Há muito tempo na área onde os primeiros habitantes da cidade foram estabelecidos, Monserrat é o mais antigo de dois bairros de Buenos Aires e os dois mais interessantes a nível turístico.
Este bairro abriga a praça mais importante da Argentina, a Plaza de Mayo, cenário central da segunda fundação de Buenos Aires por Juan de Garay em 1580. Portanto, a vida do bairro começou no início do nascimento de a cidade.
Seu limite ao norte é a Av Rivadavia, pelo qual dentro dele, são encontrados os locais históricos mais importantes de Buenos Aires; Cabildo, Casa Rosada e Catedral, Praça do Congresso, Manzana de las Luces, o Palácio Barolo e as igrejas de Monserrat, San Ignacio, São Francisco, Nossa Senhora do Rosário e… a igreja a San Juan Bautista.
Este bairro geralmente é confundido com o vizinho e famoso bairro de San Telmo, com um perfil marcadamente turístico e promovido como o Casco Histórico da cidade.
Mas falar do bairro de Monserrat é, acima de tudo, referir-se a outros tempos. Juntamente com o bairro de San Nicolas, a ambos os lados da Plaza de Mayo, eles foram os primeiros a se desenvolver em torno do “Forte Real”, um edifício que a coroa espanhola construía em cada domínio, como centro de administração e defesa.
Qual é a diferença entre os bairros de San Telmo e Monserrat?
San Telmo naquela época era apenas um “passo de carretas” chamado “Alto de San Pedro”, onde os viajantes faziam uma parada na viagem para descansar e alimentar os bois e cavalos, geralmente organizados em caravanas de três ou mais carretas, especialmente comerciantes de couro e alimentos.

Atualmente, os dois bairros unidos em uma trama contínua parecem a mesma coisa. Mas nem sempre foi assim: no início da era do vice-reinado colonial, San Telmo estava fora dos muros (extra muros), por sua vez Monserrat estava dentro dos muros, funcionando como centro do desenvolvimento político e social da época. O Zanjón de Granados era eludido por uma ponte, a traves da histórica rua Defesa (onde atualmente a Feira de San Telmo), muito inundada em dias de chuva e difícil de transitar.
San Telmo surgiu a princípio como um local para propriedades de famílias ricas, mas com o tempo tornou-se um bairro altamente povoado, devido à onda incessante da imigração europeia. A aglomeração de pessoas, a falta de esgotos e lixeiras eram características do bairro até que a febre amarela irrompeu e marcou o afastamento e relocação das famílias abastadas no outro lado da Plaza de Mayo, dos bairros San Nicolas e Recoleta.
Essas grandes casas abandonadas deram origem aos “Conventillos”, sendo o espaço subdividido em várias salas para aluguel. Era o tipo de aluguel que os imigrantes pobres (em sua maioria), encontraram um lugar ondecomeçar a aventura que significava morar em um novo continente.
Mesmo até a historia da Igreja de San Telmo e bem posterior. Fundada pelos jesuítas e após sua expulsão em 1795, chegou as mãos dos Betlemitas, transformando a antiga residência (do lado da capela), em um hospital. Seria no meio da “Revolução de Maio” (período de seis anos, 1810-1816), durante a luta pela independência da coroa espanhola, em 1813, que a Assembleia Geral Constituinte das Províncias Unidas do Rio da Prata emitiu um decreto no qual ou Poder Executivo Supremo fixou-se na sede da nova paróquia de San Pedro González Telmo, assumindo seu nome atual. A construção da igreja foi concluída em 1876, quando as duas torres foram projetadas pelo arquiteto e Pedro Benoit.
Monserrat
Monserrat deve ser um dos nomes que mais durou, junto com Recoleta e Retiro. Essas três áreas da cidade foram mencionadas dessa maneira, mesmo no período vice-reinal.
O bairro adotou esse nome em 1769, depois da edificação da Paróquia de Nossa Senhora de Monserrat. Os catalães e bascos estabelecidos na área construíram uma capela dedicada a Nossa Senhora de Montserrat, dedicação da Virgem venerada na Catalunha (o Mosteiro com esse nome, localizado no sopé de Montserrat na Espanha, mantém a imagem da Virgem carinhosamente chamada de “Morenita”.
Os habitantes nos redores da Igreja de Montserrat receberam um apelido muito popular, eles foram chamados de bairro “mondongo”, porque a área havia sido ocupada por negros escravizados. Eles eram muito devotados da Virgem Morenita de Montserrat e, por sua vez, muito fãs da “dobradinha” o mondongo, cujo cheiro característico dominava vários quarteirões. Em 8 de setembro, ocorria a procissão da Virgem Morena. Centenas de negros desfilaram por trás da imagem venerada e percussões do candombe podiam ser ouvidas. Foi assim que, além de chamá-lo de bairro de mondongo, foi nomeado como bairro dos tambores. Esses colonos vieram de diferentes partes da África com suas bandeiras, costumes e tradições. Foi então que o bairro passou a ser chamado de “bairro do tambor” por sua música, candombes e carnavais.
Igreja de San Juan Bautista
No entanto, a história que vou narrar neste post fala sobre a igreja de San Juan Bautista, que foi um dos primeiros templos que foram construídos no vice-rei de Buenos Aires. (Antes surgiram os de San Francisco e San Ignacio).
Não era o tipo de igreja frequentada por pessoas com qualquer posição econômica privilegiada. Para os favorecidos, as igrejas eram Santo Domingo, São Francisco, San Ignacio, La Catedral e La Merced.
O local não era propício para os habitantes, devido às pastagens, montanhas densas, lagoas e riachos, o que também dificultava a presença dos fiéis na igreja. Localizado na rua Alsina 824 no século XVII, hoje no coração da cidade, a igreja de San Juan Bautista era um oratório, tão distante do núcleo da incipiente população fundacional que só era visitado por povos indígenas, chamados de “naturales”, e por escravos. Destinado ao serviço dos nativos, era denominado “Curato de Indios”. Em 1646, foi designada “paróquia de nativos”, isto é, para uso dos índios que serviam como criados, para pequenos artesãos e para yanaconas (encomenderos), aqueles que acompanhavam as tropas dos carruagens.
A Igreja de San Juan Bautista é uma igreja localizada na rua Alsina, esquina Piedras, no bairro de Monserrat, em Buenos Aires. A igreja primitiva foi construída em 1654, devido ao seu péssimo estado se reconstruí em 1719. Seria completamente reconstruída em 1767, demolida em 1778 para construir a construção atual, concluída em 1797. A igreja de San Juan Bautista foi declarada Monumento Histórico Nacional em 1942, enquanto a Igreja de Montserrat foi declarada em 1978.
Para acabar, dos fatos dificil de asimilar … São João Batista nao é paróquia ,as é monumento histórico nacional, e sendo mas antiga, ela depende da igreja Nuestra Señora de Monserrat.
A Comunidade Basca e São João Batista de Betharram
Essa igreja é chamada de igreja dos bascos porque, na época, havia grande imigração daqueles nacidos no Pais Basco que foram ao templo para assistir à missa. Por esse motivo, os Padres da Ordem do Sagrado Coração (Bayoneses), de origem basca, foram enviados para lá.
A Igreja de San Juan Bautista é um dos primeiros lugares de onde os padres de Betharram – ou Padres Bayoneses – realizam seu trabalho apostólico quando chegaram à Argentina em 1856, em favor dos bascos estabelecidos no Rio da Prata (Buenos Aires e Uruguai).
No segundo domingo de cada mês, às 11 horas, a missa dos bascos é celebrada na Igreja de San Juan Bautista. Nesta missa, que ocorre há décadas, ora-se pelos falecidos da comunidade basca e pelas intenções especiais de suas famílias e amigos.
Freiras Capuchinhas
No ano de 1754, chegaram a esta igreja as freiras capuchinhas, e montam o convento junto á igreja. Os únicos dois mosteiros de clausura que Buenos Aires possuía durante o período colonial foram: Santa Catalina de Sena, das freiras dominicanas – “calzadas” – e Nossa Senhora do Pilar, de Capuchinas – “descalzas” -. Pelo qual existem muitas contas para falar num próximo post, sobre a vida das mulheres na época colonial e aquelas que optavam por uma vida consagrada á religião.
O Entorno
Uma praça ocupa o espaço do convento demolido, chamada “Praça da Reconquista”, foi palco de intensas lutas durante as invasões inglesas de 1806 e 1807.
Um grande setor da rua Alsina é uma bela praça arborizada, ligada a antigos pátios, cercada pelas paredes originais da igreja – com mais de dois metros de espessura – e pela moderna torre do “Hotel Intercontinental”, complexo que comunica-se nos fundos com os domínios da igreja estabelecendo um espaço aberto aos turistas, no qual o presente e o passado são harmoniosamente valorizados.
Hotel Intercontinental
Situado atrás da igreja, na Rua Moreno, é um empreendimento da rede InterContinental Hotels & Resorts, que possui aproximadamente 130 hotéis em 50 países. Contou com investimentos das empresas argentinas: Inter-Rio Holding e Alto Palermo Construcciones, do Grupo Perez Companc. Os investimentos deste complexo hoteleiro ultrapassaram 61 milhões de dólares e pertence ao grupo dos seletos hotéis de 5 estrelas que pode encontrar em Buenos Aires.

Possui, entre outros serviços, 315 quartos, piscina coberta, academia, business center, boutique, agência de viagens, o restaurante “Mediterraneo”, e 9 amplas salas para banquetes, congressos e eventos com capacidade para mais de 1700 pessoas.
A construção do hotel foi realizado entre 1991 e 1995. Com uma área total de 39.400 m2 em 26 andares, o projeto foi realizado pelos arquitetos Urgell – Fazio & Asociados, Augusto Penedo e Giselle Graci e resultou na adoção de uma tipologia de torre. A forte influência da repetição modular da janela prevalece em sua fachada (uma característica substancial na indústria hoteleira).
Hotel Merit San Telmo
O edifício que esta de frente para a igreja San Juan Bautista desde 2014, opera como Hotel Merit San Telmo de 3 estrelas, é um hotel de 8 andares e dispõe de 141 quartos, um business center e o bar da marca Bonafide, com acesso de fora e dentro do hotel.
A oferta hoteleira no bairro de Monserrat é imensa, de todo tipo e preço. O Hotel Merit San Telmo fica apenas a quatro quarteirões da “Plaza de Mayo” e da famosa “Manzana de las Luces”. Ao ser um Hotel de três Estrelas, tem quartos a um preço acessível no coração do bairro de Monserrat.
A arquitetura denota a influência italiana da metade do século passado, especialmente refletida por sua varanda na esquina fechada com vidro. O edifício é una uma construção de 1940.
Mas numa época nesta mesma esquina (ruas Alsina e Piedras), existiu o edifício que pertenceu à loja “Tienda San Juan”. A loja desapareceu em 1908 sob um fogo intenso.
Em 21 de janeiro de 1908, às 11 horas da manhã, um incêndio aterrorizante explodiu em uma das lojas mais famosas de Buenos Aires, a Tienda San Juan, um importante estabelecimento dos irmãos Cibrián and Co., localizado na esquina das ruas Alsina e Piedras, fundada em 1875.
O corpo de bombeiros rapidamente participou do incidente, iniciando uma luta tenaz contra as chamas, que ameaçava engolir toda a loja. O ataque dos bombeiros foi forte e seguro. Depois de três quartos de hora de luta, eles conseguiram circunscrever o fogo no lado esquerdo da loja, impedindo que se espalhasse para o primeiro andar e os porões.
Mas outro incêndio já tinha sido o protagonista no bairro um século atrás por ocasião da inauguração das obras de reforma na igreja de San Juan Bautista e a chegada das Capuchinhas ao convento. Para esse evento, foram utilizados fogos de artifício que atingiram acidentalmente, ou não, o teto de palha do vizinho Teatro de La Ranchería, que era o primer teatro estável em Buenos Aires, localizado na esquina das ruas Alsina e Peru.
O Teatro de La Ranchería permaneceu até 1792, quando um incêndio o destruiu completamente. Ele pegou fogo na noite de 16 de agosto de 1792, com um dos foguetes disparados do átrio da igreja de San Juan Bautista, do convento das Capuchinhas. Alguns comentários piedosos devem ter sido feitos pelas mães e seus capelães sobre o fogo do céu que reduziu a cinzas a casa do erro e dos prazeres mundanos. A verdade é que nunca se soube se foi um acidente ou um atentado. A hierarquia católica não via a presença do teatro com muita simpatia, pois era pecaminosa. Este teatro, berço do “Circo Criollo”, foi o primeiro a existir em Buenos Aires e, a cada 30 de novembro, dia de sua inauguração, o “Dia Nacional do Teatro” é comemorado na Argentina.
Arquitetura Moderista vs Neocolonial
Nos fundos, a antiga horta da igreja hoje convive com o Hotel Intercontinental, uma obra em torre super moderna, situação que ne leva a pensar nos casos brasileiros modernistas. Em muitos cenários se deu a dualidade dos tempos passado e presente, diferentes cronologias num mesmo lugar.
A inserção do Grande Hotel de Oscar Niemeyer em Ouro Preto marca umas das primeiras inserções modernistas em sítios históricos, no momento em que a arquitetura modernista tinha grande força no Brasil, na mesma hora que o primer ente governamental (SPHAN) Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, tinha surgido e estava em fase de consolidação.
Os projetos apresentados envolviam uma disputa conceptual dentro do âmbito da Arquitetura daqueles tempos: Moderista vs Neocolonial. Os modernistas asseguravam que seus projetos não eram suscetíveis de confundir-se com as edificações tradicionais da cidade de Ouro Preto, conformando expressões genuínas de contemporaneidade … enquanto o projeto neocolonial era julgado de “falsa arquitetura”, capaz de desvirtuar o verdadeiro contexto histórico.
Por tanto não cabe eu opinar sobre a inserção do Hotel Intercontinental na horta da Igreja e convento São Juan Buatista, pois neste caso pelo menos foi feito na horta, e não foi preciso derrubar edificações antigas, fato esse sim, que realmente revolta a todos aqueles que amamos e respeitamos o patrimônio histórico da cidade de Buenos Aires.
Neste caso, como a obra de Niemeyer em Ouro Preto da como resultado expressões do contexto urbano atual, misturas híbridas … contemporâneas e colonial.
Ruas que limitam quarteirão e suas histórias:
Alsina Adolfo: ele foi filho de Valentin Alsina, governador da província de Buenos Aires em duas ocasiões (1852 e 1858-1859). Ele viveu e morreu na casa que possuía o número 1169-73 da numeração atual, no coração de Monserrat. Adolfo Alsina também foi governador da província de Buenos Aires entre 1866 e 1868, vice-presidente da República Argentina durante a presidência de Domingo Faustino Sarmiento no período de 1868 e 1874, ministro da Guerra, durante a presidência de Nicolás Avellaneda até sua morte. O primeiro nome desta rua foi San Carlos (1734); depois Alzaga (1808); Potosi (1822); Santa Clara (1848); Potosi (1862); Alsina (1878) e Adolfo Alsina desde 1977.
Piedras: Seu primeiro nome foi San Juan (1734), pois passou ao lado da antiga capela de San Juan Bautista. Depois Correa (1808), e com o nome atual desde 1822. Lembra-se do sucesso do combate travado pelas forças comandadas por Artigas contra os monarquistas de Montevidéu; bem como um outro Combate de Las Piedras, realizado pelo Exército do Norte sob o comando do coronel Eustoquio Diaz Velez.

Tacuari: Evoca a batalha travada pelas forças comandadas por Belgrano, em 9 de março de 1811, durante a expedição ao Paraguai. Chamada de Santo Tomas (l 734); depois San Miguel (1769); Casais (1808) e com seu nome atual desde 1822. Na esquina com Alsina, a primeira prisão em Buenos Aires seria construída aqui. Lucio Noberto Mansilla, Gral de la Independência e seu filho brigadeiro-general Lucio Victor, que lutaram contra os índios Ranqueles, construiriam sua casa no mesmo terreno que a primitiva cadeia.
Moreno: Dedicado à memória do jurisconsulto e político Mariano Moreno, secretário da Primeira Junta governamental, durante os primeiros dias da Revolução de Maio. Chamada de São Francisco (1734), Villanueva (1808), Biblioteca (1822), Rosas restaurador (1836), São Francisco e General Lopez (1849) e, finalmente, Moreno (1857).
fonte:
- https://turismo.buenosaires.gob.ar/br
- https://www.argentina.gob.ar/cultura/patrimonio
- http://www.gazetademontserrat.com.ar/reconquista.php
- Hotel Intercontinental
- Hotel Merit San Telmo