A Milonga del Morán funciona desde 2009 no Clube Social e Desportivo Morán (Pedro Morán 2446), na sede de um clube com mais de oito décadas de história e por onde já passaram as orquestras mais famosas de Buenos Aires.
Esta é uma milonga fora do circuitão, mas merece ser visitada. Acontece no terceiro sábado de cada mês e sempre há apresentações de renomados bailarinos e orquestras ao vivo. Embora “La Milonga del Moran” seja organizada apenas uma vez por mês, ela tem seu público e seus seguidores incondicionais. Em um tradicional clube do bairro Agronomía e com uma organização destacada, o Clube Morán milonga vem conquistando adeptos e aproximando as pessoas do gênero musical que torna a Argentina famosa no mundo.
O Clube Morán
O Clube Morán tem uma rica história de milongueira: no início dos anos 50, eram organizados bailes quinzenais em que se apresentavam as orquestras mais famosas da época, como as de Juan D’Arienzo, Hector Varela, Aníbal Troilo ou José Basso, entre outras.
Villa Urquiza, Villa Pueyrredón, Agronomia, Parque Chas, Saavedra, Villa Ortúzar; são bairros de muito tango, formam um espaço único em Buenos Aires onde se destacam as Milongas: Sin Rumbo e o Sunderland, as mais tradicionais.
Quanto ao espaço físico, La Milonga del Morán funciona nas instalações de um grande pátio coberto, que normalmente é utilizado como campo de futebol de salão e que por sua vez possui um pequeno palco na frente da pista de dança aberta para quem quer curtir “uma dança como as antigas”.
Os fundadores da milonga

Marcelo é um dos organizadores da milonga, junto com sua esposa Lucila e o músico Mariano. O casal começou há dez anos dando aulas de tango e gerando turmas de alunos na região e por isso resolveram encontrar um local para fazer uma milonga aberta a todos. O Clube Social e Esportivo Morán, localizado em Pedro Morán 2446, no remoto bairro de Agronomía, era o ideal.
“A ideia era fazer-la em um clube de bairro, para resgatar o costume das antigas danças de bairro. Queríamos dar lugar a orquestras ao vivo, mantendo a tradição da dança ao vivo e não por pistas gravadas. E decidimos que seja uma vez por mês, para transformá-lo num evento importante, que as pessoas esperam por esse dia. E as pessoas respondem, cada vez mais”, começa a descrever Marcelo.
“Queremos que seja uma festa para o bairro, com muita qualidade. Trazemos as melhores orquestras e fazemos exibições dos melhores bailarinos. Também focamos em popularizá-la, com ingressos baratos, com gente da cena do tango e ao mesmo tempo agregar outros, tanto os que deixaram de ir à milonga, quanto gente nova que vê como é a cena e quer participar. Para esse público, antes da milonga, são oferecidas aulas de dança”, continua.
Em Morán, pelo menos, desmistifica-se a crença de que o tango é exclusivamente típico dos idosos. “O público que assiste é muito variado. Podem dançar jovens de 20 anos e cavalheiros de 90 anos. Somos jovens organizadores, mas nossa intenção é que todos se sintam à vontade. A nossa aposta é que se misturem, damos espaço a jovens artistas e milongueiros históricos. O mesmo acontece com as orquestras”, explica Marcelo.
Mas a milonga não é uma milonga sem o público. E esse é outro orgulho que eles têm do Morán. “Temos como alvo as pessoas do bairro”, começa o organizador, e diz que as pessoas da região, dos bairros vizinhos e milongueiros de outras partes de Buenos Aires, eles “colocaram na agenda para comparecer”.
Este fato é destacado por Marcelo: chega o público de diversas áreas apesar de não estar localizado no circuito clássico do tango, que é no Centro da Cidade ou em Palermo. Mas os frequentadores não param por aí: também são muitos os turistas, atraídos “pela qualidade dos shows e em busca de uma milonga tradicional de bairro”. A milonga acontece uma vez por mês. Com algumas exceções onde isso varia, geralmente é o terceiro sábado de cada mês. Além disso, existem datas características em que a festa se prolonga.
“No carnaval a gente comemora como nos carnavais antigos. Às vezes trazemos orquestras de cumbia, orquestras de jazz, fazemos prêmios, guerra de espuma. Em setembro temos a “Data de Aniversário” em que convocamos os antigos milongueiros que ainda dançam. É muito emocionante porque eles dançam em roda e dá para ver os diferentes estilos. Em agosto também tem a Copa do Mundo de Tango e vem muita gente”, diz Marcelo.
A preparação é complexa e começa logo após da última milonga. Eles devem entrar em contato com as orquestras, finalizar os detalhes e organizar a publicidade. “É cansativo e difícil, mas gostamos porque amamos o tango”, enfatiza Marcelo. Há uma particularidade na publicidade: cientes de que parte do público não conhece as redes sociais ou a internet, os organizadores também divulgam o evento nas vias públicas, com cartazes desenhados para a ocasião.
“O clube, como todos os clubes de bairro, recebeu as melhores orquestras dos anos 40. Nos “anos 70” quando o tango estava meio morto, era um refúgio para cantores, eles faziam aqui Peñas (eventos musicais). Tem um lindo palco onde tocam as orquestras. Antes, todos os clubes sociais tinham seu espaço para o tango. Quando chegamos, queríamos resgatá-lo em Morán”, explica.
“Muitos entram na milonga por inquietude cultural, outros para se conectar com o povo. É um ambiente agradável para socializar. O tango é a dança popular mais bonita: duas pessoas se abraçam sem se conhecerem e podem ter um diálogo corporal maravilhoso”, sintetiza.
A volta Milongas nos bairros
O retorno tem a ver com a revalorização da cultura, da qualidade musical que o tango tem tanto como dança quanto como música que se perdeu um pouco por causa daquele buraco que ocorreu entre os anos 50 e 80, influenciado pela invasão cultural e pelas mudanças de moda.
Após uma pausa de mais de três décadas, o tango volta aos poucos para ser dançado nas pistas de dança próximas ao centro da cidade, mas demorou muito para retornar aos bairros distantes do centro, onde antes as milongas eram eventos massivamente populares.

Lucila Bardach e Marcelo Lavergata são um jovem casal de excelentes bailarinos e professores de tango que, além disso, assumiram a gigantesca tarefa de “devolver o Tango aos bairros”. Este jovem casal, junto com Mariano Romero, deu o primeiro passo apoiado por organizadores, bailarinos e professores de tango de Buenos Aires. Assim ressurgiu “La Milonga del Morán” no bairro Agronomía e “Floreal-Milonga” em La Paternal, muito importante dentro da atividade tango da cidade.
A nossa ideia era que no nosso bairro, que amamos, houvesse uma milonga com tudo, como aquelas antigas. Então convocamos Mariano Romero que além de milonguero, é músico e DJ da Milonga del Moran. Com requinte e conhecimento, ele aderiu sem pensar.
Com Lucila, minha esposa, damos aulas de tango em Villa Urquiza e no Parque Chas há três anos. Por outro lado, cresci e morei até os 23 anos no bairro, então conheço o bairro e o clube há muito tempo. Foi assim que quisemos fazer uma milonga no bairro de Agronomia.
Musica de Tango ao vivo
Para cumprir o objetivo de resgatar o espírito das milongas dos anos 50, uma orquestra ao vivo sempre toca para que as pessoas também dancem. Além disso, há sempre uma exibição de alguns parceiros de dança de primeiro nível. Mas o que sempre quisemos é respirar a essência do bairro, por isso a milonga se realiza no Morán, um belo clube que tem um palco incrível.

Quero ressaltar que quem nos deu uma grande mão desde o início é quem cantou em várias de nossas milongas. Refiro-me ao “cantor do nosso bairro”, que é Hernán “Cucuza” Castiello, ele faz um movimento incrível no Bar El Faro na esquina das Ruas Pampa y Constituyentes. O movimento se chama “O tango retorna ao bairro” onde canta junto com grandes convidados, duas vezes ao mes. O espírito da sua impronta também está no Morán, aprendemos muito com ele na hora de organizar. Também Julio, o presidente do Clube Social e Desportivo Pedro Morán, foi quem nos abriu as portas e acreditou neste projeto.

Entre as orquestras que já se apresentaram, podemos citar o Quinteto “Malo Conhecido”, a Orquestra Típica “Misteriosa Buenos Aires”, “Color Tango” a orquestra do famoso Roberto Alvarez ou “Los Reyes del Tango”, da mesma forma que cantores como Ariel Ardit, Guillermo Fernández ou Cucuza Castiello, Juan Pablo Villarreal e até cantores da época de ouro do tango como Alberto Podestá ou Carlos Godoy.
A milonga é realizada apenas uma vez por mês, para não perder o caráter de festa. Queremos que seja um dia especial, que as pessoas anseiem por esse sábado do mês. Sempre antes da milonga, damos uma aula especial Lucila, Mariano e eu. Tem muita gente que vem pra aula e fica na milonga. Além disso, Lucila e eu ensinamos na área duas vezes por semana no Clube Agronomía Central: Bauness 958. Às terças-feiras, 20 aulas de tango, e às quintas-feiras, 20 aulas de milonga e valsa, finaliza Marcelo.
fonte:
- https://elbarriopueyrredon.com.ar/el-tango-se-vive-en-el-moran/
- https://buenosairesconnect.com/centro-cultural-moran-agronomia/
- https://www.culturalmoran.com/