A estrutura do edifício Güemes é feita de concreto armado. Isso o torna um dos primeiros edifícios altos a usar essa tecnologia no mundo e o primeiro naquela rara tipologia que combina arranha-céu e galeria comercial.
Também conhecido como Paseo Florida, foi considerado o primeiro arranha-céu construído em Buenos Aires com 14 andares e 80 metros de altura. Durante dois anos foi o edifício mais alto da cidade, mas perdeu o título em 1917, quando construíram o “Pasaje Barolo” na Avenida de Mayo, com 100 metros de altura.
A Galeria Güemes passou por uma primeira etapa de restauração, 2005-2008, onde foram redescobertas as duas cúpulas da galeria e os teatros localizados no subsolo. Em 2013 chegaria a vez do mirante localizado no 14º andar, recuperando para o patrimônio da cidade aquele que fora nos começos do século passado, o ponto mais alto da cidade de Buenos Aires.
Galeria Güemes
A Galeria Güemes foi o primeiro edifício do país executado inteiramente em concreto armado, uma técnica inovadora para a época em uma linguagem decorativa art nouveau que transmitia a mensagem de criação livre e imaginação típica dos novos tempos.


Na verdade é que a técnica de concreto armado, reforçado por barras e malhas de acero, aconteceu primeiro na França (criada pelo francês Joseph Monier en 1861) e depois na Alemanha, sendo que o primeiro arranha-céu com esse material foi construído nos Estados Unidos. Porém, como destacam os especialistas, “foi no Rio de La Plata que empresas e engenheiros alemães experimentaram o uso vertical do concreto, com resultados notáveis”. Além disso, a tradição norte-americana foi levada em conta no que respeita a nomenclatura dos andares: vai de 12 diretamente para 14, evitando o 13, considerado azarado.
Os promotores da obra foram Emilio San Miguel e David Ovejero de Salta, donos de uma grande fortuna, eles tinham um casarão de 1830 que ficava no terreno da Rua Florida. A princípio se pensou em realizar a obra somente nesta rua, mas depois o Banco Supervielle, dono do lote que dava para a rua San Martín, aderiu ao projeto. Decidiu-se então construir um único edifício que ligaria as duas ruas por meio de uma galeria comercial de 116 metros.

O empreendimento foi confiado ao arquiteto italiano Francisco Gianotti, o mesmo autor da Confitería del Molino (1916). As obras começaram em 10 de março de 1913 e progrediram muito rapidamente, apesar do naufrágio do navio mercante italiano que transportava os mármores decorativos da galeria por parte de um submarino alemão, durante a Primeira Guerra Mundial.
Em 15 de setembro de 1915 foi inaugurada a Galeria Güemes, o primeiro arranha-céu de Buenos Aires com 14 andares e 87 metros de altura. Em 32 meses, as obras a cargo da Companhia Geral de Obras Públicas (GEOPÉ). A galeria receberia o nome de “Galeria General Güemes”, em homenagem ao caudillo do norte argentino Martín Miguel de Güemes.
Esse papel pioneiro da galeria não se reduziu ao técnico, mas também aos usos, reflexo das aspirações arquitetônicas da vida nas metrópoles do início do século XX: tinha teatros, cabaré, escritórios, lojas, banheiros turcos, apartamentos, um restaurante e um mirante de 360 graus no terraço.
Buenos Aires nas alturas
O complexo monumental da Galeria Güemes foi concebido em base a dois edifícios com subsolos independentes, tendo apenas em comum a galeria no piso térreo. O esquema do complexo consistia em três subsolos, um corpo sólido com seis andares (desde a rua San Martín até a rua Flórida) atravessado pela galeria e um bloco de oito andares do lado da rua Flórida. Este terminava em um terraço, alcançando 76 metros de altura e coroado por uma torre que por sua vez terminava em um farol com o qual era completado cerca de 80 metros acima do nível da calçada. Isso o tornava o edifício mais alto da cidade, superando ao edifício Railway Building (na rua Paseo Colón 181), inaugurado em 1910, o mais alto até então.
No final dos anos 10 as alturas máximas da cidade de Buenos Aires eram dadas pela cúpula do Congresso Nacional, o Railway Building, a Galeria Güemes, as torres de La Inmobiliaria e a torre de 65 m que coroou a expansão do Palácio Municipal, ocorrida no início da década. Também não podemos deixar de citar o Edifício Otto Wulf, obra do arquiteto dinamarquês Morten F. Rönnow, localizado na esquina da av. Belgrano e Peru, outra “massa edilícia” de quase 60 metros, composta por 11 níveis, duplo mirante e cúpula dupla, que foram construídas tambem em concreto armado, entre os anos 1912 e 1914. No entanto, não demorou muito para que um novo colosso surgisse acima de todos os edifícios da cidade. No início da década de 1920, a Avenida de Mayo voltaria a surpreender a opinião pública portenha com a construção do Palácio Barolo, símbolo máximo de elegância naquela artéria.
Mirante
No último andar havia um restaurante e um mirante. O restaurante Florida era o ponto de encontro para reuniões da alta sociedade, políticos e militares, desde cujas janelas se avistava o magnífico panorama da cidade, com seu grande porto e seu magnífico Rio de la Plata. Este amplo salão media 21 x 30 metros.


Atualmente esse restaurante não existe, resta apenas uma parte daquele que foi o restaurante mais alto do país, um ambiente de vidros biselados, vitrais alegóricos, varandas e madeiras gloriosas, hoje está impecavelmente restaurado e foi convertido em salão de eventos.
O mirante era a grande atração pois com uma vista de 360°, permitia uma visual panorâmica dos edifícios históricos mais emblemáticos da cidade. As pessoas faziam fila para subir ao seu mirante, desde onde conseguiam observar o crescimento de Buenos Aires depois de depositar 25 centavos em um telescópio.
Para os níveis superiores do mirante, você terá que subir mais dois lances da escada em caracol. O prêmio será uma vista privilegiada.
Desde o mirante é possível apreciar um panorama privilegiado das cinco cúpulas da intersecção das ruas Diagonal Norte e Flórida, a poucos metros: aquela de quatro andares do vizinho “Miguel Bencich”, as duas do Edifício “Bencich Rent”, o telhado do antigo Banco de Boston e a cúpula de “La Equitativa del Plata”, um belo expoente do Art Déco.
Em 2010, com o objetivo de incluir o edifício no tour do programa Miradores de Buenos Aires, este espaço foi habilitado em forma preliminar para torná-lo acessível ao público. O sucesso dessa convocatória decidiu a administração da galeria a empreender uma ampla restauração deste espaço, que levou cerca de dezoito meses para ser concluída. “Não há registros exatos de quanto tempo esteve fechado, mas no momento da inauguração era o ponto mais alto do país”, explica Humberto Magistrelli, gerente geral da galeria há 14 anos.
Este espírito original, de que a galeria funciona como um edifício multifuncional, mantém-se atualmente, “Queremos que Güemes se torne um polo turístico e cultural, por isso colocamos ênfase neste miradouro que tem vistas 360°, que em dias claros permite ver a costa uruguaia”, descreve Magistrelli.
Quando começou o processo de restauração, pensou-se em consertar as lâminas de cobre que cobriam a parte externa da torre. A empresa Dölfer, encarregada dessa complexa tarefa, recomendou em primeiro lugar a remoção das camadas que cobriam a estrutura metálica para repará-la. Quando este processo foi realizado, parte das chapas quebrou e foi necessário retirá-las completamente e substituí-las por novas chapas de cobre.
A estrutura metálica original foi restaurada na sua totalidade, também a alvenaria, e as paredes que não eram originais foram demolidas para melhorar a aparência. O mesmo trabalho de recuperação foi feito na escada.
O mirante pode ser visitado de segunda a sexta-feira, com acesso em pequenos grupos, entre as 9h30 e as 12h30 e à tarde, entre as 15h00 e as 17h40.
fonte:
- http://galeriaguemes.com.ar/galeria/anecdotas
- https://www.buenosairesantiguo.com/pasaje-guemes/
- https://www.lanacion.com.ar/lifestyle/historias-ciudad-quienes-fueron-gath-chaves-nid2380595/
- https://www.clarin.com/ciudades/galeria-guemes-estreno-bar-terraza-vista-privilegiada-cupulas-lindas-ciudad_0_gyp161fh.html