MUSEU CASA CARLOS GARDEL: Sua primeira e única casa em Buenos Aires – Parte I

Localizado no tradicional bairro Abasto de Buenos Aires, o Museu Casa Carlos Gardel tem como objetivo homenagear o cantor de tango mais importante de todos os tempos, o principal embaixador mundial do tango.

Em 1927, Gardel comprou a casa onde moraria com sua mãe Berta. Anos depois, o cantor decidiu viajar para a França e os EUA, após a morte de sua mãe, a casa foi deixada para o último representante de Gardel. Depois de funcionar como “La Casa del Tango” durante a década de 1980, em 2003 a casa foi convertida em museu.

Gardel: sua primeira e única casa

Em Toulouse, no final do século XIX, a maioria dos nascimentos ocorria em casas de família, mas no caso de mulheres sozinhas ou rejeitadas por suas famílias era comum elas terem seus filhos em hospitais.

Marie Berthe Gardés deu à luz um filho chamado Charles Romuald Gardés em 11 de dezembro de 1890, no Hospice de Saint-Joseph de la Grave, filho de um pai desconhecido, conforme registrado na certidão de nascimento exibida no museu. A incompreensão de sua família em relação ao status de mãe solteira e a crise econômica em Toulouse levou Berthe a procurar um futuro melhor longe de sua terra. Argentina foi o destino escolhido. O navio Don Pedro partiu em 14 de fevereiro de 1893 do porto de Paulliac e chegou a Buenos Aires em 11 de março de 1893. Aos 2 anos de idade, essa foi a primeira de muitas viagens que Gardel faria durante sua vida.

Sempre houve divergências em relação ao local de nascimento de Gardel: Argentina, Uruguai ou França?

Depois de dez anos coletando documentação e entrevistas nos três países, um grupo de pesquisadores deu com a certidão de nascimento do “Zorzal Criollo” e a publicou no livro “O Pai de Gardel”. Uma prova irrefutável derrubou todas as teorias e é exibida no museu: sua certidão de nascimento do registro civil de Toulouse, na França.

O que também é certo é que, durante a infância e a adolescência, Gardel viveu em casas muito pobres chamadas “conventillos”, localizadas no bairro de San Nicolás: primeiro na Rua Uruguai 162 e depois na Rua Corrientes 1553. Com sua primeira renda como músico profissional em 1914, ele se mudou, sempre com sua mãe, para um apartamento modesto na Rua Corrientes, 1714.

O bairro onde Gardel cresceu é a área dos teatros de Buenos Aires, que tem seu eixo na Rua Corrientes, depois transformada em avenida. Isso permitiu que, desde muito jovem, estivesse em contato com o mundo teatral. Muitos anos antes do alargamento da rua para convertirla em avenida (período 1930-1950).

Naquela época, quando adolescente, ele começou a freqüentar o bairro Abasto, um bairro popular recentemente organizado em torno do então novo mercado, aberto em 1893. Gardel foi convidado por um grupo de jovens a participar da turma no café O’Rondeman, que ficava na esquina das ruas Agüero e Humahuaca, propriedade dos irmãos Traverso.

Gardel começou a cantar semi-profissionalmente no café dos Traverso e no comitê político conservador de Anchorena 666. Anos depois, em 1927, mudou-se com a mãe para uma casa que comprou exatamente na virada do comitê, atualmente o Museu Casa Carlos Gardel, localizado na rua Jean Jaurés 735, foi sua primeira e única casa própria.

Museu Casa Carlos Gardel: História

Jean Jaurés 735

Gardel comprou a casa de Jean Jaurés 735, de seu proprietário anterior, Don Ramón Gorina, e pagou 50 mil pesos, 35 mil deles como hipoteca. Isso aconteceu em 9 de junho de 1926, cinco dias antes do aniversário de Dona Berta Gardès (61 anos), cumprindo assim o sonho de sua primeira casa. Lá ele viveu seis anos acompanhado por sua mãe Berta, até 7 de novembro de 1933, quando partiu para a França, morrendo em 1935 sem ter retornado a Buenos Aires.

É possível conhecer algumas das construções que existiam anteriormente na propriedade, graças aos planos que fazem parte do arquivo do museu. A de 1904 mostra uma casa modesta de um andar, sem janelas à frente, com uma porta que leva diretamente a um pátio, que por sua vez leva a quartos simples, uma pequena cozinha e um banheiro.

O plano de 1915 registra uma construção muito diferente, também em termos de uso. É um bordel (casa de prostituição) que já tem um segundo andar. Mas as nove salas estreitas, logicamente incomunicáveis, estão dispostas em uma fileira, com acesso a partir do pátio. No final, um banheiro e subindo as escadas, uma cozinha e outras salas que seriam do pessoal que atendia às instalações.

Finalmente, encontramos o plano de 1921 que pertence à casa construída pelo Sr. Gorina. Esse era certamente o plano da casa onde Gardel e sua mãe moraram. A casa de Jean Jaurès virou a casa de Carlos Gardel e sua mãe Berta desde 1927, quando eles terminaram de mobiliar, decorar e colocar cortinas feitas à mão e outros detalhes. Em 1929 foram morar na casa a querida amiga de Berta, Anaïs Beaux e seu parceiro, Fortunato Muñiz. Dessa forma, Gardel poderia passar longos períodos no exterior, com a tranqüilidade de que sua mãe estava bem acompanhada.

No entanto, Dona Berta também começou a viajar e passar longos períodos na França com sua família. Foi assim que muitas vezes os únicos ocupantes da casa foram os “tios” de Carlitos, como Gardel gostava de chamar de Dona Anaïx e Don Fortunato.

Em 1935 a mãe de Gardel retornou ao país desde Toulouse, onde se encontrava de viagem, depois de conhecer a trágica morte de seu filho em Medellín, Colômbia, e esperou o fim de seus dias acompanhada primeiro pela sua amiga Anaïs e Fortunato. e mais tarde pelo casal de Armando Defino e sua esposa Adela Blasco, que a consideravam mãe própria e a acompanharam até o dia de sua morte, em 7 de julho de 1943. Naquela época, a casa passou para Armando Delfino; amigo, administrador e representante de Gardel. No mesmo ano, Defino fez uma doação de objetos pertencentes a Gardel a duas instituições relacionadas à atividade que ele havia desenvolvido em sua vida, La Casa del Teatro e o Instituto Nacional de Estudos Teatrais (INET).

Em 1949, Defino vendeu a casa. Desde então, teve vários proprietários e desde 1973 até os anos 80 funcionou uma milonga, local de canto e dança de tango, administrado pelo gerente de futebol Virgilio Machado. Foi então que a aparência da casa mudou notavelmente. Para servir aos usos da milonga “Casa de Carlos Gardel”, foram removidas as paredes que dividiam os cômodos e o pátio, deixando um amplo espaço livre para a dança e a orquestra, com visitas guiadas.

Depois de diferentes proprietários – o último foi Bernardo Susember, que queria demoli-la -, então a empresa Corporação América a comprou em novembro de 1996. Finalmente em 2000, a propriedade foi transferida para a Direção Geral de Museus da Cidade.

Em 4 de março de 2003, o governo da cidade de Buenos Aires inaugurou este museu completamente restaurado e dedicado a preservar e espalhar a memória de quem é sem dúvida o músico argentino mais reconhecido e amado.

Visita ao Museu Carlos Gardel

O Museu Casa Carlos Gardel é um espaço que resgata, preserva, exibe e divulga o patrimônio cultural que representa seu trabalho. Propõe-se abordar a figura de Gardel como artista e ser humano através de um tour pela casa onde transcorreu parte de sua história e momentos de sua carreira artística.

A exposição permanente abrange vários aspectos da vida e obra do artista, incluindo sua infância, seu início como cantor, apresentações, discografia e filmografia.

A primeira sala é dedicada aos primeiros anos de vida de Charles Romuald Gardès. Sua cidade natal, Toulouse, a chegada a Buenos Aires com sua mãe Marie-Berthe Gardès, ligada de alguma maneira ao fato de ser mãe solteira, algo que sua família nunca aceitou.

A segunda sala é dedicada à sua discografia, propõe um tour cronológico de 893 gravações, o que permite apreciar a evolução e a ductilidade interpretativa de Gardel ao interpretar diversos gêneros. O crescimento interpretativo, aliado à busca por inovações técnicas, o levou sempre a melhorar a qualidade do som de suas gravações.

O salão destinado à sua última turnê refere-se ao momento de consagração e sucesso internacional, quando Gardel empreendeu uma viagem artística pela América Latina que foi tragicamente interrompida pelo acidente de avião em que ele perdeu a vida. Lá, um material inédito é projetado onde Gardel pode ser visto momentos antes de entrar no avião, em Medellín. Em 24 de junho de 1935, seu avião rolou e colidiu com outra aeronave que estava na pista. Gardel e outras 17 pessoas perderam a vida.

O documentário dos irmãos colombianos Acevedo (considerados pioneiros no cinema de seu país), pertencente à Fundação do Patrimônio Cinematográfico da Colômbia, e outro do Arquivo Geral da Nação de Argentina, com o massivo e comovente funeral na Avenida Corrientes, em Buenos Aires. Por outro lado, há um grande poncho que foi doado pelo Círculo Tradicional de Legalistas e Pampeanos, do qual ele era membro.

Filme mudo “Flor de Durazno” de 1917.

A sala dedicada à Filmografia divide o espaço com a exposição temporária denominada o Abasto de Carlos Gardel, que ilustra o bairro, as mudanças vertiginosas e os problemas sociais da grande cidade (antes, naquele espaço, havia dois quartos e um banheiro). Você pode ver pôsteres, fornecidos pelo Museu do Cinema, os primeiros curtas-metragens sonoros e as produções que Gardel fez para a gravadora Paramount.

O pátio coberto é o último ambiente do percurso pelo museu, reúne obras de artistas contemporâneos que refletem diferentes visões do bairro de Abasto. O acesso ao primeiro andar por uma escada lateral esta impedido, pelo menos no dia da minha visita ao museu.

Percorrer a vida e a carreira artística de Carlos Gardel aproxima os visitantes da riqueza musical de um artista único que alcançou projeção internacional.

GARDEL ARTISTA

A dupla “Gardel – Razzano”

No início da segunda década do século XX Carlos Gardel (chamado O Zorzal Crioulo) conhece o uruguaio José Razzano (chamado O Oriental). Em suas memórias, Razzano localiza essa reunião em 1911, na casa de um amigo localizado na rua Guardia Vieja, a poucos metros do Mercado de Abasto. Anos depois, essa parte da rua, entre Jean Jaurés e Anchorena, será renomeada como Pasaje Carlos Gardel. A dupla Gardel-Razzano junto a sua turma de amigos estabelecem sua base no bar Café de los Angelitos.

Em 1914, Gardel e Razzano foram contratados para cantar no suntuoso cabaré de Armenonville, em Buenos Aires, por um cache de 70 pesos por noite, uma quantia inesperada que Gardel confundiu com a retribuição quinzenal. Alguns dias depois, o famoso Pablo Podestá os contratou para cantar por duas semanas no show que estava prestes a ser lançado no Teatro Nacional, sua primeira apresentação na Rua Corrientes.

Em meados de 1915, eles foram contatados pelo empresário uruguaio Manuel Barca, que havia ido a Buenos Aires para contratá-los para atuar em Montevidéu. Os jovens receberam a oferta incrédula e insegura. O proeminente historiador de Montevidéu Julio César Puppo (Aquele mundo do baixo, 1966), conta esse encontro da seguinte forma:

  • Aí vem Gardel: ele é um garoto gordo e redondo.
  • ―Gardel: “Pelo menos teremos que voltar para Buenos Aires?”
  • ―Quanto você quer ganhar? Ele pergunta.
  • Os homens se entreolham, meditam por um momento, após o qual Razzano fala:
  • ―”Francamente, me diga: cinquenta pesos por dia é pedir demais?”
  • ―”Você não sabe o que eles valem!” – responde Barca. E o acordo foi fechado.

Montevidéu os recebeu como se fossem celebridades, com cartazes com seus retratos na cidade e um programa de atividades que incluíam o recebimento no porto, entrevistas com a imprensa e uma performance reservada a pessoas influentes. Em 18 de junho, eles estrearam no Teatro Royal, o teatro estaba cheio, e pela primeira vez o público pediu que repetissem as músicas gritando “Canta mais um, Carlitos”. Puppo diz que, no final do show, Gardel começou a chorar de emoção no camarim. Desde então, Gardel se sentia em casa em Montevidéu, com sua própria turma de amigos, no final de seus dias, ordenou a construção de uma casa onde não chegou a morar devido ao acidente que o custou a vida.

Gardel no Brasil

Poucos dias depois, seu status de indocumentado o levou a fornecer informações falsas para obter documentos que lhe permitissem viajar para o Brasil, em uma turnê da Compañía Dramática Rioplatense liderada por Elías Alippi, na qual a dupla era responsável pela realização do fim da festa. No navio, ele conheceu o cantor de opera napolitana Enrico Caruso, que elogiou a voz de Gardel, mas a apresentação da empresa em São Paulo e no Rio de Janeiro não conseguiu superar a barreira do idioma, embora o desempenho da dupla tenha recebido elogios da imprensa brasileira. Para pior, Gardel foi preso pela polícia brasileira quando foi encontrado na companhia de criminosos argentinos que se estabeleceram lá. A partir do arquivo formado para processar a documentação, também emergiu que Gardel tinha um histórico como golpista de pequeno porte por realizar “histórias do tio”. Esses dados bloqueariam anos depois o projeto de nomear a Avenida Corrientes com seu nome.

O  Sucesso Artístico

Em 1917, Gardel cantou e gravou um tango pela primeira vez. Foi o tango “Minha noite triste”. A interpretação de essa musica, com a letra cheias de giras lunfardas que fala de um homem interiorano abandonado por sua esposa («Percanta que me amuraste »), é considerada a data de nascimento da música tango: após décadas de evolução , o tango instrumental começou a encontrar cantores e letristas capazes de interpretar a mesma cadência emocional que já expressava a música e a dança do tango. A voz e o jeito de cantar de Gardel também evoluíram quando ele se tornou um cantor de tango.

Em 1920, conseguiu, perante o consulado uruguaio em Buenos Aires, uma certificação de nacionalidade e uma carteira de identidade, onde ele declara ter nascido em Tacuarembó, Uruguai, em 1887. Em 1923, com os documentos uruguaios obtidos, solicitou a nacionalidade argentina, concedida imediatamente, emitindo o passaporte argentino que ele usaria para viajar pelo mundo.

Em 1923, a dupla Gardel-Razzano tem a oportunidade de fazer sua primeira turnê pela Europa, pontualmente na Espanha. Como estratégia cênica derivada do estereótipo internacional da Argentina, empresários teatrais insistiam que os músicos se apresentassem vestidos de gaúchos, embora em Buenos Aires se vestissem de smoking. Por esse motivo, antes de partir, uma série de fotos foi tirada em Montevidéu com o fotógrafo José María Silva, disfarçado de gaúcho.

Em setembro de 1925, após 12 anos cantando juntos e devido a uma lesão na laringe de Razzano, a dupla decide se separar passando Razzano a desempenhar funções de manager.

Enquanto isso, como solista, Gardel viajou pela Europa, tocando novamente na Espanha (1925/1926 e 1927) e depois na França (1928/1929).

Em 1927, Gardel compra para ele e sua mãe, sua primeira e única casa, localizada na Rua Jean Jaurés 735, uma casa simples no coração de seu bairro espiritual, El Abasto. No final de 1927, Gardel iniciou uma nova turnê pela Espanha, a terceira, tocando em Barcelona, ​​Madri, Bilbao e Santander, com um grande sucesso. Antes de retornar a Buenos Aires, Gardel passou por Paris, onde fechou um contrato para dar show em Paris, na segunda metade de 1928.

Sua estada em Buenos Aires foi breve e, depois de gravar vários álbuns (entre os quais o primeiro sucesso do Discépolo «Hoje à noite fico bêbado»), de cantar pela rádio Prieto, atuando no Teatro Solís em Montevidéu, navegou novamente pela Europa, desta vez com destino a Paris.

 

Depois de se apresentar seis meses em Paris, Gardel atuou por mais um mês em Barcelona e Madri, antes de retornar a Buenos Aires, onde chegou em 16 de junho de 1929, nove meses após sua partida.

Ele ficará em Buenos Aires por um ano e meio. Nesse período, ele apareceu em Buenos Aires e Montevidéu, fez uma extensa turnê pelas províncias argentinas, cantou na Rádio National, passou por uma pequena operação em suas cordas vocais.

Gardel e o Cinema

Em 1930, Gardel protagoniza quinze curtas-metragens musicais, cada uma em uma música, dirigida por Eduardo Morera e produção por Federico Valle, um dos pioneiros do cinema latino-americano. Valle nasceu na Itália em 1880 e, depois de trabalhar com os Irmãos Lumière e frequentar aulas com Georges Méliès, emigrou para a Argentina em 1911 e desde então produziu dezenas de grandes obras cinematográficas, incluindo as primeiros notíciarios e longas-metragens de animação de Quirino Cristiani, os primeiros da história do cinema mundial do gênero. Dos quinze curtas-metragens, cinco foram arruinados em laboratório.

 

Alega-se que os curtas-metragens de Gardel foram os primeiros videoclipes da história do cinema e a primeira produção de filmes sonoros com uma trilha sonora incorporada ao filme (sistema Movietone) da Argentina e, eventualmente, da América Latina.

Tal era – e continua sendo – sua fama mundial que, em 1930, um de seus curtas-metragens, El Carretero, estrelou a primeira transmissão da BBC em Londres e a segunda no mundo, depois da americana. O mesmo aconteceu em nosso país no ano seguinte, quando a primeira transmissão de televisão de teste foi feita com a exibição do curta Velho Smoking, estrelado por Gardel.

Em 1933, Gardel terminou de romper seu relacionamento com Razzano por diferenças econômicas, agravadas pela desordem em suas contas e dívidas. Ele então nomeou como representante a Armando Defino, um de seus amigos do bar Café de los Angelitos, antes de ser famoso.

Em setembro de 1933, ele conheceu Hugo Mariani no rádio, um uruguaio que vivía em Nova York há anos, onde criou e dirigiu a Orquestra Sinfônica da National Broadcasting Corporation (NBC), e até tinha um programa chamado O Tango Romantico. Ambos simpatizaram imediatamente e Mariani propôs ir a Nova York para cantar para a NBC. Alguns dias depois, o contrato chegou.

Na noite de 7 de novembro de 1933, Gardel partiu para a Europa no navio Conte Biancamano, antes de ir para os Estados Unidos. De manhã, Defino, seu representante, pediu que ele escrevesse um testamento ológrafo (isto é, escrito à mão), atualmente exposto no Museu Carlos Gardel. Esse foi o último dia de Gardel em Buenos Aires.

Em suas apresentações de rádio em Nova York, Gardel dispensou seus guitarristas, exceto a audição de 5 de maio de 1934, na qual cantou em Nova York, sendo acompanhado pelos violões de Barbieri, Vivas e Riverol, que estavam em Buenos Aires, através de uma ligação entre a NBC e a Rádio Rivadavia LS5 de Buenos Aires, fato inédito na história do rádio.

Nesse mesmo ano, ele faria dois filmes: Cuesta abajo e El tango na Broadway, deixando claro que não iria repetir a imposição européia de que os personagens deveriam se vestir de gaúchos. Entusiasmado com o sucesso dos filmes de Gardel, a Paramount decidiu gravar mais dois filmes em 1935, que seriam seus últimos filmes: El día que me quieras e Tango Bar, o último filme de Gardel.

Gardelmanía e a turnê latino-americana

Os filmes americanos de Gardel finalmente consolidaram um fenômeno de idolatria popular no público de língua espanhola. Com o sucesso dos seus últimos filmes começou a “Gardelmanía”. Os homens imitavam o Gardel, usavam o chapéu inclinado para o lado como ele, e alguns até falaram de “vos” e “che”. Todo mundo queria aprender a dançar tango.

À meia-noite de 28 de março de 1935, Gardel deixou Nova York no iate Coamo para iniciar sua turnê na América Latina por Porto Rico, Venezuela, Aruba, Curaçao, Colômbia, Panamá, Cuba e México. Gardel chegou a Porto Rico em 1º de abril às 5 da manhã. Mais de quarenta mil pessoas estavam esperando por ele no porto. Esperava-se que Gardel ficasse dez dias, mas ele ficou 26 dias. Houve 26 apresentações que incluíram não apenas a cidade de San Juan, mas também Humacao, Mayaguez, Ponce, Rio Piedras, Manatí e Arecibo, entre outras.

Carlos Gardel em Puerto Rico

Gardel conquistou os porto-riquenhos por sua simpatia e simplicidade. Em várias ocasiões, vendo que muitas pessoas não puderam participar de suas apresentações, cantava na praça da cidade. Ele até pediu a Rafael Ramos Cobián, o empresário que o levara à ilha, para baixar o preço das bilheterias “porque queria estar disponível para todos”, e isso em detrimento do próprio bolso. Em Buenos Aires, nas oportunidades em que não podía cantar por causa de problemas na garganta, Gardel chegava ate o palco para com sua presença tentar calmar a  ansiosa platéia.

Em 23 de abril, no cruzeiro Lara, o grupo partiu para La Guayra, Venezuela. Eles chegaram no dia 25 de manhã e novamente uma multidão os esperava.

Após aquela recepção formidável, Gardel e sua comitiva viajaram de trem para Caracas. Em Caracas, milhares de mulheres, principalmente adolescentes, tentaram abraçá-lo e beliscá-lo e até o capô do carro em que ele estava foi destruído pelas pessoas para conseguir vê-lo passar. Na Venezuela, ele passou quase um mês e realizou cerca de vinte apresentações, não apenas em Caracas, mas também em Valência, Maracaibo e Cabimas.

Em 23 de maio, Gardel chega a Curaçao, onde se apresentou cinco noites. Lá, ele doa a um grupo de exilados venezuelanos a soma de dez mil bolívares, dinheiro que o presidente venezuelano Juan Vicente Gómez havia lhe dado.

Eles planejavam fazer isso em um hidroavião, mas no final estavam em um barco que navegava em um mar em movimento. Em Aruba, Gardel fez uma única apresentação e retornou a Curaçao de avião.

Em 28 de maio, ele chegou a Aruba onde fez uma única apresentação, e onde o público o tirou do palco e o levou pela cidade. Nessa situação, Gardel conseguiu convencer as pessoas a levá-lo ao quebra-mar do porto onde embarcou no avião que o levaria de volta a Curaçao.

Em 2 de junho, Gardel chegou à Colômbia, local do acidente fatal. Em Bogotá, mais de dez mil pessoas invadiram a pista no momento do pouso.

No día 24 de junho, Gardel e seus companheiros deveriam continuar a turnê em Cali. Para isso, eles pegaram um avião pilotado por Stanley Harvey, que foi primeiro a Medellín, para logo asumir o famoso aviador Ernesto Samper Mendoza, proprietário da empresa Saco. No momento da decolagem do aeroporto de Medellín, o avião sofreu o acidente que custou a vida a Gardel, atingindo no final da pista outro avião que aguardava a sua vez para decolar. No total, 17 mortos. Houve apenas três sobreviventes: o guitarrista José María Aguilar, José Plaja e Grant Flynt, oficial da SACO.

Gardel foi enterrado primeiro em Medellín, mas depois Armando Defino – seu representante – conseguiu repatriar o corpo. Para esse fim, o caixão contendo os restos mortais de Carlos Gardel teve que fazer uma longa jornada que incluía viagens nas costas de um burro, carreto, trem e navio. O corpo do cantor passou pelas populações do interior da Colômbia, depois foi para o Panamá, foi velado nos Estados Unidos e finalmente chegou à Argentina de barco por volta de 1936.

Antes do final do ano de 1915, na noite de 10 a 11 de dezembro, Gardel tinha sido baleado em um episódio confuso. O incidente aconteceu durante uma briga na rua depois de comemorar seu aniversário no Palais de Glace (salão de festas da época no bairro Recoleta). Finalmente, quando Gardel morreu, a bala apareceria em sua autópsia, dando origem a hipóteses sobre um confronto armado no avião que teria causado o acidente que lhe custou a vida.

O corpo de Gardel fui identificado graças a sua pulseira, onde tinha uma plaquinha de ouro com seguinte frase marcada: Carlos Gardel – Rua Jean Jaurés 735 … O endereço da primeira e única casa de Gardel.

 

fonte:

  • https://www.clarin.com,ar/
  • https://www.lanacion.com.ar/
  • https://www.infobae.com.ar/
  • https://www.buenosaires.gob.ar

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