A Galeria Güemes, localizada no coração de Buenos Aires: Florida 165, foi o edifício mais moderno e multifuncional que existiu na moderna Art Nouveau de Buenos Aires. Não existia antes, nem existiu depois, um edifício que reunisse uma galeria comercial, um salão de eventos, um magnífico teatro, quatro andares com escritórios, sauna e banhos finlandeses, sala de esgrima, hotel, restaurante e confeitaria no 14º andar e um mirante no ponto mais alto da cidade.
Na Galeria Güemes se concentraram eventos e personagens que fizeram parte da história argentina do século passado: era frequentada por Jorge Luis Borges, Julio Cortázar, o pintor Juan Lamela, Carlos Gardel atuou em 1917 e o aviador e escritor Antoine de Saint Exupéry autor do famoso livro O Principezinho viveu entre 1929 e 1930 em um apartamento do sexto andar.
O Principezinho visita Buenos Aires
O que é interessante na galeria não está apenas no que se vê, mas também no que aconteceu, ou melhor, naqueles que a caminharam ou habitaram ao longo de um século de vida. Um de seus personagens mais famosos foi o escritor francês Antoine de Saint-Exupéry, autor do famoso livro O Principezinho, que viveu entre 1929 e 1930 em um apartamento no sexto andar da Galeria Güemes, hoje pode ser visitado de segunda a sexta, das 9h30 às 12h30, com entrada gratuita.
O Principezinho é atualmente o terceiro livro mais vendido da história, depois da Bíblia e O Capital. Além disso, é o livro de contos que foi traduzida para o maior número de idiomas, 391 até agora, e tem mais de duzentas capas diferentes.


Viveu durante algum tempo num dos apartamentos que a Galeria decidiu valorizar e permitir a visitação do público desde julho de 2016. O apartamento localiza-se no sexto andar da Galeria. Você pode ver uma amostra com manuscritos, fotos, cartas e mapas, feitos em uma investigação da professora Clara Rivero.
Antoine de Saint-Exupéry tinha vindo a Buenos Aires para ocupar o cargo de Diretor de Tráfego da Aeroposta Argentina, empresa dedicada ao transporte de correio e passageiros, subsidiária da Compagnie Générale Aéropostale de France, também focada na abertura de rotas aéreas desconhecidas naquela época.
Durante sua estadia em Buenos Aires, Saint-Exupéry se hospedou no apartamento 605, no sexto andar da torre Mitre da histórica galeria. E foi lá, geralmente de madrugada, que escreveu Vol de nuit (Vôo Noturno), romance ambientado na Argentina, e no qual expressava suas memórias pessoais em relação à aviação e aquele sentimento de liberdade que também encontrava ao escrever. Esse livro seria publicado após seu retorno à Europa em 1931.
Durante sua estada em Buenos Aires conheceu sua futura esposa Consuelo Suncín-Sandoval Zeceña, uma artista plástica salvadorenha, amiga do presidente Yrigoyen e viúva do escritor Enrique Gómez Carrillo. Eles se casaram em abril de 1931.
Também aqui conheceu o famoso arquiteto Le Corbusier, a quem levou para sobrevoar Buenos Aires quando visitou a América Latina sob os auspícios de pessoas ou entidades que queriam contratá-lo como arquiteto. Le Corbusier, de 43 anos, era considerado pelas elites culturais mundiais como um renovador da arquitetura clássica até então conhecida.
Ele foi convidado por um grupo privado cultural chamado Amigos del Arte, que trouxe muitos escritores, pensadores e artistas famosos, sendo recebido em Argentina por Victoria Ocampo e outros membros da vanguarda de Buenos Aires. Eles sonhavam com Le Corbusier dando à luz uma nova arquitetura para Buenos Aires.
Carlos Gardel
No subsolo do Palácio, o arquiteto conseguiu criar uma obra-maestra de distribuição, projetando com belas proporções e sob um inspirado conceito artístico, duas grandes salas unidas por um hall central que mede dez metros por trinta.
Depois de décadas sem funcionar, eles também foram restaurados e hoje funciona o complexo “Palacio Tango”, onde foram montados dois teatros de tango que oferecem apresentações simultâneas para deleite dos turistas locais e estrangeiros: o “Teatro Astor Piazolla” e o “Teatro Carlos Gardel”.
O Teatro Carlos Gardel mantém seus camarotes e até a varanda original onde tocava a Orquestra das Señoritas. Agora, nessa varanda está instalada a orquestra do espetáculo (composta por dois bandoneonistas, dois violinistas, um pianista e um contrabaixista), junto as cinco duplas de bailarinos, Essa sala, em tempos normais, comporta 220 pessoas.

A primeira parte da carreira profissional de Carlos Gardel surgiu a partir da dupla conformada junto a José Razzano. O repertorio deles incluía valsas, canções folclóricas: (zambas, chacareras, cuecas, bambucos, etc).
Em 1917 ocorre um acontecimento de singular importância na história da música popular argentina, o poeta Pascual Contursi, com música de Samuel Castriota, compõe a “primeira obra do tango-canção” intitulada MI NOCHE TRISTE, o primeiro grande sucesso na carreira musical de Carlos Gardel, Esta obra é gravada alguns meses depois por Carlos Gardel na discográfica Selo Odeón tornando-se no primeiro cantor nacional a interpretar um tango com letra, o denominado “tango-canção”. A primeira vez que Gardel cantou um tango em público foi no Teatro Empire, lá estrelou Mi Noche Triste, também no ano de 1917. Depois disso, outros tangos foram incorporados ao repertório, como: “Flor de fango”, “Ivette” e “De vuelta al bulín” e muitas outras.
Naquele ano, também faria a primeira atuação no cinema, no filme mudo: “Flor de durazno”, dirigido por Francisco Defilippis Novoa, gravado no estado de Córdoba. Se estrelou no Teatro Coliseo de Buenos Aires em 28 de setembro de 1917.
Juan Lamela

Ele nasceu em 1906 na cidade de La Plata. Filho do jornalista Máximo Victor Lamela, um dos fundadores do jornal El Día de La Plata, a família toda mudou-se para o interior do pais passando sua infância em La Pampa. Este fato tem uma enorme repercussão na sua produção posterior, pois lhe permite entrar em contato com a vida do campo e de seus trabalhadores.
Ainda criança, acompanhou os troperos (os que conduziam o gado) que partiam de Mercedes para Buenos Aires, o que lhe permitiu conhecer profundamente a vida dos camponeses, que posteriormente retratou com enorme habilidade. Estudou desenho e pintura na Escola Nacional de Belas Artes, onde mais tarde se tornou professor.
Já dedicado à arte, na década de 30 inaugurou seu ateliê no 14º andar da Galeria Güemes. Um lugar que com o tempo se tornaria um espaço de encontros e conversas de distintos representantes da arte, e onde irá organizar os prémios “Orden Pampa”, prémio poderíamos dizer, da sua criação.
Entre suas obras mais conhecidas estão “El Viejo Vizcacha” e as litografias que ilustram o Martín Fierro, de José Hernández na edição realizada pela editora Ayres em 1963.
El Gaucho Martín Fierro é um poema narrativo escrito em verso, uma obra literária considerada exemplar do gênero gaúcho, escrito pelo poeta argentino José Hernández em 1872. O livro foi publicado em centenas de edições e traduzido em mais de 70 línguas, é considerado o emblema do livro nacional dos argentinos.
Seu momento de maior difusão ocorreu em 1970, quando a tela do canal 7 de TV exibiu o programa “Estirpe”, espaço em que, ao explicar algum tema da cultura crioula, Juan Lamela ilustrava essas histórias em seu cavalete de pintor. Por este programa, recebeu em 1975 o popular Prêmio “Santa Clara de Asís”.
Após 60 anos, já consolidado e reconhecido, começou a viajar pelo mundo, visitando diversos países da Europa e América. Aproveitando para expor e dar palestras sobre “Costumes do Campo Argentino”. O famoso Quinquela Martín, colega e amigo, disse que “A obra do Pintor Lamela é a verdadeira expressão da emoção argentina”.
Seus trabalhos não se refletiram apenas nas ilustrações, mas ele também foi muralista e até serviu seus conhecimentos para assessorar projetos cinematográficos.
Jean Almouhian

O coral Arax da Asociación Amigos da Música Arménia, foi criado em 1957 e desde o seu início centrou-se na divulgação do canto coral e da música arménia, tendo também interpretado as suas obras em línguas de outros povos, como o espanhol, italiano, alemão, inglês, grego e russo. Foi considerado um dos mais destacados da Diáspora Armênia e destacou-se entre os coros argentinos com presença nos mais diversos palcos mundiais.
A frutífera atividade do Mestre rendeu-lhe reconhecimento nacional e internacional, especialmente nos Estados Unidos, Oriente Médio, Europa e na República da Armênia, onde sua obra foi executada, gravada e publicada. Entre outros prêmios, o Maestro Almouhian recebeu, em 2013, a medalha Movsés Jorenatzí, um reconhecimento de primeira mão do Presidente da Armênia.

No dia 12 de dezembro de 2018, o Espaço Cultural ¨Coro Arax¨ foi inaugurado na emblemática Galeria Güemes, em homenagem ao seu fundador Maestro Jean Almouhian, em cerimonia precedida pela Dra. Cecilia Osler, presidenta do Directorio da Galería Guemes.
Estavam presentes alguns dos integrantes do Coro ¨Arax¨ que aos poucos subiram a escada helicoidal, até chegar ao novo ¨Espaço Cultural¨, eles reuniram-se naquela sala que por mais de cinco décadas foi sua Sala de Ensaio, repleta de histórias e memórias.

Musicólogo, autor e compositor, orquestrador vocal e instrumental, em 14 de maio de 2021 o mestre faleceu na cidade de Buenos Aires.
fonte:
- http://galeriaguemes.com.ar/galeria/anecdotas
- https://www.buenosairesantiguo.com/pasaje-guemes/
- http://www.trascarton.com.ar/aniversarios/los-100-anos-de-la-galeria-gueemes
- http://www.acciontv.com.ar/soca/bsas/fotos6/guemes.htm
- https://www.lanacion.com.ar/espectaculos/musica/el-ex-piazzolla-tango-reabre-hoy-gran-nid2530226/