Valorizando a figura do herói da Inconfidência Mineira, em 6 de dezembro de 1889, o governo republicano homenageia Tiradentes colocando seu nome na antiga cidade de Santo Antônio da Ponta do Morro. Atualmente, o centro histórico da cidade de Tiradentes é reconhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade, tomado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), considerado um dos pontos turísticos mais importantes do Brasil.
A Igreja Matriz de Santo Antônio, impõe-se à paisagem de Tiradentes e pode ser apreciada de diversos pontos da cidade. Ela compõe belos quadros com a Serra de São José, ipês amarelos e casarões coloniais.
Em esta primeira parte vamos a conhecer o exterior da igreja cujo risco da fachada pertence ao mais famoso artista do Barroco Mineiro: o Aleijadinho. Na segunda parte veremos o interior deslumbrantemente dourado já que esta igreja é considerada a segunda igreja em ouro do Brasil, sendo a primeira em Salvador, Bahia. No seu interior um órgão datado de 1788, trazida pelos portugueses e que é classificado como um dos quinze mais importantes do mundo.
Tiradentes e São João del-Rei (MG), Brasil
Tiradentes e São João del-Rei, ambas as duas cidades se encontram situadas as margens do Rio das Mortes e interligadas pelo famoso trem Maria Fumaça, a mais antiga via ferroviária em operação no país. Desde sua fundaçãoem 1880, a ferrovia nunca parou de funcionar. O tráfego ferroviário nos 12 quilômetros do trecho entre São João Del Rei a cidade histórica de Tiradentes ainda atrai muitos turistas e moradores locais, interessados em viajar pela história, a bordo das centenárias locomotivas, orundas da Estrada de Ferro Oeste de Minas.
Fachada da Igreja de Santo Antônio
A fachada principal atual, construída no início do século XIX, constitui-se de corpo central definido por cunhais largos sobre embasamento de cantaria, onde se insere, ao centro, a porta principal. À altura do coro, duas janelas rasgadas, com sacada entalada, iluminam esse importante espaço. Uma vigorosa cimalha de alvenaria de tijolos define a parte inferior da fachada, arqueada na área central para a inserção de grande óculo, que curiosamente é cortado no centro pelo forro do coro. Sobre a cimalha desenvolve-se o frontão, recortado em grandes curvas, com volutas e coruchéus, arrematado por acrotério levemente arqueado onde descansa a cruz de pedra-sabão, acompanhada por pelouros flamejantes.
O adro da matriz é todo fechado por muros de alvenaria de pedra, sendo a lateral do evangelho de moledo. Os muros de arrimo que contêm o aterro na área frontal da igreja são de alvenaria de pedra de grandes dimensões, com pilastras de cantaria e capeamento em lajes lavradas. A escada, patamares e adro são calçados de pedras quartzito e xisto verde, com os balaústres dos gradis em pedra-sabão. O portão frontal e o lateral tiveram as vedações de madeira substituídas em meados do século XIX por portões de ferro forjado com detalhes em chumbo.

No adro da igreja, um original relógio de sol esculpido por Leandro Gonçalves Chaves chama a atenção do visitante. Dali, a bela paisagem formada pela imponente serra de São José seduz os turistas.
Reconstrução da fachada sob projeto do Aleijadinho
A interferência do mestre na fachada da Matriz de Tiradentes limita-se ao frontão e torres, pois o risco deve ter encontrado a obra à altura da cimalha. É possível que a obra teria se iniciado em 1806 ou 1807 e a execução do risco dataria de 1809, uma vez que foi lançado nas contas daquele ano. A essa altura, Cláudio Pereira Viana e seus oficiais tinham recebido vários pagamentos por obras de pedreiro e a pedra para a portada já fora extraída da pedreira e conduzida para o canteiro de obras. O interessante é que o documento de pagamento pelo risco do frontispício refere-se ao mestre como “Aleijadinho”, e talvez seja um dos poucos que o nomeia assim ainda durante a sua vida. Pouco tempo depois, em 1814, Antônio Francisco Lisboa faleceria.
Analisando a fachada da Matriz de Tiradentes, notam-se a simplicidade e o despojamento da obra, conservando-se a elegância rococó do trabalho do mestre Antônio Francisco Lisboa no recorte do frontão delicado, baseado em duas grandes volutas apoiadas em socos curvos.

Quando o mestre pensou esse frontispício, deve tê-lo imaginado em cantaria de pedra-sabão, como tanto gostava, e a substituição pela alvenaria de tijolo revestida de cal e areia fez com que perdesse a sua força decorativa. A pedra-sabão ficou restrita à portada e ao cruzeiro que encima o frontão.
Como o frontão e as torres foram feitos em alvenaria de tijolo, aparecem nas contas vários pagamentos pela compra de tijolo e cal. Cerca de 25 mil tijolos foram adquiridos das olarias da vila, sendo parte fabricada por Antônio Veloso Xavier, irmão do botânico frei José Mariano da Conceição Veloso. Incluem-se também na documentação madeira para andaime e outros acabamentos e carregamentos de cipó para amarração dos andaimes.

As obras das torres e frontão devem ter terminado em 1811, pois há registro de pagamento de 12 oitavas e um quarto de ouro a João Bruno da Fonseca pela pintura das “torres, portas e óculo da matriz”.
Mas o gosto rocaille fino do mestre ainda pode ser notado na concepção desses detalhes, assim como nos pináculos sobre as volutas do frontão e nos pelouros com fogaréus que ladeiam a cruz. Esse último detalhe, presente em edificações portuguesas do século XVIII assinadas pelo arquiteto Nicolau Nazoni, já tinha sido usado por Aleijadinho, na mesma posição, na capela Terceira Franciscana de Vila Rica.
A marca do mestre aparece ainda mais nítida na concepção das torres, principalmente nas coberturas em capacete de soldado prussiano. A implantação dos relógios nas torres, ligados à sineira, a cimalha arqueada, os cunhais de chanfro, as arestas das cúpulas e os pináculos, completam a obra.
Ladeando o corpo central há duas torres cuja parte inferior é lisa e retilínea, com apenas duas seteiras para iluminar as escadas. Na parte superior, da cimalha para cima, as torres quadradas têm os cunhais de chanfro e janelas sineiras arqueadas nos quatro lados, com seus sinos. Sob as janelas sineiras frontais, dois mostradores circulares de relógio funcionam como elemento decorativo, uma vez que só o do lado do Evangelho possui o mecanismo do relógio. Nas faces laterais e posteriores os relógios foram substituídos por elementos decorativos circulares com relevos rocaille, do tipo rosácea. Cobrem as torres cúpulas recurvadas, quadripartidas, com arestas salientes terminadas em pináculos ou agulhas facetadas.
Entre 1801 e 1805, a irmandade do Santíssimo resolveu reformar uma das torres da igreja, talvez a da direita, pois o relógio foi removido. Para essa obra, encomendou-se razoável quantidade de tijolos, pedra e cal. Data, portanto, desse período a introdução do tijolo na igreja, substituindo os antigos pau a pique, taipa de pilão e moledos. Nessa reforma, a obra de pedreiro ficou a cargo dos oficiais, aprendizes e escravaria do mestre Cláudio Pereira Viana, mulato, também construtor da capela da Santíssima Trindade da vila de São José. A ferragem foi feita pelo capitão Manuel Esteves de São Francisco. Francisco da Silva Miranda, que viria a construir a nova cadeia em 1835, forneceu e lavrou a cantaria. As obras de pedraria, como soleira e embasamentos, devem ter sido feitas por Francisco da Silva Miranda, pois trabalhou e forneceu pedra para várias obras na vila de São José. Ao que parece, Miranda era perito em lavrar pedra.

Quanto à portada, possivelmente em execução quando chegou o risco do mestre, o projeto e a confecção são devidos ao entalhador Salvador de Oliveira, mulato como Aleijadinho, já há muitos anos trabalhando na matriz da antiga vila de São José do Rio das Mortes. O projeto data de 1807 e há registros de pagamento a Salvador de Oliveira em 1809 e 1810, por “trabalhar na Matriz” e por obra não identificada, por estar o livro de recibos parcialmente destruído. A referência, porém, certamente diz respeito à execução da talha da portada, que tem características do estilo pessoal do artista.
Alguns autores ainda sustentam a atribuição dessa portada ao Aleijadinho, mas uma rápida análise da peça permite notar a total divergência do estilo do mestre. Trata-se de uma peça bastante despojada, em linha rococó, constituída por quartelões ladeando as ombreiras lisas, encimadas por fragmentos de frontão enrolados em volutas e coroamento sobre a verga lisa, em concheado aberto em leque, com pequenas volutas e acantos. A total ausência de figuras angelicais e relevos simbólicos é constante na obra de Salvador de Oliveira, que parece não ter tido dotes de escultor. A parte superior, com certeza acrescentada em meados do século XIX, foi moldada em argamassa de cal e areia, tentando canhestramente copiar o estilo da obra de pedra, e inclui um agnus dei de gosto ingênuo. Não se conhece a autoria e a data do acréscimo.
A iluminação da nave é feita por seis óculos envidraçados, com molduras externas de madeira recortada em elementos curvos. Na capela-mor, outros dois óculos jogam luz no espaço interno, agora com moldura externa mais elaborada, em argamassa, de fatura posterior.

A cobertura da nave é um telhado de duas águas com cumeeira centrada e amplo galbo com telhas de capa e canal, em belo ritmo, indo morrer em beirais de cimalhas de madeira, em perfis escalonados. A capela-mor, mais baixa que a nave, como o tradicional na arquitetura luso-brasileira, apresenta um telhado mais elaborado que o usual nesse tipo de construção, constituído de oito águas, com cumeeira central e formação de quatro rincões, com empenas laterais triangulares onde se inserem os óculos.

Os telhados baixos dos cômodos encostados na parede da nave são de uma água, com destacados galbos e beirais em beira-seveira. Os corpos baixos correspondentes aos cômodos que ladeiam a capela-mor, um pouco mais largos, são igualmente cobertos em uma água, que morre em beiral de cimalha de tijolos e massa, de desenho escalonado e perfilado, feito em fins do século XIX em substituição das antigas beiras-seveiras.
Na parte posterior da capela-mor, sobre o camarim, o telhado continua em duas águas, da forma usual. Os beirais ali constituem-se de cimalhas de alvenaria de tijolos e massa, com molduras escalonadas e perfiladas, certamente de execução posterior à da nave.
A fachada posterior, sem muitos cuidados, tem o corpo central, correspondente à capela-mor, definido por grandes pilastras de pouco relevo, bruscamente interrompidas quando começa a empena. Esta constitui-se de triângulo liso, com beiral apenas em ponta de telha. Nessa fachada apenas três vãos de janelas de verga reta dão luz ao cômodo sob o camarim e parte posterior deste, em nível superior.
Além da igreja propriamente dita, duas outras construções fazem parte do conjunto: a casa das almas ou da madeira e a antiga privada. A primeira tem alvenaria de moledo e adobe, com cimalha de moledo e beira-seveira pelo lado do beco, telhado em telha-vã e piso originalmente de terra batida. Com exceção da porta que dá para o beco, certamente aberta em época posterior, em verga reta e folha de saia e camisa, as esquadrias são de verga curva com folhas almofadadas. A segunda foi construída ainda no século XVII, em adobe, telhado em duas águas, sem janelas, com apenas uma porta de verga reta, piso de pedras grandes, com abertura quadrada, onde se assentava um “vaso sanitário” de madeira. Por baixo do lajeado passava uma espécie de vala onde caíam os dejetos, sem fossa. Essa antiga construção foi adaptada com instalações sanitárias novas, mantendo-se o piso original.
Com a proibição dos enterramentos nas igrejas, as irmandades passaram a construir cemitérios em terrenos próximos.A supressão dos sepultamentos “em terreno sagrado”, no chão das igrejas, decretada oficialmente em 1828, por razões de higiene e saúde pública foi outra mudança radical na utilização do espaço das naves. Em consequência, na maioria das igrejas coloniais desapareceram os antigos pisos de madeira divididos em campas numeradas, mantidos excepcionalmente em Tiradentes, na matriz de Santo Antônio e nas igrejas do Rosário e São João Evangelista.
A edificação da igreja
A igreja de Santo Antônio constitui uma verdadeira mixtura de sistemas construtivos e materiais, uma vez que podem ser detectados na edificação técnicas e materiais dos mais variados. O principal e mais antigo sistema de construção de paredes usado no monumento, datado do período de 1710-1730, é a taipa de pilão feita com terra vermelha e água socada em forma de madeira, o taipal, e com secagem natural. As paredes mestras da nave e da capela-mor construídas nessa técnica não têm fundação de pedra: a taipa nasce a cerca de 1,20 m de profundidade, sendo ela própria o alicerce. Utilizou-se a mesma técnica nas paredes dos cômodos laterais ao longo da nave e nas divisórias, com coroamento de cerca de 50 cm a 1 m em alvenaria de adobe, fazendo o fechamento entre o beiral e os frechais. Sobre o coro alto, uma parede onde se insere um óculo interno e define a nave foi feita em pau a pique ou taipa de mão.
Nas paredes posteriores e de fundos encontram-se alicerces ou fundações em pedra e moledo aglutinados com argamassa de cal e areia. Embasamentos ou alicerces em moledo foram descobertos próximo ao coro e coxias, na última obra de restauração. Na ocasião, localizaram-se também dois grandes arcos de madeira preenchidos com adobe e moledo por trás da mísula do órgão e tela do Milagre de Santo Antônio.
Apenas no frontispício os vãos são de verga curva, pois nos corpos laterais e fundos da igreja mantiveram-se os vãos originais de verga reta da primeira metade do Setecentos.

Na fachada principal, as fundações com mais de dois metros de profundidade são de pedras embrechadas com massa. O embasamento e socos dos cunhais foram lavrados em quartzito de cor amarelada originário da serra de São José, e o núcleo central onde se encaixa o pórtico é constituído de alvenaria de pedra-sabão, extraída na Candonga, onde havia pedreiras de pedra-sabão e xisto verde, e no Bichinho, em cujas proximidades havia uma jazida de pedra-sabão utilizada também na capela local de Nossa Senhora da Penha.
Parte da parede frontal até a altura do ensoleiramento do coro foi construído em alvenaria de pedra, e a parte superior em alvenaria de tijolos de grandes dimensões, assim como o frontão e as torres, feitos entre 1807 e 1811. No frontão, apenas a cruz foi executada em pedra-sabão, enquanto os relevos são de alvenaria de tijolo e argamassa de cal e areia.
Quatro janelas das laterais ainda mantêm os balaústres torneados da primeira metade do século XVII. Já nos corpos ligeiramente avançados das sacristias e consistórios ao longo da capela-mor, os balaústres foram substituídos no século XIX por caixilharia com vidro do tipo guilhotina. Nos corpos laterais, duas portas dão acesso a cômodos de depósito próximos às torres; outras duas, perto do transepto, levam às sacristias e à nave, e há ainda mais uma, no lado da epístola, que dá acesso ao consistório dos Passos. Todas essas portas são de verga reta e almofadadas, como as janelas.
Em fins do século XIX, todo o corpo constituído pelas sacristias e consistórios das irmandades do Santíssimo e dos Passos teve as paredes refeitas em alvenaria de tijolos de pequenas dimensões, semelhantes aos atuais, assim como as cimalhas revestidas de argamassa.
fonte:
- A MATRIZ DE SANTO ANTÔNIO em Tiradentes Vol 1, Olinto Rodrigues dos Santos filho (1)
- A MATRIZ DE SANTO ANTÔNIO em Tiradentes Vol 2, Olinto Rodrigues dos Santos filho (2)
- Barroco e Rococó nas Igrejasde São João del-Rei e Tiradentes, Myriam A. Ribeiro Oliveira e Olinto Rodrigues dos Santos Filho (3)
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