporas, arreios, estribos, caçambas, peças de ajaezamento dos animais e cavaleiros e uma pintura que ilustra o espaço geográfico da região de Vila Rica antes da instalação de pessoas e da exploração intensa. Uma liteira para atrelamento a mulas ou cavalos, baús e arca de viagem também transmitem a sensação ao observador de que, naquele contexto, se locomover de um local a outro era algo bastante árduo e dificultoso.
A liteira, principal veículo de transporte interurbano, e os demais objetos evidenciam que cavalos, mulas e burros eram essenciais na locomoção no período colonial.
É importante destacar que a Coroa exercia uma intensa fiscalização sobre as rotas de comércio na região das Minas, o que tornava a capitania palco de uma zona de conflitos e também de constantes furtos, uma vez que vários caminhos se abriram para ligar as diversas regiões do Brasil às Minas, caminhos estes que foram também um meio para a existência do contrabando. Daí a presença na sala das armas de fogo que ilustram e legitimam a narrativa construída pelo museu no painel histórico.
Sala Mineração
A sala seguinte é denominada Mineração e apresenta aos visitantes elementos que faziam parte da realidade social daqueles que viviam a complexidade da economia mineradora, como balanças, bateia, candeias, cangalha e pepitas de ouro. No centro da sala, uma maquete demonstra as fases e as transformações evolutivas do processo de exploração dos minerais, desde a coleta do ouro de aluvião até a escavação da encosta das serras, fazendo surgir as minas.
O painel histórico desta sala sustenta a interpretação que admite o episódio no qual o mulato Duarte Lopes teria chegado à região dos índios cataguases com a expedição de José de Camargo Pimentel e, ao buscar água, se impressionado com uma pedra preta que em São Paulo conclui-se ser ouro. A partir deste acontecimento, uma série de bandeiras e entradas se dirigiram à região, tendo como referência o Pico do Itacolomi, em busca de enriquecimento através da mineração.

De acordo com o museu, a exploração do ouro era tão fácil que provocou uma onda de migração para Minas Gerais que resultou no esvaziamento das demais regiões da colônia e também na vinda de muitos reinóis para a América. Além dos paulistas, vieram pessoas do sul, do Rio deJaneiro, como vinham antes os baianos, subindo o Rio São Francisco. E os portugueses vieram em tal número, que o governo teve de proibir essas viagens.
A vinda de uma grande quantidade de baianos para a região mineradora provocou um desequilíbrio demográfico, econômico e organizacional entre esta região e outras do país. Assim a Coroa determinou a proibição de exportação interna da Bahia para as Minas, de mercadorias importadas de Portugal, assegurou o suprimento de escravos para o Nordeste ao se estabelecer cotas de entrada de cativos na região mineira, a criação de juntas de julgamento e a nomeação de ouvidores. Mas Minas, no século XVIII, se tornou a unidade mais populosa do Brasil e arrecadar impostos e organizar a sociedade das minas foram os dois objetivos básicos da administração portuguesa no século XVIII.

A sala também traz um painel com um pequeno resumo sobre a Revolta de Felipe dos Santos, mas não propõe uma discussão mais aprofundada do acontecimento. Além disso, a escravidão na mesma está muito reduzida a objetos de tortura e, apesar dos escravos serem personagens fundamentais no desenvolvimento econômico e cultural da sociedade mineira, a instituição pouco apresenta ao público uma percepção dos negros para além da submissão e escravidão.
Sala Inconfidência
Na sala Inconfidência fica evidente a pretensão do museu de criar um imaginário através dos objetos, como por exemplo, ao dispor uma mesa rodeada por um largo banco, com uma intensa iluminação sobre este, a fim de evocar os ambientes de reuniões dos inconfidentes. Os referidos móveis pertenceram à residência do contratador de dízimos e entradas João Rodrigues de Macedo, cuja edificação é uma das mais expressivas da arquitetura civil das Minas e onde atualmente funciona a Casa dos Contos.

Também estão na sala objetos religiosos, remetendo aos clérigos que participaram das reuniões de planejamento do movimento, como o padre Manuel Rodrigues da Costa, obras dos poetas intelectuais da conspiração Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa, o diploma de José Álvares Maciel e o documento de condenação emitido pela rainha D. Maria I, aberto na página específica que descreve a sentença destinada a Tiradentes.
Dois objetos, no entanto, merecem uma análise especial nesta sala que remetem a Joaquim José da Silva Xavier: um relógio e um boticão. Colocados junto a uma reprodução da imagem tradicional do rosto do inconfidente, estes objetos museológicos dão ao visitante a falsa impressão de terem pertencido ao alferes. O detalhe é que este objeto é semelhante ao que era utilizado no século XVIII, mas os estudos afirmam que não há elementos concretos para atribuir a Tiradentes sua propriedade, ainda que hajam grafadas no relógio as iniciais J.J.S.X, não há documentação que realmente comprove esta informação.
Elementos interessantes desta sala e que merecem uma atenção especial são as traves da forca de Tiradentes. Elas estão dispostas de forma a remeter à Via Sacra, formando uma cruz que teria sido, simbolicamente, carregada pelo mártir condenado por aqueles que abusavam e desfrutavam do poder. Condenado à morte como consequência da traição de um amigo próximo, Tiradentes teve sua imagem construída como a do Cristo cívico da nação e Silvério dos Reis passava a ser o Judas do ideal de liberdade. A disposição das traves reforça a intenção do Museu da Inconfidência de sustentar a ideologia construída e firmada no senso comum de que o alferes seria uma figura próxima a de Jesus Cristo devido a suas atitudes que se assemelharam em muitos aspectos.
Panteão
Um corredor propositalmente branco conduz o visitante até a próxima sala, o Panteão, como se a clareza e as luzes das ideias Iluministas conduzisse-o ao coração do museu, à sala sagrada que é concebida pela instituição como o altar dos heróis nacionais, tal como se percebe na imagem abaixo.
A ideia de sacralidade fica nítida ao entrar no Panteão, única sala do museu que não sofreu modificação com a reforma da exposição permanente concluída em 2006. O Panteão se assemelha a um altar sagrado, concebendo os protagonistas da Inconfidência Mineira como os grandes ―heróis‖ e guerreiros da liberdade nacional, detentores de uma sabedoria e espírito nacionalista dignos de inspiração a todos que por ali passam.

As quatorze lápides, onde se encontram os restos mortais dos inconfidentes, foram organizadas contornando toda a sala, de forma que o visitante fique ―acolhido por elas ao entrar no Panteão. Talvez por isso sua disposição e arquitetura tenham sido mantidas intactas com a reforma, não sendo de interesse da organização do museu modificar o discurso criado nas décadas de 30 e 40 e que deu legitimidade à sua criação naquele momento da história.
O Museu da Inconfidência se preocupa em homenagear os conspiradores do final do século XVIII, mas não se atenta em retratar o movimento e instigar o público a discutir este episódio importante da história do Brasil com novas problematizações. A fantasia parece sobrepor-se à realidade ao longo da exposição, mostrando muito mais uma Minas Gerais elitista do século XVIII do que verdadeiramente um núcleo urbano diversificado que compôs a sociedade mineira naquele contexto. E isso pode ser o principal motivo pelo museu ser tão criticado pelos historiadores e demais intelectuais que o analisam.
Além disso, encontram-se na sala alguns ícones que reforçam a ideia religiosa, como um crucifixo sobre a porta de entrada, o lustre semelhante aos das igrejas históricas da cidade, sem falar na iluminação que, de forma contrastante, diminui consideravelmente em relação à sala anterior, a qual possui uma iluminação bastante clara comparada ao restante da exposição e que torna a penumbra do ambiente mais próxima das igrejas mineiras do século XVIII.
Pátio da Cadeia
Ao sair do Panteão, o visitante tem acesso ao antigo pátio da cadeia, onde os presos tomavam banho de sol, e pode visualizar as grossas grades nas janelas das celas e também a antiga solitária do edifício, local de punição aos detentos que apresentassem mau comportamento, a qual foi mantida aberta pelo museu e integra a visitação, certificando que o edifício e sua história também fazem parte do discurso expográfico.
Sala Vida Social
A sala seguinte, Vida Social, propõe uma apresentação de objetos do cotidiano e da diversidade social daqueles que viviam nas Minas Setecentistas, sendo as vitrines compostas por candeeiro, mesa, tinteiro-escrivaninha, vestimenta religiosa, cadeirinha de arruar, castiçais, jogos de mesa e outros objetos. No entanto, a realidade social apresentada pelo Museu da Inconfidência é uma realidade da elite e não pode ser encarada como se fosse comum a toda a sociedade do século XVIII. Na verdade, a camada dos humildes era consideravelmente mais numerosa do que aquela destacada nesta sala.
No discurso histórico do museu, Vila Rica, neste período, se tornou um centro civilizado, consolidando-se uma rede urbana que fez emergir um quadro de civilidade favorável à interação entre as pessoas, à circulação de informações e ideias, à produção intelectual e aos desejos de construção de símbolos e representações. Realmente a elite colonial estava apegada ao prestígio, à exuberância no modo de se vestir e no serviço de mesa. Buscando demonstrar a vida social daquela época, é interessante chamar a atenção para o fato do museu ter novamente conservado uma parte da arquitetura do edifício e a incluir na expografia. É o antigo fogão, a pia e o sanitário do prédio, compondo o sanitário e a cozinha dos antigos detentos. Não havia separação entre estes cômodos porque a proximidade do fogo tinha a intenção de amenizar os odores indesejáveis, revelando hábitos distintos entre o ontem e o hoje, o que torna a visita ao museu sempre mais atrativa.
Sala Império
A sala intitulada Império encerra o circuito que compõe o primeiro piso do Museu da Inconfidência, espaço destinado a relembrar o momento da história nacional em que o país foi governado por um imperador, o que pressupõe uma consequência direta de um passado colonial que se fazia existir no contexto da Inconfidência Mineira. O painel histórico desta sala descreve que com a Proclamação da Independência Ouro Preto foi elevada à categoria de Imperial Cidade em 1823, admitida como centro administrativo, político e cultural, lembrando que naquele contexto a cidade ainda sustentava o título de capital das Minas Gerais, mesmo que vista por viajantes como decadente e exótica.
O museu pretende legitimar os propósitos dos inconfidentes de que a libertação de Portugal traria apenas benefícios para a nação, percebendo os ideais principais da conspiração concretizados em 1822. Teria sido, dessa forma, a influência direta da Inconfidência Mineira, a qual não chegou a ser colocado em prática, a principal incentivadora para a concretização definitiva da Independência do Brasil de Portugal. Porque a visão de que a conspiração mineira tinha caráter nacional não é descartada pelo museu, mas sim sustentada em seu discurso ao longo da exposição.
fonte :
- Lendo o Museu: relações entre a expografia e a historiografia no Museu da Inconfidência – Ouro Preto/MG. Autor: Rafael da Silva Alves. Tese para a obtenção do título de Mestre em História no curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em História da FAFICHUFMG, Linha de Pesquisa História Social da Cultura.
- Museus e Etnicidade – O Negro No Pensamento Museal: Sphan- Museu da Inconfidência – Museu do Ouro, Minas Gerais. Autor: NILA RODRIGUES BARBOSA. Dissertação apresentada ao Programa Multidisciplinar em Estudos Étnicos e Africanos (CEAO), da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia (FFCHUFBA), como requisito parcial para a obtenção do título de mestre em Estudos Étnicos e Africanos.
- www.museudainconfidencia.gov.br
- www.iphan.gov.br
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