MUSEU CASA GUIGNARD em Ouro Preto: Considerado um dos maiores pintores e desenhistas brasileiros do século XX

Alberto Guignard foi sem duvida um dos maiores retratistas da arte brasileira. Através de pinturas, desenhos e objetos o Museu Guignard oferece uma visão ampla sobre a trajetória do mestre. Todo o seu universo de paisagens, retratos, auto-retratos, flores, naturezas-mortas, temas religiosos e outros revelam que Guignard  pintava o invisível como se imerso em estado de sonho.

Como o artista costumava dizer “o Brasil me deu Ouro Preto”. Ele amava e freqüentava muito a cidade, adorava suas igrejas, torres e colinas, o casario esparramado pelas ladeiras. Nunca chegou a realizar o sonho de ter uma casa própria aqui. Mas Ouro Preto tem uma casa especial para Guignard.

Se “o Brasil lhe deu Ouro Preto”. Ouro preto lhe deu o Museu Casa Guignard.

História do Museu

Museu Casa Guignard foi inaugurado no dia 07 de março de 1987. Sua criação decorre de um longo processo iniciado em 1960, ano em que, com o artista ainda vivo, foi instituída a Fundação Guignard. 

Embora o Governo do Estado de Minas Gerais tenha apresentado o projeto de lei de criação do Museu Casa Guignard em 1963, a ideia foi retomada somente na década de 1980, em reconhecimento ao legado do artista e à sua relevante contribuição para a consolidação do modernismo na arte mineira e nacional.

Museu Casa Guignard está instalado na Rua Conde de Bobadela (antiga Rua Direita) nº 110, ponto privilegiado do centro histórico de Ouro Preto. A edificação, datada de inícios do século XIX, integra o conjunto arquitetônico tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN.

A casa pertenceu á família do vice-governador Joaquim da Costa Sena e manteve sua ocupação original de residência particular até o início dos anos 1980 e foi restaurada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA/MG, para atender ao uso como museu dedicado a Guignard, embora o artista nunca tenha residido no local.

Guignard foi um grande retratista. Estima-se mais de 700 retratos e um total de mais de 2.000 obras. Era um pintor compulsivo, como Portinari, pintava o tempo todo.

Em seus autorretratos, não deixa de evidenciar o defeito congênito que acabou aceitando e convivendo com isso, o lábio leporino.

Autorretrato, Guignard (1940) [Coleção Museu Nacional de Belas Artes RJ]

A segunda sala do museu compreende á obra do autor referida a Ilustrações. A sólida formação técnica adquirida por entre 1917 e 1922 na Real Academia de Belas Artes de Munique possibilitou que ele transitasse com desenvoltura pelos mais variados campos do fazer artístico, não se limitando apenas á pintura, seu legado nos traz também importantíssimas contribuições como desenhista e ilustrador gráfico.

Ao longo da sua carreira, Guignard colaborou com vários jornais, na qualidade de ilustrador, principalmente dos suplementos literários, tão importantes na primeira metade do século passado. A mais conhecida dessas colaborações é o chamado “Álbum Guignard”, composto por desenhos feitos pelo artista em suas viagens pelo Brasil, de ilustrações de poemas de textos literários, que o suplemento literário do jornal “A Manha” publicou esparsamente entre os anos 1942 e 1949.

A sensibilidade do artista não se limitava ás artes plásticas, o Mestre Guignard sempre foi um amante da musica. Dentre seus compositores favoritos se destacavam Beethoven, Bach, Handel, Ravel e Debussy. No primeiro andar, a sala com varanda para rua, o catre do século XVIII e o violão lembram que, diante dele, tudo era suporte para pintura.

Cartas para Amalita: um amor platônico

O problema do lábio leporino dificultava sua sociabilidade e o deixava provavelmente muito complexado mais Guignard era uma pessoa muito educada, um homem fino que falava várias línguas, ja que foi educado durante 25 anos na Europa. As Cartas para Amalita refletem a timidez de Guignard para expressar os seus sentimentos.

Em 1932, aos 36 anos de idade, Guignard encantou-se com a pianista paulista Amalita Fontenelle, onze anos mais jovem. Acontecimento que o próprio artista deixou registrado em um cartão: “A folhinha marcava 28 de junho de 1932”, foi uma tarde num concerto do Teatro Municipal de Rio de Janeiro que o cupido fechou o coração do artista.

Vítima de uma timidez atroz, o artista era também platônico em suas paixões e por isso não se sabe se Amalita recebeu este ou qualquer um dos outros 120 cartões que Guignard produziu entre 1932 e 1937, dedicados à pianista ou às irmãs desta, todas moradoras de Campinas (SP).

Aproximadamente 120 cartões foram reunidos em um álbum e doados, ainda em vida, para o poeta Oswald de Andrade. Fato é que esse rico material, encadernado pelo próprio artista, foi parar em São Paulo, nas mãos da neta de Oswald de Andrade e, em 1987, foi adquirido pelo governo mineiro para acervo do Museu Casa Guignard, em Ouro Preto, onde é possível ver a exposição dos cartões originais.

Chafariz de Aleijadinho

No pátio traseiro da casa destaca-se chafariz em pedra-sabão, também tombado pelo IPHAN, cuja autoria é atribuída a Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.

Localizado no jardim do Museu Casa Guignard, é composto por nicho (155 cm de altura, 83 cm de largura e 63 cm de profundidade), escultura da Samaritana (105 cm), peanha, bica, pia e tanque,. As pecas foram esculpidas em pedra sabão e sua vinculação se da pela cartela do chafariz, a qual contorna um rosto feminino e tem a inscrição: AGOA DA SAMARITANA, em maiúscula.

Um dos temas recorrentes na obra de Guignard é o vaso de flores. Neste espaço do jardim da casa museu é exibida uma seleção de reproduções de obras desta natureza, onde é possível apreciar sua intensidade, sua plasticidade e seu rico colorido. Atualmente, a obra de Guignard não só é uma das mais valorizadas, como bate recordes em leilões. Em 2015, a tela “Vaso de Flores” (1930) foi arrematada por R$ 5,7 milhões em São Paulo, sendo a obra mais cara de um artista brasileiro já leiloada.

Exposições Temporárias, Pesquisa e Ação Educativa dinamizam o subsolo do coserão onde funciona o espaço cultural Priscila Freire.

Livro “Passos de Guignard em Ouro Preto”

O destaque da Semana Guignard de 2018 foi o lançamento do livro “Passos de Guignard em Ouro Preto”, fruto de uma pesquisa realizada ao longo de duas décadas pelo coordenador do Museu Casa Guignard, Gélcio Fortes. O livro traz textos e correspondências de amigos de Guignard, como Priscila Freire e Lúcia Machado de Almeida, belas poesias de expoentes da literatura brasileira e depoimentos de moradores de Ouro Preto que conviveram com o artista. Apresenta também imagens de obras e registros de Guignard em Ouro Preto. O design é de Paulo Schmidt, que deu à obra um moderno e requintado acabamento.

Na feitura do livro, que reúne depoimentos e uma série de fotografias de Guignard produzida pelo fotógrafo Luiz Alfredo para a revista “O Cruzeiro”, Fortes revisitou 18 entrevistas de personagens ouro-pretanos. Entre eles, um estudante que recebia Guignard em sua república – como são conhecidas as residências coletivas dos estudantes –, a faxineira que cuidava da limpeza do quarto do pintor, e Gracinda, viúva de Rodrigo Toffolo, um dos proprietários do bar Toffolo frequentado por Guignard. Também conversou com Vandico, um conhecido pintor de Ouro Preto.

Fortes diz que há várias “lendas” em torno do pintor. Boa parte está ligada ao comportamento boêmio de Guignard – o que, de acordo com Perdigão, não é apenas boato, mas algo pertinente. “Guignard nunca teve casa, e o bar era o lugar que ele mais gostava. Lá, além de se sentir menos solitário, ele se sentia uma pessoa querida. Por mais que os outros pudessem vê-lo apenas como um bêbado”, conta o jornalista.

Fortes recorda que Guignard morreu sem habitar a casa comprada por ele em Ouro Preto, pois ela estava em reforma. “Ele a comprou depois de ter assinado um contrato de exclusividade com a Petite Galerie, no Rio de Janeiro, mas nunca chegou a viver nela. O Museu Casa Guignard foi pensado para dar à Guignard a casa que ele sonhou ter em Ouro Preto”. O livro detalha informações e desfia memórias em torno da passagem do pintor pela cidade que marcou profundamente sua obra.

Além desse título publicado agora em dois volumes, outras duas biografias de Guignard estão sendo produzidas por jornalistas mineiros. A primeira, de João Perdigão, deve sair em 2019 pela editora Autêntica. Já a segunda, de Marcelo Bertoloti, deverá ser finalizada em 2020 e será lançada pela Companhia das Letras.

Em sua biografia, João Perdigão pretende abordar a relação do artista com as seis principais cidades onde viveu: Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Ouro Preto, Munique (Alemanha), Florença (Itália) e Paris (França). Outro aspecto que pretende destacar é a relação do pintor com o mercado de arte, que, segundo ele, era complexa. Belo Horizonte era uma cidade em que o mercado de arte era muito incipiente, ele teve muita dificuldade em se inserir e ser respeitado, frisa Perdigão.

A Semana Guignard

O Coordenador do Museu Casa Guignard, Gélcio Fortes, apreciador e estudioso da obra de Guignard, afirma que: “A Semana Guignard já se tornou um evento que a cidade abraçou no mês de junho. Palestras, encontros, oficinas continuam agregando ao redor do artista e do Museu, aquilo que Guignard mais prezava: uma sociedade que convive com arte e através dela a possibilidade da formação integral do cidadão. Como o artista costumava dizer “ o Brasil me deu Ouro Preto”… e a cidade o tem acolhido, orgulhosa de sua presença!”

VIII Semana Guignard em 2019

Em 2019 a VIII Semana Guignard foi realizada no contexto do projeto “Programação Cultural do Museu Casa Guignard”, gerido pela Associação dos Amigos do Museu Casa Guignard e aprovado pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Alem do patrocínio da CEMIG, Fundação de Arte Ouro Preto – FAOP, da Rede de Empresários Ouro Preto, Moradores e Empresários da Rua Direita e conta com o apoio da Guarda Municipal de Ouro Preto e Policia Militar de Minas Gerais.

O destaque da Semana Guignard de 2019 é o lançamento do caderno para “Colorir Guignard”, da jornalista e bacharel em Letras, Patrícia Lapertosa e desenhos do artista ouro-pretano Edson Lana.

O caderno ‘Colorindo Guignard’ traz 16 desenhos para serem coloridos, selecionados entre desenhos, pinturas e objetos que pertenceram ao artista e que integram o acervo do Museu Casa Guignard. Novos cadernos devem ser publicados a seguir, reunindo outros itens do acervo, como as belas paisagens pintadas pelo artista e as fotografias de Guignard quando morador da cidade nos anos 1960.

O Projeto Guignard

A  obra artística de Alberto da Veiga Guignard permanece desconhecida do grande público e poucos, ainda que valiosos, são os estudos críticos realizados por especialistas em arte. A dispersão da maioria de seus trabalhos, em mãos de colecionadores particulares, provável razão da ausência em coleções públicas, e a inexistência de um catálogo raisonné, são questões que têm concorrido para a perda de referenciais sobre Guignard. A essa fragmentação do conjunto da obra somam-se o seu alto custo de aquisição e o reduzido número de acervo do Museu Casa Guignard, o que justifica a adoção de uma política de ação museológica, com a criação de alternativas capazes de ampliar o acesso à vasta produção do artista.

Visando ao maior conhecimento da obra do pintor modernista Alberto da Veiga Guignard (1896 – 1962), iniciou-se, em 2002, o estudo e documentação da sua vida e de sua obra, resultando na formação de banco de dados a ser disponibilizada via Internet, numa parceria entre a Universidade Federal de Minas Gerais (Cecor-EBA, FTC-EBA, NPDI-DCC-ICEx, PHO-CEM-FAFICH) e a Secretaria de Estado da Cultura – Superintendência de Museus – Museu Casa Guignard.

A proposta do Projeto Guignard é disponibilizar um banco de dados digital, por meio de site em rede mundial, com imagens e textos para a consulta pública e ampliada ao conjunto de sua obra. Com esta iniciativa o Museu equipa-se para desenvolver amplo programa de pesquisa sobre o tema, com múltiplas possibilidades de ação educativa e de difusão cultural.

“Projeto Guignard”: banco de dados digital

 

fonte:

  • www.arteeartistas.com.br
  • www.otempo.com.br
  • www.1.cultura.mg.gov.br/
  • Preservação Digital e Estudo da Obra do pintor Guignard, Claudina M. D. Moresi – Anamaria R. A. Neves – Inês A. C. Teixeira – Arnaldo A. Araújo  Clarissa C. Lima.
  • Guignard, A memória plástica do Brasil moderno. Paulo Sergio Duarte
  • Um mundo a perder de vista Guignard, Fundação Iberê Camargo

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