Ouro Preto (MG): Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias – Parte III: O Arraial de Antônio Dias e as Ruinas do Palácio Velho

Caminhei pelas ruas do bairro Antônio Dias  onde fica uma das igrejas mais representativas do conjunto histórico de Ouro Preto, em Minas Gerais, a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, cujo interior esta sendo restaurado atualmente.

Antônio Dias é um bairro cheio pontes, chafarizes e sobrados ehistorias, que se remonta a sua ancestral rivalidade com a irmandade da Matriz do Pilar, do outro lado da montanha.

Mas minha curiosidade me levou a perguntar:  porque … ANTONIO DIAS?

Pois bem, no inicio do post teremos uma breve visão de como foram os origens da cidade, bem longe do que hoje se conhece como a trama urbana unificada de Ouro Preto, já que os primeiros assentamentos do sítio de Vila Rica ocorreram nas margens dos dois principais arraiais que deram origem a cidade: Antônio Dias e Pilar de Ouro Preto.

Bora conhecer algumas historias do bairro Antônio Dias.

Arraial de Antônio Dias


O significado da importância das pontes como meio de conexão entre as arraias de exploração aurífera, mesmo os chafarizes, como fonte de coleta de água cobravam uma importância primordial da vida cotidiana colonial. Hoje em dia os chafarizes, passos, e pontes ficaram imersos na trama urbana, perdendo destaque e o interes de alguns turistas distraídos.

Primeiros assentamentos do sítio de Vila Rica

A mineração do ouro foi a atividade econômica mais absorvente da Capitania das Minas Gerais durante os primeiros setenta anos do século XVIII. Na última década do século XVII, centenas de jazidas auríferas de aluvião começaram a serem descobertas nos córregos e ribeirões das adjacências de Ouro Preto, Mariana, Sabará e Caeté, causando a primeira grande corrida do ouro na História do Brasil.

Fundados por paulistas, os primeros arraiais foram ocupados por estes, principalmente após a sua derrota na Guerra dos Emboadas (1709), onde reclamavam o domínio das terras de Minas Gerais ricas em metais e pedras preciosas. Muitos deles foram em direção oeste onde mais tarde descobriram novas minas de oro em Ouro preto e Mariana, até os atuais estados de Mato Grosso y Goiás.

Antônio Dias de Oliveira foi um bandeirante natural de Taubaté que se notabilizou por explorar o interior de Minas Gerais, no Brasil, sobretudo o vale dos rios Doce e Rio Piracicaba, em busca de riquezas minerais.  Na sexta feira dia 24 de junho 1698 avistou o Itacolomi e o vale do Tripuí, panorama esplêndido e estupendo, no sitio que serviu para a construção de uma capela a São João e que mais tarde, descendo pelas encostas ao fundo do vale, seria o futuro arraial de Vila Rica do Ouro Preto.

Originalmente essa localidade foi importante núcleo minerador em função das características geológicas e geomorfológicas dos vales do Sobreira e de Antônio Dias, apresentando marcadores em sua paisagem relacionados a exploração do ouro em suas encostas, tais como galerias e “revirados”. Os antigos moradores fixos de Antônio Dias eram denominados “Jacubas” em função do uso de uma bebida típica de mineradores, constituída basicamente por caldo de limão-rosa com rapadura.

Os registros da atividade mineradora na Serra de Ouro Preto são notórios, tendo sido identificados antigos sítios de lavra de ouro: Lavras do Coronel Veloso, de Lages-Antônio Dias, do Morro da Queimada, Saragoça, do Morro São João, Tassara e do Moreira, Sumaré e Taquaral, dentre outras.

Os primeiros assentamentos do sítio Ouro Preto ocorreram nas margens dos dois principais núcleos que deram origem a cidade: Antônio Dias e Pilar de Ouro Preto. As ocupações nas serras circundantes a esses dois núcleos principais deram-se de forma esparsa, localizadas junto aos córregos de exploração aluvial, ou frente a morros de ocorrência aurífera.

Nos fundos a Igreja de São Francisco de Assis e o Museu da Inconfidência

As duas matrizes originais ou zonas principais foram as freguesias de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto e a de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias.

Cada paróquia desenvolveu uma feição própria, tanto sob o ponto de vista cultural, quanto sob a ótica da especialização econômica, pois em Antônio Dias predominou a mineração de ouro e, em Pilar de Ouro Preto, a atividade comercial. A Matriz de Antônio Dias ficou sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição, e a Matriz de Ouro Preto tomou por orago Nossa Senhora do Pilar. As duas freguesias de Ouro Preto eram delimitadas pelo Morro de Santa Quitéria. De acordo com Oliveira (2012), a Freguesia de Antônio Dias foi ocupada pelos paulistas, e a Freguesia do Pilar, pelos portugueses.

A Matriz de Ouro Preto tomou por orago Nossa Senhora do Pilar

A distância que separava esses povoados iniciais era grande. O Antônio Dias e o Ouro Preto, crescendo ambos, encontraram-se no morro de Santa Quitéria, hoje Praça Tiradentes. A rua principal tomou então, seu sentido longitudinal, ligando as três colinas, Cabeças, morro Santa Quitéria, e no outro extremo, Santa Efigênia.

A partir da instalação do aparelho administrativo o espaço de Vila Rica passa a ser normatizado pelas “Ordenações do Reino e Posturas Municipais”, quando se iniciam construções mais suntuosas, como templos religiosos, quartéis, palácios, pontes, chafarizes e edificações de maior porte. Visando unificar os arraiais Antônio Dias e Pilar, a Praça Ouro Preto (antigo Morro de Santa Quitéria), busca-se centralizar os principais edifícios administrativos e de poder.

Até então, com pouco mais de metade (50,77%) da população da urbe, Antônio Dias e Pilar de Ouro Preto, contavam com quatro quintos dos militares (79,20%) e 85,52% dos demais integrantes da administração civil. Neles residiam trinta e três dos quarenta eclesiásticos (82,50%) e76,31% dos profissionais liberais. Quatro quintos dos comerciantes (80,62%) e 78,98% das pessoas relacionadas em outros serviços.

Outra localidade adjacente a Antônio Dias que se expandiu durante o século XVIII foi Santa Efigênia, interligando as antigas localidades de Padre Faria. A ladeira “Vira e Saia” dá acesso a esse templo, próximo ao Calvário ou Alto Cruz.

Igreja de Santa Efigênia, na antiga localidade de Padre Faria

Nos últimos decênios, a maioria das residências da meia e baixa encosta foi construída encobrindo parte do conjunto de galerias e demais vestígios de mineração, além de ruínas remanescentes do Arraial de Antônio Dias, marcas diacríticas deste lugar e de sua paisagem.

Segundo relato da Senhora Maria Cota Quirino, o leito do Córrego do Sobreira era muito mais amplo, onde até se podia pescar. Havia também vegetação em suas margens, apesar de um pouco rala, segundo seu depoimento.

Córrego do Sobreira, bairro Antonio Dias, Ouro Preto
Nossa_Senhora_Conceição_matriz_chafariz_igreja
Ponte de Antônio Dias, Ouro Preto

A ponte de Antônio Dias, conhecida também por Ponte dos Suspiros é a mais importante de Ouro Preto (MG), pela sua localização, tamanho e harmonia de proporções. Foi construída entre 1745 e 1757, em alvenaria de pedra, em dois arcos iguais de 5 metros de vão e 7,40 metros de altura. Situa-se no largo do Dirceu, sobre o córrego da Sobreira.

A ponte de Antônio Dias é composta de dois paredões  interrompidos pelos dois arcos plenos (arcos em semi-circunferência), tendo ao centro um pequeno terreno circular e cruz de cantaria sobre pedestal. Nos extremos, há quatro pilastras de cantaria, encimadas por pirâmides. As águas, que descem dos morros de São Sebastião e Pascoal da Silva, correm apenas sob um dos arcos.

Minas do Palácio Velho


O complexo arquitetônico do Palacio Velho de Ouro Preto, construido em 1717, foi a primeira residência de governadores instalada na antiga Vila Rica, sede politica da capitania de Minas Gerais a partir de (1721-1734).

O Palacio Velho pertenceu ao capitão-mor Henrique Lopes quem faleceu no dia 11 de julho de 1733, não tendo herdeiros, deixou seu legado á câmara de Vila Rica (1734-1738), e a lavra de ouro existente nessa propriedade.

A mais remota representação iconográfica data de um século posterior á fundaçao. Trata-se da aquarela publicada na obra de Johann Emanuel Pohl, mas editada por Thomas Ender. Nessa aquarela, apresenta-se vista da Freguesia de Antonio Dias, desde a Praça de Santa Quiteria.

Vila Rica. Johann Emanuel Pohl e Thomas Ender. 1817-21. WAGNER, R. & BANDEIRA, J.Viagem ao Brasil nas aquarelas de Thomas Ender. Petropolis: Kapa Editorial e Petrobras, 2000, v. 3, p.971.

A imagem oferece vista panorâmica do Palacio Velho, descrevendo, com riqueza de detalhes, os edifícios e os elementos construtivos existentes no complexo arquitetônico. No canto esquerdo, a casa de morada do capitão-mor Henrique Lopes; a direita, o palacio, edifício de maior dimensão, a ostentar seis ou sete janelas frontais e telhado duas águas; e mais abaixo uma casa pequena, aparentemente anexa ou interligada ao palacio, que pode ter sido correspondente a secretaria de governo.Ao lado do palacio, uma segunda casa, que servia possivelmente por Abaixo dos prédios principais fixavam-se senzalas e casas de moradia de escravos. A propriedade estendia-se ate as margens do córrego, no vale de Antonio Dias, subindo encosta acima ate o Alto de Santa Efigênia ou do Padre Faria.

Em agosto de (1738-1825) o legado passa as mãos da Santa Casa da Misericórdia, sendo o primeiro hospital a ser construído em terras mineiras. Entre 1808 e 1816 a administração da Santa Casa optou por seccionar o terreno, dividindo-o em pequenos lotes arrendados ou alugados a preços mais baixos. Assim, a extensa área do legado original, anteriormente arrendada em sua parte principal para um único rendeiro, foi fragmentada. A propriedade perdera completamente seu valor econômico.

A destruição iniciou-se possivelmente em fins da década de 1810 ou princípios da seguinte. Ao longo do século XIX, o processo de arruinamento tornou-se irreversível enquanto o ouro havia se esgotado e a estrutura física do edifício ficava em ruinas.

O geólogo Eschwege descreve que em sua estadia em Vila Rica, testemunhou em Antônio Dias o desmonte parcial de parte dos muros da antiga residência dos governadores, o “Palácio Velho”, em busca de veios de ouro, tamanha era a voracidade e procura do metal na região.

relata en suas memorias:O ouro também se encontra nesses conglomerados, em maior quantidade na parte inferior das mais baixas encostas das montanhas do que em seus cumes e apresenta-se do mesmo modo mais abundantes nas camadas inferiores, do que nas da superfície, como é o caso da Serra da Vila Rica, no vale de Antônio Dias, onde durante os últimos anos de minha permanência ali, foi demolido em parte o chamado Palácio Velho, antiga morada em ruína dos governadores, com o fim de ser extraída a grande quantidade de ouro existente na mina,sobre a qual fora o mesmo edificado.  

Minas do Palacio Velho

Na região, já existia a retirada de ouro por meio do desmonte hidráulico, através de captação de água. Outra técnica era a de perfuração subterrânea. “Essa era mais trabalhosa, porém mais eficaz. Primeiro, eles faziam o sarilho, um grande furo da superfície até o espaço interno, para pesquisar a área. Eram buracos em torno de 10 m a 20 m de profundidade que, depois, serviam para a retirada de materiais. Na parte de cima e interna, havia a estrutura para a coleta do ouro”, detalha Maia, historiador e mestrando da (Ufop) André Castanheira Maia.

 

fonte:

  • TARCÍSIO DE SOUZA GASPAR, Tese de pós-graduação em história social. Tapanhuacanga em ruínas: “História do Palácio Velho de Ouro Preto (c. 1660-1825)”.
  • JOSÉ ADILSON DIAS CAVALCANTI, Mineralização Aurífera de Lages-Antônio Dias, Ouro Preto – MG, Controles Lito-estratigráficos e Estruturais
  • OLIVEIRA, Monalisa Pavonne,  Mestrado. Devoção e poder: a Irmandade do Santíssimo Sacramento do Ouro Preto (Vila Rica, 1732-1800). Mariana, UFOP 2010 (1)
  • http://portal.iphan.gov.br/

 

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