Localizada na esquina das ruas Reconquista e Perón, na igreja de Nossa Senhora da Merced, outra esquina, virada para a Praça de Maio, típica das igrejas coloniais de Buenos Aires.
A principal diferença entre a primeira e a segunda fundação de Buenos Aires é que a primeira chegou de navio, vinda da Espanha, enquanto a segunda chegou por terra, do interior do continente, vinda de Cuzco e Chile.
A irmandade dos Mercedarios esteve presente em ambas. Os freires da primeira expedição acabaram indo para Asuncion, Paraguay. Na segunda fundação Juan de Garay se deu preferência aos franciscanos e dominicanos, para finalmente os mercedários conseguir construir seu próprio templo e convento. No inicio de 1600 a vida era dura em Buenos Aires. Só tenha o Forte junto à Catedral como referência na atual Plaza de Maio. Tudo na volta era accessível apenas a través de caminhos em mal estado, aguaceiros e matadouros de gado. Morar em Buenos em aqueles tempos era tipo morar nos tempos medievais … o Vice-reinado do Rio da Plata só seria estabelecido em 1776.
Vamos conhecer neste post a história da chegada da Ordem dos Mercedarios em Buenos Aires.
Fundação de Buenos Aires por Juan de Garay
A falida primeira fundação de Buenos Aires venho desde Espanha com a finalidade de segurar o extremo sul do continente e marcar território ante a expansão dos territórios conquistados pela Coroa Portuguesa no sentido também sul do novo mundo.

A segunda fundação da cidade de Buenos Aires por Don Juan de Garay em 1580 não chegou de barco. Esta vez chegou pelo interior do continente, depois de fundar a cidade de Santa Fé (em sua primeira localização), em 15 de novembro de 1573.
O documento fundacional da nova cidade portenha chama esta de “Cidade de Trinidad”, em memória de sua chegada que aconteceu no Domingo da Santíssima Trindade. O porto da mesma recebeu o nome de “Santa María de los Buenos Aires”. Estas duas fundações eram parte da lendária busca, para o sul, da Cidade dos Cesares, que tanto Garay como o seu genro Hernandarias de Saavedra tentarão encontrar.
Em virtude de tais disposições das leis ditadas por Carlos V e Felipe II, no mesmo dia da fundação, Garay em um pergaminho de couro, fez o traço original de Buenos Aires. Ele dividiu a cidade em duzentos e cinquenta blocos, formando um retângulo de 15 x 9 blocos. Dos quarenta quarteirões próximos à Plaza Mayor, destinados a construções ou lotes, quarenta eram destinados aos habitantes, seis ao Forte e a Plaza Mayor, um hospital chamado “San Martín” (em homenagem ao santo padroeiro de a cidade) e conventos para as irmandades ali presentes: Franciscanos e Dominicanos.
Os primeiros três templos e conventos da área de fundação foram os primeiros reguladores dos futuros bairros ao sul e ao norte da Plaza Mayor (bairro de San Francisco, Santo Domingo, San Ignacio … dos franciscanos, domínicos e jesuítas, respectivamente).
Devido aos fracassos das primeiras fundações no Rio da Prata, a ocupação e penetração hispânicas no atual território argentino foram lentas. Isso só ocorreu muitos anos depois, quando outras regiões, em particular os Vice-reinados do Peru e México, já tinha uma organização política, cultural e missionária avançada.
Em Argentina a organização religiosa e missionária também foi realizada a partir das ordens religiosas que vieram do Chile. As duas primeiras ordens religiosas a chegar a Mendoza foram Mercedários e Dominicanos.
Ao Oeste, a região de Cuyo, que inclui as atuais províncias de Mendoza, San Juan e San Luis, foi conquistada pelos espanhóis que vieram do Chile, e aquelas Ordem dos Pregadores instalados na região de Cuyo dependiam no início, do vicariato do Chile e do Peru.
O Vice-reinado do Río da Plata so veria a se conformar só em 1776.
A reordenação da região que fez de Buenos Aires a cabeça do governo do Río da Plata (16 de dezembro de 1617), começou a consolidar a cidade “perseverante” junto com sua elevação à categoria de sede episcopal (1620). Buenos Aires então se certificou de que as alturas das torres e cúpulas das igrejas e capelas não apenas identificassem o perfil da cidade no horizonte pampeano mas também para orientar os navios que se aproximavam da cidade-convento.
O simples fato de fazer de Buenos Aires a sede do bispado (1620) mostra que a “resistência” e persistência da Igreja secular e regular durante os primeiros anos da segunda fundação, que foi determinando a organização espacial não só da cidade, mas também a região toda.
Ordem dos Mercedarios
Desde as primeiras viagens colombianas de 1492 a 1526, os frades mercedários viajavam como capelães a bordo, depois como capelães de expedição e mais tarde como missionários. No entanto, os mercedários de Castilla fundaram vários conventos sem autorização explícita. Apenas em 1526, Carlos V, aprovou a fundação de conventos mercedários em toda a América sujeita ao império espanhol.
Os religiosos da Merced chegaram ao Río da Plata em 1536 com a expedição de Dom Pedro de Mendoza, eles fizeram parte da primeira fundação de Buenos Aires. Na segunda fundação de 1580 o cenário foi diferente na distribuição das terras feitas por Garay, nenhuma das terras jamais foi atribuída aos Mercedários por motivos que eles indicam como prevaricação à ordem mercedária, por parte das esferas oficiais. Isso pode ter ocorrido devido às rivalidades desencadeadas anteriormente entre essa ordem religiosa e Garay na cidade de Assunção, onde os mercedários têm uma longa história desde 1540.

Os mercedários do século 16 penetraram na Argentina atual em três frentes independentes e com alguns anos de intervalo.
Pelo Atlântico, os padres Juan de Salazar e Juan de Almasia chegaram com a frota de Pedro de Mendoza ao Río da Plata e estiveram presentes na fundação do porto de Buenos Aires em 2 de fevereiro de 1536. Esses padres deram a conhecer a invocação mercedária de Nossa Senhora do Buen Ayre ou Buenos Aires, com cujo nome a cidade foi fundada por Dom Pedro de Mendoza no porto de Santa María del Buen Ayre.
A segunda frente de entrada para a Argentina era pelo Norte, a partir de Cuzco. A expedição, que sob o comando de Diego de Almagro para o descobrimento do Chile, parte desta cidade em 3 de julho de 1535, os primeiros religiosos da Ordem a eles pisam o solo argentino. Durante o governo de Juan Pérez de Zurita, o padre Diego de Porres fundou o convento de Santiago del Estero (1557), a primeira casa mercedária da Argentina.
Nas terras do governo de Tucumán, os mercedários estão presentes desde a chegada dos espanhóis e seu convento data de 1565.
A terceira frente vem do Oeste, ou seja, do Chile, passando pela Cordilheira dos Andes. A partir daí, serão fundados e atendidos os conventos de Mendoza (1562). O irmão leigo da Ordem da Merced: fr. Francisco Martel havia parado em Córdoba em 1599 com a missão de reconhecer o terreno cedido no traçado urbano para sua comunidade. A sua localização e despovoamento levaram o frade a optar por comprar, com seu dinheiro, outro melhor situado que doou à Ordem em 1601.
A chegada do Padre Provincial fr. Antonio Marchena (1601), ordenou a situação patrimonial da ordem mercedária em Buenos Aires, pois reunido com outros sacerdotes que o acompanhavam, aceitou oficialmente, em nome da congregação, a doação que Martel fez do terreno adquirido, não sem antes consentir em trocar ele com os dominicanos.
Com certeza o fr. Marchena fez um estudo do terreno, chegando à mesma conclusão que os dominicanos iriam chegar posteriormente a respeito da localização do terreno adquirido: longe do centro cívico e comercial, não favorecia a aproximação de vizinhos para a celebração da missa e obtenção de esmolas. Mas por outro lado, deve-se ter em mente que aceitar o negócio do troque de terra era uma forma de reivindicar sua presença na cidade e uma forma de reverter o que Garay havia ordenado vinte anos atrás.
Em 1602, os Dominicanos se estabeleceram no local localizado entre as ruas Balcarce, Venezuela, Defensa e Belgrano, onde construíram a Capela de Nossa Senhora do Rosário e em 1605 o Convento anexo de San Pedro González Telmo. Por outra parte, também em 1602, os Mercedarios se instalaram no terreno que compreendia os dois blocos hoje marcados pela Av. Leandro N. Além e as ruas Reconquista, Sarmiento e Cangallo, que naquela época estava no litoral do Rio da Plata.
Igreja Nossa Senhora das Mercedes

O bairro de San Nicolás foi conhecido no primeiros tempos como: “Catedral ao Norte”, “Bairro de La Merced”, “Bairro Inglês”, “Bairro Recio” ou “Taco Verde”. A rua importante ao norte da praça era a rua Reconquista até a Igreja da Merced, devido ao fato de ali entrarem as carretas de transporte e abastecimento.
Localizada neste novo lar, a Igreja da Merced virou o ponto de referencia da população ao “Norte da Catedral”, uma área que estava abandonada e que constituía os fundos da Catedral, da Plaza Mayor e do Cabildo, desde que a cidade começava a se estender e desenvolver no sentido o sul, em direção ao porto.
Desse modo, os mercedários, cuja irmandade funcionava nos primeiros tempos dentro da Catedral (Igreja Matriz), eles abriram um novo espaço onde não teriam concorrentes religiosos no bairro até o século XVIII com a chegada das freiras Catalinas. O tempo os recompensaria daquele afastamento inicial tornando-se o Convento Grande de San Ramón de Buenos Aires uma casa destinada, além de residência, à formação de religiosos que logo depois seriam enviados à Antiga Provincia Mercedaria de Santa Bárbara del Tucumán, (atual Provincia Argentina), fundada en 6 de janeiro de 1593.
O procedimento seguiu as etapas já conhecidas: a delimitação por paredes do lote e a construção das celas e capela de Nossa Senhora de la Merced. A igrejinha era de barro e palha, muito baixa, com chão de terra, com um único altar. O responsável por esta etapa foi fr. Pedro López Valero, que em 1603 colocou $ 500 fortes para a compra das imagens que identificavam a casa de Deus e o convento de San Ramón. O cemitério interior encerrou o processo de domínio do lote, já que o descanso final dos fiéis e do clero deu ao local um sinal de permanência.
Mas a precariedade do primitivo templo levou à decisão de construir um edifício definitivo em uma escala mais adequada. No início do seguinte século, chegaram a Buenos Aires os renomados irmãos jesuítas Giovanni Andrea Blanqui (ou Bianchi) e Juan Bautista Prímoli. Esses jesuitas participaram da realização das varias igrejas de Buenos Aires, bem como de outras no estado de Córdoba e nas reduções jesuíticas do Nordeste, no território Guaraní.
Foi encomendado a eles o projeto para a construção da igreja que conhecemos atualmente. A pedra fundamental foi lançada nas festividades do santo padroeiro de 1721. Em 1733, grande parte do templo foi habilitada, foram inaugurados a nave, a cúpula, a capela-mor e o transepto, mas as obras prosseguiram lentamente nas décadas seguintes, até que o templo definitivo só foi concluído por volta de 1779.

Frontão
Em 1894 iniciou-se uma remodelação total do edifício, cuja fachada foi modificada pelo arquiteto Juan Antonio Buschiazzo, famoso arquiteto nascido em 1846, na Itália.
Na fachada os nichos originais de ordem inferior foram cegados e colocados esculturas no andar superior mas a proposta mais inovadora do projeto de Buschiazzo era um frontão representando um conjunto escultórico que alude a um acontecimento histórico e fundamental na luta pela libertação do império espanhol.

Nesta obra, Manuel Belgrano é visto oferecendo à Virgem de la Merced o bastão de comando do Exército do Norte, antes da vitória na Batalha de Tucumán. Ante condiciones adversas, o resultado do combate transformou o triunfo em um milagre, e desde então Virgem de la Merced e é a patrona e general do Exército Argentino.
A obra de remodelação da Igreja da Merced durou seis anos e foi inaugurada em 24 de Abril de 1900.
Em 1954 o arquiteto Andrés Millé (também restaurador da igreja do Pilar), conduziu a restauração do nártex para seu estado original, resgatando assim uma linguagem mais próxima á original. Os interiores também foram trabalhados por diversos artistas, que realizaram pinturas murais e estuques que deram mais esplendor aos interiores sóbrios da época colonial.
O templo foi restaurado pela Secretaria de Obras Públicas da Nação entre 2001 e 2007 com uma equipe da Direção Nacional de Arquitetura e a empreiteira Interobras SRL.
Lei de Reforma do Clero (1822)

Em 21 de dezembro de 1822, o governo de Martín Rodríguez sancionou a lei de reforma do clero. Isso, somado a uma série de decretos anteriores, expedidos pelo então ministro do governo Bernardino Rivadavia, levou ao abandono forçado do convento Grande San Ramón Nonato e da Igreja pelos mercedários.
O decreto confiscatório emitido por Rivadavia forçou os mercedários a dissolver a ordem e ingressar no clero secular ou emigrar para as províncias. Desabrigados e em extrema pobreza, os irmãos mudaram-se para a então zona rural, onde tinham que percorrer uma considerável distância diária para assistir aos serviços religiosos na Igreja do Bom Pastor.
O Governo Provincial apropriou-se do Convento, O edifício funcionou sucessivamente como quartel e hospital que em 1830 recebeu ou “Asilo de Órfãos” administrado pela Sociedade de Caridade de Buenos Aires, que exerceu a sua atividade durante 92 anos, em 1925.
No final do século, em 9 de setembro de 1893, a Sra. Celina Bustamante de Belíritutegui doou a Fray Vicente B. Osán uma fração de um terreno, localizado na rua Gaona, no bairro Caballito. O doador comprometeu-se a construir uma Igreja de culto público e uma escola construída no terreno doado à Ordem de Nossa Senhora da Mercê.
No dia 4 de agosto de 1918 foi colocada e benzida a pedra fundamental da agora chamada “Igreja Nossa Senhora de Buenos Aires”, na esquina das avenidas Gaona e Espinosa e no dia 24 de setembro foi descoberta a imagem de Nossa Senhora da Mercê, em mármore catalão, para comemorar os 700 anos da ordem. A igreja foi inaugurada em 3 de dezembro de 1932 em estilo neogótico.

Em 1947 chega ao convento María Eva Duarte de Perón (Evita) e o transformou em escritório de Ação Social: sede da Fundação EVITA. Finalizado o goberno peronista, em 1965 albergou uma parte da Universidade Católica.
Atualmente a Ordem da Mercê tem a posse do convento, concedida pelo Governo Nacional através de dois decretos em 1963 após exatos 140 anos. A Igreja, entretanto, continua a pertencer à diocese e foi declarada monumento histórico nacional em 1942.
Assim finalmente, em 1963, o Convento voltou para as mãos dos religiosos mercedários. Atualmente é a sede da Cúria Provincial da Província Argentina Mercedaria, onde desenvolve diversas obras espirituais e culturais.
fonte:
- https://www.sobrebue.com
- https://historiaybiografias.com/historia_basilica_merced/
- Los Monumentos y Lugares Históricos de Argentina Carlos Vigil – Edit. Atlántida