Durante o periodo colonial o convento era um centro de divulgação da cultura, onde se aprendia as artes da música, composição e plástica. Também foram encenadas peças de teatro e realizadas festas literárias, com a participação do bairro. A escola continuou a funcionar depois de 1810. Em 1816 tinha 105 alunos, sendo a maior de todas as escolas primárias da cidade.
O convento foi encerrado em 1822, pela Lei da Reforma Eclesiástica, e a partir de 1834 funcionou ali uma escola de órfãos. Posteriormente, chegou María Eva Duarte de Perón e o transformou em sede da Fundação Evita. Mas tarde recebeu a sede da Universidade Católica (UCA), até finalmente ser devolvido à Orem dos Mercedários.
A História do Convento
À medida que o Novo Mundo entrava no teatro da história europeia, a Ordem da Merced, juntamente com os Franciscanos, Dominicanos e Agostinianos eram as únicas Ordens Religiosas autorizadas em América.
Os religiosos de La Merced tinham chegado ao Río da Plata em 1536 com a expedição de Dom Pedro de Mendoza, eles fizeram parte da primeira fundação de Buenos Aires. Aquela primeira fundação não deu certo e seus habitantes acabaram fugindo do acosso indígena e as péssimas condições de vida. Os freires mercedários acabaram indo para Asunción, Paraguay.
O cenário foi diferente na distribuição das terras feitas por Garay na segunda fundação de 1580, nenhuma das terras jamais foi atribuída aos Mercedários por motivos que eles indicam como prevaricação à ordem mercedária, por parte das esferas oficiais. Isso pode ter ocorrido devido às rivalidades desencadeadas anteriormente entre essa ordem religiosa e Garay em Assunção, onde os mercedários têm uma longa história desde 1540.
Juan de Garay deu preferencia aos Franciscanos e Dominicanos. Só 20 anos depois chegaria o irmão leigo da Ordem da Merced: fr. Francisco Martel, proveniente de Cuzco tinha passado por Córdoba em 1599 e optou por comprar, com seu dinheiro, um terreno que doou à Ordem em 1601. Ele a mesma coisa em Buenos Aires, sendo que a posterior chegada do Padre Provincial fr. Antonio Marchena (1601), ordenou a situação patrimonial da ordem mercedária em Buenos Aires, pois reunido com outros sacerdotes que o acompanhavam, aceitou oficialmente, em nome da congregação, a doação que Martel fez do terreno adquirido, não sem antes consentir em trocar ele com os dominicanos, estabelecendo em 1602 a sede da igreja e convento no bairro de “Catedral ao Norte”, atual bairro de San Nicolás.
O procedimento seguiu as etapas já conhecidas: a delimitação por paredes do lote e a construção das celas e capela de Nossa Senhora de la Merced. A igrejinha era de barro e palha, muito baixa, com chão de terra, com um único altar. O responsável por esta etapa foi fr. Pedro López Valero, que em 1603 colocou $ 500 fortes para a compra das imagens que identificavam a igreja e o convento de San Ramón.
A nave de La Merced permaneceu inalterada ao longo do século até 1674, quando um novo templo substituiu as antigas paredes, as últimas só chegando em 1750 com a ajuda dos arquitetos jesuítas Giovanni Andrea Blanqui (ou Bianchi) e Juan Bautista Prímoli e vizinhos importantes como o Arrelano e Arpide.
Foi encomendado a eles o projeto para a construção da igreja que conhecemos atualmente. A pedra fundamental foi lançada nas festividades do santo padroeiro de 1721. Em 1733, grande parte do templo foi habilitada, foram inaugurados a nave, a cúpula, a capela-mor e o transepto, mas as obras prosseguiram lentamente nas décadas seguintes, até que o templo definitivo só foi concluído por volta de 1779.
Sendo que a as obras de construção começaram em 1721, para 1733 grande parte do templo foi habilitada, estima-se que a construção do Convento tenha sido contemporânea à da igreja. Isto parece ser indicado pela criação por parte do Cabildo, em 1722, de duas escolas primárias, uma das quais tinha sede no Convento de La Merced. Depois, em 1728, prossegue a construção de três salas de aula para o ensino de estudos superiores (gramática, filosofia e teologia). O Convento foi um centro de divulgação da cultura. Lá os guaranis, mulatos e negros também aprendiam música e composição.
Além da função religiosa, o convento era um foco de divulgação da cultura, até servos guaranis, mulatos e negros aprendiam as artes da música, composição e plástica. Também foram encenadas peças de teatro e realizadas festas literárias, com a participação do bairro.
A escola continuou a funcionar depois de 1810. Em 1816 tinha 105 alunos, sendo a maior de todas as escolas primárias da cidade.
A igreja e o convento tiveram grande participação em dois eventos marcantes da história argentina: As Invasões Inglesas e a Revolução de Maio. De seu átrio, em 1806 Liniers liderou o ataque à Plaza Mayor durante a Reconquista na primeira invasão inglesa. Em 1810, os conventuais de San Ramón tiveram uma atuação destacada nos acontecimentos que antecederam a Revolução de Maio de 1810.
Lei de Reforma do Clero (1822)
A chegada da Revolução de Maio de 1810 marcaria o início de uma nova etapa institucional, deixando para trás o período colonial e lançando as bases para uma nova nação.
Em 21 de dezembro de 1822, o governo de Martín Rodríguez sancionou a lei de reforma do clero. Isso, somado a uma série de decretos anteriores, expedidos pelo então ministro do governo , levando ao abandono forçado do convento Grande San Ramón Nonato e da Igreja pelos mercedários.
O decreto confiscatório emitido por Rivadavia forçou os mercedários a dissolver a ordem e ingressar no clero secular ou deviam emigrar para as províncias. Desabrigados e em extrema pobreza, os irmãos mudaram-se para a então zona rural, onde tinham que percorrer uma considerável distância diária para assistir aos serviços religiosos na Capela do Bom Pastor.
O Governo Provincial apropriou-se do Convento, o edifício funcionou sucessivamente como quartel e hospital que em 1830 recebeu ou “Asilo de Órfãos” administrado pela Sociedad de Beneficencia de Buenos Aires, que exerceu a sua atividade durante 92 anos.
Evita vs Sociedade de Beneficência

O projeto de um novo estado liberal que Rivadavia tentou por meio da Reforma Eclesiástica de 1822 estava tingido de anticlericalismo e assumindo as tarefas de assistência social de que a Igreja estava encarregada. Sendo ainda ministro, Bernardino Rivadavia expediu um decreto para a constituição de uma Sociedade de Beneficência, transformando o modelo de assistência social colonial existente por outro de perfil mais elitista, de ilustração europeia. O próprio Rivadavia estabeleceu uma clara diferenciação entre as chamadas “senhoras linajudas” e as mulheres crioulas comuns.
Com a chegada de Rosas ao poder e mais precisamente no seu segundo mandato, aquele que ocupou de 1935 a 1952, a Sociedad de Beneficencia praticamente deixou de funcionar, pelo menos com o regime com que fora fundada. A presidência da mesma foi ocupada por Agustina, irmã mais nova de Rosas. As “senhoras linajudas” se separaram e todas as funções da Sociedade, aliás diminuídas, foram ligadas ao pensamento e ações do Restaurador Rosas à frente da Confederação Argentina.
Um caso paradigmático foi Mariquita Sanchez de Mendeville, que, por ter sido membro fundador, então secretária e depois presidente da instituição, preferiu o exílio em Montevidéu e foi aí que a queda de Rosas a encontrou.
Após a Batalha de Caseros em 1852, com a queda de Rosas do poder, a Sociedad de Beneficencia retomou sua formação antes de 1835. Com os mesmos objetivos e os mesmos pensamentos, o modelo de educação e “assistência social” das classes foi reinstaurado. para os mais pobres.
A incipiente oligarquia estabeleceu uma aliança política com as hierarquias eclesiásticas, o que levou a uma ação conjunta de caridade. Senhoras da alta sociedade assumiram a direção da Sociedad de Beneficencia. Essa aliança durou até a chegada do peronismo.
Basta ler os sobrenomes das “senhoras caridosas” na lista: Quintana, Luro, Alvear, Leloir, Unzué, Ortiz Basualdo, Casares, Bosch, Torquinst, Lezica, Uriburu, Anchorena, Pellegrini, Perdriel, Cantilo, Lavalle, Rodríguez Larreta são apenas alguns desses sobrenomes: todos eles da oligarquia argentina.
A chegada de Evita
Evita rivalizou com elas criando um canal paralelo que anunciava uma atitude e pensamento muito diferente sobre os problemas sociais.
Era costume da Sociedade de Caridade de Buenos Aires (fundada por Bernardino Rivadavia) nomear a primeira-dama como presidente honorária. Quando Eva Perón se reuniu com seus dirigentes, eles alegaram como desculpa para não lhe dar o cargo que, devido à sua idade, ela não tinha a experiência necessária e também recusaram a proposta de Eva Perón de que nesse caso fosse nomeada sua mãe.
Em outubro de 1943, o Coronel Perón era nomeado chefe do Departamento Nacional do Trabalho, o governo dele criou uma nova Direção Nacional de Saúde Pública e Assistência Social.
Esta situação marcou o confronto que Evita sempre teve contra as senhoras da alta sociedade, que não aceitavam a chegada de uma mulher humilde às esferas de grande poder.

Em 6 de setembro de 1946, no primeiro governo do General Perón, é intervinda a Sociedad de Beneficencia mediante um decreto.
Dois anos despois, chega ao convento María Eva Duarte de Perón (Evita) e o transformou em escritório de Ação Social: sede da Fundação EVITA, desde 1948 hasta 1955.
Por sua vez, os mercedários acabariam construindo um novo templo, no bairro Caballito: Igreja de Nossa Senhora de Buenos Aires. A igreja foi inaugurada em 3 de dezembro de 1932 em estilo neogótico.
Atualmente a Ordem da Mercê tem a posse do convento, concedida pelo Governo Nacional através de dois decretos em 1963 após exatos 140 anos. A Igreja, entretanto, continua a pertencer à diocese e foi declarado monumento histórico nacional em 1942.
Assim finalmente, em 1963, o Convento voltou para as mãos dos religiosos mercedários. Atualmente é a sede da Cúria Provincial da Província Argentina Mercedaria, onde desenvolve diversas obras espirituais e culturais.
fonte:
- https://www.periodicovas.com/historias-de-la-ciudad/home
- https://www.sobrebue.com/visorNotaHtml.php?idNota=160http://
- historiadelperonismo.com/?p=3259/home