A Casa dos Contos, um casarão de três andares (o último construído juntamente com algumas alas já no século XIX) é realmente bem mais que um museu. Ela é considerada a maior construção particular da Vila Rica de sua época.
Atualmente acolhe um museu, o Centro de Estudos do Ciclo do Ouro. Trata-se de um dos mais belos e amplos edifícios residenciais do barroco mineiro, devendo-se o seu risco ao Mestre Antônio de Souza Calheiros.
Considerada por alguns autores o mais bela exemplar da construção civil de Ouro Preto.
Casa dos Contos, Ouro Preto, 1772-1784
Construída entre 1772 e 1784 por João Rodrigues de Macedo para sede da Casa dos Contratos e sua residência, sofreu inúmeras transformações, embora as suas funções sempre tenham estado ligadas à atividade fiscal e tributária.
O edifício abrigava, além da residência de Macedo (piso superior), a administração dos contratos nas duas lojas que ladeiam sua entrada principal. Igualmente no piso térreo havia dois quartos, em cada ala correspondente às lojas, sendo um destinado à morada de Vicente Vieira da Mota, Capitão da Companhia de Ordenanças de Minas Novas e guarda-livros de João Rodrigues de Macedo empenhando as funções de arrematante dos contratos de entradas e dízimos. Outros quartos serviam de hospedagem de altas figuras da capitania.
Durante o período da repressão à Inconfidência, foi convertido em quartel da Companhia do Esquadrão do Vice-Rei, enviada para garantia do poder colonial, junto com mais duas companhias portuguesas de Infantaria que ocuparam os anexos de morro acima, os quais passaram daí por diante a denominar-se Quartel da Infantaria. Os três quartos disponíveis do piso térreo funcionaram como prisão nobre dos Inconfidentes até 1789. Na cela cuja porta se situava sob o patamar da escadaria monumental, o Inconfidente Cláudio Manuel da Costa suicidou ou foi assassinado naquele ano.
Em 1793, a Junta da Real Fazenda e a Intendência do Ouro (parte administrativa) alugaram de João Rodrigues de Macedo a parte térrea do edifício, passando a funcionar nestas instalações.
Em 1803 o prédio foi incorporado ao Erário Régio porque o proprietário não recolhera à Fazenda tributos arrecadados.
Vem de 1793-1797 o nome que conserva de Casa dos Contos, ou seja, de sede da administração e contabilidade fazendária da Capitania de Minas, a mais importante da Coroa portuguesa.
Em 1820, o edifício foi acrescido do piso superior da ala do córrego, onde passou a funcionar a Casa de Fundição, até então alojada em dependência do Palácio dos Governadores. Em 1840 sofreu acréscimo de toda a ala esquerda e dos pisos 3º e 4º (mirante), destinados a abrigar a Secretaria da Fazenda da Província de Minas Gerais. Com a transferência da capital mineira para Belo Horizonte em 1897, o prédio seria ocupado pelo Correo, Caixa Económica e posteriormente pela Prefeitura de Ouro Preto.
Hoje a Casa dos Contos está sob o controle do Ministério da Fazenda, que nela instalou nas três alas da esquerda um importante órgão de pesquisa, o Centro de Estudos do Ciclo do Ouro.
Alvenaria e Técnicas Construtivas

O estudo dos os processos construtivos e os tipos de materiais aplicados na Casa dos Contos revelam um planejamento cuidadoso do arquiteto da época em realizar um trabalho eficaz e resistente, pois sua localização não era favorecida por se tratar de um relevo extremamente acidentado, desta forma, foram encontradas soluções que conseguiram conciliar a casa com seu entorno.
As casas, geralmente, possuíam apenas a fundação e ou um barrado de pedra. Por outra parte a cantaria é a pedra que, tendo sido afeiçoada manualmente, com o uso de ferramentas adequadas, apresenta-se pronta para ser utilizada em construções e equipamentos. Atua como elemento estrutural ou como ornamentação e, muitas vezes, atende às duas funções. As alvenarias de pedra, brutas ou aparelhadas, secas ou argamassadas, foram largamente utilizadas na Colônia, tanto por sua abundância como pela resistência às intempéries. Resultava em muros ou paredes de grande largura, podendo atingir alturas superiores aquelas de outras técnicas menos resistentes.
A Casa dos Contos foi construída em alvenaria de pedra, a fachada principal é enquadrada por cunhais, de seção ondulada e barroca, a varanda lateral é composta por painéis treliçados, almofadados e com balaústre. No bloco principal foram construídas vedações em madeira, em adobe e pau-a-pique.
As técnicas construtivas do período colonial utilizadas na construção da Casa dos Contos são bem notáveis, como as esquadrias de abertura à inglesa e guilhotina, o piso de tabuado corrido em seu interior e também o calçamento pé-de-moleque e lajeado aplicado nos pisos externos da casa.
Fachada
O prédio apresenta fachada frontal composta por cunhais em cantaria e cimalha. Sob esta, na parte superior, nove sacadas guarnecidas por grade de ferro, com cimalha em moldura, sendo de maior balanço a central.
Na parte inferior, possui uma porta guarnecida de pedra de cantaria correspondente a cada sacada. A porta principal situada no centro, possui artístico pórtico de pedra lavrada.
Nos primeiros séculos, o vidro era artigo de luxo, os mais custosos ornamentos no interior do Brasil. O primeiro a fazer menção de vidros em janelas foi o viajante sueco Johan Brelin, em 1756.
Era comum, nas janelas, o uso de postigos, pequenas portinholas fixadas nas folhas principais, para auxiliar na iluminação e mesmo para vigia. Em relação ao funcionamento das esquadrias, o mais comum era a abertura segundo um eixo vertical – abertura à francesa, ou horizontal, que hoje chamamos de basculante. No século XVIII tornam-se comuns as janelas de guilhotina, ou abertura à inglesa, utilizadas na Casa dos Contos.
Com a finalidade de aumentar a luz do compartimento, as laterais dos vãos eram chanfradas ou ensutadas. O acabamento das janelas poderia ser de madeira, ou nas construções mais sofisticadas, de cantaria de pedra. Quando de cantaria, as vergas podiam receber cornijas.
Cobertura
A fachada principal esta enquadrada por cunhais de seção ondulada e barroca; e seu telhado composto por telhas de barro, formado por várias águas.
Com o início efetivo da colonização e a crescente necessidade de construções mais duradouras, implantaram-se as olarias para produção não apenas de tijolos, mas das telhas capa-e-bica ou capa-e-canal,verdadeiro marco da arquitetura colonial. A modernização da técnica no Brasil colonial ocorreu com a ajuda dos padres jesuítas, que transformam o rudimentar processo numa produção seriada, quando introduziram o uso dos tornos e das rodadeiras.
As telhas eram dispostas sobre os madeiramentos predominantemente em duas águas, principalmente nas construções urbanas. Porém alguns elementos agregavam-se, com relativa frequência, aos telhados coloniais: águas furtadas, camarinhas ou torreões.
A estrutura de assentamento das telhas era sempre de madeira. As tesouras mais utilizadas eram a tesoura de linha suspensa, ou canga de porco e a tesoura de Santo André; mais raramente a tesoura paladiana. A tesoura romana seria mais comum a partir do século XIX.

Os beirais (projeção do telhado para fora do alinhamento da parede) sao muito importântes na proteção das paredes, na condução das águas de chuva e na linguagem estética. A própria existência dos beirais é uma das características dos edifícios coloniais. Os beirais protegiam da chuva as paredes de taipa ou pau-a-pique. A forma característica de mudança de inclinação das águas, que tem o nome de galbo, tinha a finalidade de projetar a água para mais distante.
O prédio já passou por uma restauração completa. No processo, foram encontradas algumas pinturas debaixo de forros e em paredes e algumas estruturas e detalhes arquitetônicos anteriormente perdidos. Dentre as modificações feitas no prédio durante a restauração estão modificações no telhado que buscaram reforçá-lo e, ao mesmo tempo, manter a aparência original. Foram instalados pára-raios, tensores, extintores de incêndio, passarelas e iluminação sobre o telhado.
Ponte San Jose
A primeira ponte de pedra de cantaria a ser edificada foi a de São José, que transpõe o córrego de Ouro Preto ou do Xavier. Arrematada por Antônio Leite Esquerdo, a construção teve início em 1744, com término no ano seguinte.

Essa obra foi arrematada pela quantia de quatro mil cruzados e cento e cinqüenta mil réis,vindo a sofrer um acréscimo que custou mais 650$000 mil réis. Os pagamentos seguiam o ritual costumeiro de três parcelas, sendo uma no início da obra, outra quando o arco da ponte estivesse terminado e a última quando os avaliadores verificassem a adequação da obra executada ao risco fornecido pela Câmara.

O Córrego de Ouro Preto ou do Xavier é uma espessa mata que acompanha o cause de um pequeno rio de montanha. Algum tempo atrás funcionava uma trilha turística que nascia lá acima, o portão principal esta bem perto da rodoviária, logo atravessando a ponte o percurso finalizava na Igreja do Pilar.

fonte:
- Técnicas construtivas da Casa dos Contos no período colonial – NEUMANN, Pamela Nicole1 MASTELLA, Jorge2 NASCIMENTO, Méri Farias do 3 PIETRO, Pablo de 4 MANTOVANI, Paula Renata Albrecht5 MELLO, Cláudio Renato de Camargo6 Unicruz – Universidade de Cruz Alta (1)
- À Sombra do Contratador – Ensaio historiográfico sobre a administração colonial e o poder nas Minas Gerais em fins do século XVIII – Fonseca, Paulo Miguel Moreira da – UERJ (2)
- http://portal.iphan.gov.br/