O curioso é que sua entrada principal fica nos fundos do estabelecimento, uma vez que pertencia à escola fundada pelas freiras britânicas pertencentes à ordem francesa da União Sagrada dos Sagrados Corações. Hoje o ingresso acontece por uma porta lateral com vista para a Avenida Rivadavia, desde onde você pode ver a abside da igreja, que virou fachada principal.
A historia desta igreja é bastante particular porque mesmo sendo de uma beleza imensa, obra do famoso arquiteto Alejandro Christophersen, ficou relegada ao esquecimento logo depois da desapropriação do colégio para estabelecer nele o Palácio do Governo Municipal, coisa que nunca aconteceu, ficando a igreja inativa.
Em 1983, após décadas de negligência, a igreja foi completamente restaurada é restituída ao clero recebendo a imagem da Virgem de Caacupé, padroeira do Paraguai. Assim, a igreja transformou-se em um local de adoração muito importante para a grande comunidade paraguaia que reside em Argentina.
Nossa Senhora de Caacupé
Em 1870, Frederick Wanklyn, um comerciante inglês que se tornou banqueiro, construiu sua residência em um extenso quintal no bairro de Caballito. Cinco anos depois acontece sua morte e até o final da década foi habitada pelo embaixador francês Amelet de Chaillou. Em 1880, o local seria alugado ao General Roca quando ele assumisse sua primeira presidência para acolher e receber personalidades.
Anos depois, em 22 de setembro de 1884, as primeiras freiras britânicas pertencentes à ordem francesa da União Sagrada dos Sagrados Corações desembarcaram no porto de Buenos Aires procedentes de Liverpool, que, após a compra, ergueram seu convento no quintal de Wanklin, onde estabeleceram a base da congregação na Argentina e abriram um estabelecimento escolar.

Em apenas dois meses, de 10 de dezembro a 16 de janeiro de 1883, as freiras improvisaram o Colégio, muito elementar no início, prepararam em uma de suas salas de recepção um altar provisório onde pela primeira vez a Santa Missa foi celebrada por seu capelão, padre Juan Nepomuceno Terrero, mais tarde bispo de La Plata. Em 6 de maio de 1885, a primeira capela começou a ser construída e concluída em 15 de setembro do mesmo ano.
Em abril de 1906, isto é, duas décadas depois, essa capela ficou pequena e um terreno vizinho foi adquirido ao oeste do convento onde outra capela seria construída e a escola gratuita seria ampliada. Em 14 de outubro de 1906, o bispo Espinosa abençoou a pedra fundamental da nova capela, a atual, que ele mesmo abençoou em 12 de junho de 1908, com os padrinhos Carlos María de Alvear e Sra. Teodolina Fernández de Alvear, e o Sr. Alberto Frías Nin e sua esposa Elena Bunge de Frías Nin sendo uma construção sóbria de estilo romântico, que ainda permanece, e que foi obra do prestigiado arquiteto Alejandro Christophersen, que também é autor de obras artísticas muito importantes na cidade, entre os anos de 1880 e 1920.
Alejandro Christophersen nasceu em Cádiz, Espanha, em 30 de agosto de 1866, porem ele tinha nacionalidade norueguesa pois era filho do cônsul norueguês naquele pais. Ao ser seu pai diplomático, desde tenra idade ele foi cercado por majestade e conforto, assistindo aos banquetes contínuos que seu pai oferecia às mais altas autoridades. Sua formação estava ligada aos melhores estabelecimentos de ensino da Europa. Estudou na Academia Real de Belas Artes de Bruxelas, Bélgica e na Escola de Belas Artes de Paris. Em 1887, ele se estabeleceu em Buenos Aires, onde trabalhou em importantes obras arquitetônicas, como a Bolsa de Comércio, o Palácio Anchorena, o Hospital Español, a Igreja Santa Rosa de Lima e outros. Em 1922, seu projeto para o Pavilhão Argentino foi premiado na Exposição Internacional do Rio de Janeiro. Foi fundador da Escola de Arquitetura da cidade de Buenos Aires e da Sociedade Central de Arquitetos.
Foi Diretor do Banco Hipotecario Nacional, Presidente Honorário da Sociedade Central de Arquitetos, Professor Honorário e Conselheiro da Faculdade de Ciências Exatas da Universidade Nacional de Buenos Aires, Membro do Comitê Executivo da Comissão do Centenário, Assessor Artístico das Exposições de São Francisco e Nova York, Vice-Presidente da Exposição Internacional de Paris, entre outros cargos importantes. Como arquiteto, ele deixou uma vasta e renomada obra na cidade de Buenos Aires, sendo uns dos mais importantes arquitetos de sua época. Ele até se destacou como artista plástico prolífico. Sua atividade pictórica tem mais de 220 peças de valor significativo.
Desapropriação e abandono da Igreja
Em 1930, o governo de Gral. Agustín P. Justo decidiu aprovar um projeto pelo qual um novo Palácio Municipal de Buenos Aires deveria ser instalado no centro geográfico da cidade, ou seja, no bairro Caballito, e para isso seria instalado nas terras ocupadas pelo Colégio da Santa União e a Capela. Em 1937, foi aprovada a Lei de Desapropriação e a transferência da congregação que se mudou para a Rua Seguí 921, em frente à Plaza Irlanda.


Finalmente, os planos nunca são finalizados e os prédios antigos foram destinados à Secretaria de Saúde Pública e ao Sindicato dos Trabalhadores e Empregados Municipais. A Paróquia infelizmente é transformada em depósito. Desde então, separada do prédio da escola, a capela ficou inativa e abandonada ao seu destino.
O templo estava em péssimo estado de conservação quando, após vários anos desde que o projeto original não se concretizou. Em 7 de abril de 1983, o Município entregou formalmente o templo ao Episcopado e recebeu a categoria de sede para uma nova Paróquia e Santuário sob o patrocínio de Nossa Senhora de Caacupé, padroeira da irmã República do Paraguai.
A comuna anunciou que consertaria os elementos essenciais do templo, o qual formaria parte de um “complexo urbano” com uma Escola Municipal (localizada na antiga escola da Santa União), uma Escala Infantil juntamente a abertura de algumas ruas. Mas, com o passar do tempo, o município demorou a cumprir o prometido, finalmente, no início de dezembro de 1983, o Bispo Petralito foi convidado a encarar sua tarefa sem demora.
Em 1983, após tantos anos de negligência, a igreja foi completamente restaurada, embora certamente tenha perdido toda a sua decoração interior original.
Em 18 de fevereiro de 1984, como resultado da preocupação e do esforço desinteressado dos primeiros paroquianos que vieram colaborar com o pároco, ocorreu a desejada e solene autorização do templo, presidida pelo cardeal Juan Carlos Aramburu, arcebispo de Buenos Aires, em comemoração ao Centenário da chegada das Irmãs da Santa União, em 18 de fevereiro de 1984.
3 de junho de 1984 é uma data transcendente com profunda motivação religiosa para o bairro de Caballito, porque naquele dia a venerada imagem de Nossa Senhora de Caacupé chegou pela primeira vez desde a irmã República do Paraguai. Dom Felipe Santiago Benítez, presidente da Conferência Episcopal do Paraguai, trouxe pessoalmente. Com profunda religiosidade e fervorosa alegria, a imagem foi introduzida no templo e colocada ao lado do altar-mor. Em 1986, após a conclusão dos trabalhos de restauração e aprimoramento, foi novamente consagrada, desta vez sob a defesa da Virgem de Caacupe.
Nossa Senhora dos Milagres de Caacupé
Nossa Senhora dos Milagres de Caacupé é venerada no Paraguai aproximadamente desde 1600. A história diz que um índio guarani que foi perseguido por um grupo de índios rivais se refugiou atrás de um tronco e prometeu à Virgem que, no caso de ser salvo, ele faria uma imagem da mesma árvore em que estava escondido. Como os índios rivais não o viam, ele manteve sua promessa. Duas imagens da Imaculada Conceição emergiram daquele tronco: uma maior, destinada à igreja de Tobatí (supostamente saqueada pela tribu dos mbayás), e uma menor, que o índio reservou para devoção pessoal e que é a venerada hoje em Caacupé.
A Virgem de Caacupé é a padroeira do Paraguai; seu dia festivo é em 8 de dezembro, o mesmo dia da Imaculada Conceição. Tornou-se uma celebração muito especial para os paraguaios; foi transformado em um espaço que hoje possibilita o encontro da comunidade, a união de seus membros e o reconhecimento da cultura paraguaia.
Na caminhada, não apenas rezam e cantam canções religiosas, a maioria usa o espaço para trocar experiências, conhecer-se, beber tereré e falar fundamentalmente ”sua língua guarani” e às vezes uma mistura de espanhol e guarani: jopará; gerando laços muito especiais e possibilitando um ambiente de familiaridade muito particular.
Durante as festividades, não apenas alude-se a um número importante de elementos de identidade da cultura paraguaia (idioma, refeições, danças etc.), mas também contém várias das situações difíceis que outras comunidades latino-americanas como a venezuelana sofrem atualmente. A Paróquia Nossa Senhora de Caacupé oferece assistência social e almoço todos os dias às 12hs para moradores de rua e pessoas em situação de necessidade ante a atual pandemia.
Origem do nome. Língua guarani
O nome Caacupé vem da palavra guarani ka’a kupé, que significa “atrás da erva” ou “atrás da floresta”. O termo ka’aguý significa ‘monte’ (no significado de ‘floresta’) e ka’á é erva; termo também usado para se referir á “erva-mate”.
Imigrantes paraguaios

Durante o período de 1970-1990, os paraguaios, como os bolivianos e peruanos, entram na cidade contratada por empresas de construção de Buenos Aires, primeiro sem famílias e depois com o tempo, ocorre a reconstituição familiar. Na segunda etapa pós-crise de 2001, a chegada dos paraguaios é mais forte e mais constante.
Esse novo afluxo migratório não apenas diversifica a estrutura demográfica e espacial da cidade, mas também incorpora novas contribuições culturais e religiosas que estão inter-relacionadas em América Latina.
As devoções marianas representam verdadeiras expressões da religiosidade popular e da cultura transnacional, nas quais, através da transferência (do local de origem ao destino) e da refundação das devoções (celebração religiosa e festividades comunitárias), os migrantes têm a possibilidade reescrever o significado dos rituais no local de destino.
fonte:
- https://www.barriada.com.ar
- http://www.historiaparroquias.com.ar
- IV Jornadas de Historia Social de la Patagonia: La Virgen de Caacupé-i símbolo de la inmigración paraguaya en San Carlos de Bariloche – Lic. Barelli, Ana Inés (1)