CLÁSICA e MODERNA: Quando uma livraria fecha, os livros ficaram órfãos

Após 80 anos, a Clásica y Moderna fechou, o local de encontro para escritores, músicos e outros artistas de Buenos Aires. Neste local da Avenida Callao, Livros, Literatura e Café conviviam de mãos dadas.

A Livraria Clássica e Moderna estava há mais de 80 anos na Avenida Callao 892. Foi declarada de Interesse Cultural pela Assembleia Legislativa de Buenos Aires em 2013, por ter sido um ponto de encontro reconhecido de artistas, escritores, jornalistas e intelectuais como Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares. Hoje está fechada. A morte de sua dona em 2017, Natu Poblet, uma dívida de aluguel e a queda na venda de livros e do bar, acabaram com um lugar histórico da cidade.

Clásica y Moderna


A bela fachada do edifício na rua Callao, da autoria do arquitecto Pedro A. Vinent nos anos 1920, destaca-se no térreo o tradicional cartaz Clássica e Moderna, que com o magnetismo de um brasão, nos convidava a partilhar a sua magia.

Emilio Poblet Diez

As origens da Clásica y Moderna remontam a 1916 quando don Emilio Poblet Diez chegou de Madrid a Buenos Aires com o propósito de se estabelecer como livreiro. Está acompanhado pelos filhos Emílio, Francisco e Ricardo que, com apenas 20 anos, se iniciam no comércio e, juntamente com o pai, dirigem as sucessivas livrarias que, com a marca Poblet Hnos, abrem um local na Avenida Callao.

Emilio Poblet Diez e seus filhos Francisco, Emilio, Ricardo y Antonio

Em 1938 um dos seus filhos, Francisco Poblet separou-se da sociedade familiar para enfrentar o seu próprio projecto: com a sua mulher, Rosa Ferreiro, fundou a livraria Clássica e Moderna na rua Callao 892, local que ocupa atualmente. Na década de 1950, a livraria, já consolidada, era uma das mais importantes da cidade no setor de humanidades.

No final de 1980, Don Francisco faleceu e seus filhos, Natu e Paco Poblet, assumiram os negócios da família. Com a chegada da democracia, há um renascimento da cultura e a livraria recebe escritores que chegam do exílio e se reúnem com seus pares em seus salões, seguem-se cursos, conferências e apresentações de livros. Natu formou-se arquiteta pela UBA e trabalhou até o início dos anos 1980 quando assumiu a livraria.

Natu Poblet

Ela também apresentou o programa “Ler é um prazer” por anos na Rádio Nacional. E foi condecorada na Embaixada da Espanha em Buenos Aires, com a Ordem de Isabel la Católica. Ela re-fundou a livraria e não apenas porque a tornou mais plural. No dia 25 de maio de 1988, junto com seu irmão Paco e o designer Ricardo Plant, inauguraram um restaurante e um bar. Boa música: Jazz, bossa, blues.

Natu tinha 79 anos quando morreu em 2017. Mas as vendas no local vinham diminuindo desde 2014 mais ou menos. Assim o local, recentemente foi fechado por uma dívida de aluguel.

Os motivos do encerramento são dois: por um lado, a questão socioeconómica, a queda das vendas que impossibilitou o cancelamento de uma dívida de vários meses pelo aluguer do espaço. Por outro lado, após a morte de Natu Poblet em 2017 o espaço começou a sofrer “um processo de desgaste”, diz Fernando Monod, que hoje é o responsável pela livraria. Fernando Monod assumiu o negócio em novembro porque o irmão Alejandro Monod (esposo de Natu) adoeceu e estava hospitalizado no momento da decisão judicial.

Enquanto tentava negociar a dívida do aluguel com a garantia de duas garagens, de propriedade de Alejandro, veio a ordem para desocupar o local, onde trabalhavam dez funcionários. “Temos uma oportunidade de cancelar a dívida em um mês e não vamos desperdiçá-la. Sou engenheiro, trabalho no Senasa e venho de Tandil mas não vou baixar os braços porque recebo muitos mensagens de apoio.

Lembranças dos tempos bons


A Clásica y Moderna foi premiada em 2004 com a Menção Especial de Literatura atribuída pela Fundação Konex pelo mérito da sua historia. Dois anos depois, a Câmara de Comércio Espanhola a distingue como Empresa PyME 2006.

Isabel Allende, Juan José Sebreli e David Viñas, para citar alguns, apresentaram aqui os seus livros. A lista de escritores que passaram pela livraria e ampla: O chileno José Donoso, Ernesto Schoo, Edgardo Cozarinsky, David Viñas, Enrique Pezzoni, Isidoro Blainsten, Juan José Sebreli e María Esther de Miguel, etc.

Clássica e Moderna foi a “segunda casa” de renomados artistas, escritores, jornalistas e intelectuais como Jorge Luis Borges, Manuel Mujica Lainez e Adolfo Bioy Casares, para citar apenas alguns, que contribuíram para torná-la famosa para todos aqueles amantes da leitura. Além disso, possuía um café e eventos musicais eram realizados em diferentes dias da semana.

Neste lugar, já foi um verdadeiro marco cultural de Buenos Aires onde passaram; Liza Minelli, Susana Rinaldi, Amelita Baltar; María Volonté, Marikena Monti, Andrea Tenuta, Leopoldo Federico, Horacio Molina, Chico Novarro, Alberto Favero, Jorge Navarro, Silvana Di Lorenzo, Ligia Piro e José “Pepe” Sacristán, num show inesquecível em homenagem a Fernando Fernán Gómez, entre tantas figuras notáveis.

Qual será o futuro do “Bar dos Livros”?


Após o anúncio de clausura as pessoas começaram a expressar sua preocupação e surpresa através das redes sociais nas quais também começaram a pedir às autoridades de a cidade para fazer algo para encontrar uma solução.

Para a família Monod, a chave para a reabertura da livraria está nas mãos do Governo da Cidade de Buenos Aires. “Seria ideal que o estado fosse dono da marca e do lugar e depois entregasse como concessão a potenciais interessados ​​na realização de um empreendimento comercial que deveria seguir certas orientações para manter o espírito da Clássica”, defende Fernando Monod. Segundo ele e fontes do Ministério da Cultura de Buenos Aires, nos últimos meses vários empresários demonstraram interesse pela marca cultural do lugar. No entanto, as negociações ainda não foram concretizadas.

Os funcionários do governo municipal não concordam com Monod que a livraria deva ser propriedade da cidade. “Sabemos que existe um diálogo, mas o proprietário ainda não resolveu”. O ministério, que fez uma ponte entre os advogados do proprietário do local e as diversas partes interessadas. “São eles que têm nas mãos o destino do Clássico y Moderno. Como governo não temos possibilidade de interferir entre particulares”, esclareceu.

Do Ministério da Cultura deu-se a conhecer que o desejo dos dirigentes de que a livraria reabra e a vontade de acompanhar os novos gestores do tradicional “bar do livro” continua firme. As promessas de festa de reabertura, de programação cultural e de inclusão do Clássica e Moderna como espaço de atividades na agenda da cidade são mantidas.

 

fonte:

  • https://www.lanacion.com.ar
  • https://www.infobae.com/cultura/
  • https://turismo.buenosaires.gob.ar/es/article/bares-notables

 

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