O Centro Cultural Borges volta à órbita do Estado. São 10 mil metros quadrados que abrigam auditórios e salas para exposições e demais atividades que farão parte do Ministério da Cultura da Nação.
Haverá um espaço permanente destinado a homenagear a Jorge Luis Borges, outra salas serão atendidas pelo Museu Nacional de Belas Artes e o Palais de Glace. e felizmente o Museu Nacional de Arte Oriental terá sede própria pela primeira vez em Buenos Aires.
Galerias Pacífico
Av. Córdoba 550
Localizado na intersecção do calçadão da Rua Flórida e a Avenida Córdoba, um dos recantos mais tradicionais de Buenos Aires, as Galerias Pacífico recebiam anualmente, na era pré-pandêmica, um milhão de visitantes.
A construção da atual galeria Pacifico começou em 1891, executada pelos arquitetos Francisco Seeber e Emilio Bunge, como sede da loja de departamentos Au Bon Marché Argentino, uma réplica da famosa loja parisiense Au Bon Marché.

Estima-se que a construção da galeria concluiu por volta de 1905, porém o uso originalmente pretendido nunca se concretizou. Em 1908, devido a diversos problemas econômicos, parte do prédio foi vendido ao Ferrocarril Buenos Aires al Pacífico, onde instalou suas oficinas centrais e daria finalmente o nome atual para o shopping (Galerias Pacifico), quando eles finalmente adquiriram a totalidade do imóvel.
Mas sempre foi um espaço ligado à arte, pois em 1896 o imponente edifício de estilo parisiense já abrigava a primeira sede do Museu Nacional de Belas Artes. Em 1945 o edifício foi “re-funcionalizado” com a separação da zona de escritórios e a criação de uma nova galeria comercial, colocando os tetos dos corredores à altura do primeiro piso.
Os artistas; Antonio Berni, Lino Spilimbergo, Juan Carlos Castagnino, Demetrio Urruchúa e Manuel Colmeiro fizeram por sua vez os impressionantes murais na cúpula central que hoje constituem um patrimônio artístico de imenso valor. Eles tiveram que ser restaurados duas vezes: a primeira ocasião foi em 1978 sob a direção de Antonio Berni, e o segundo em 1991 por uma equipe argentino-mexicana comandada por Manuel Serrano Cabrera.
Em 1989 foi declarado Monumento Histórico Nacional, mas logo depois, durante a gestão do ex-presidente Carlos Menem, o majestoso edifício passou das mãos dos Ferrocarriles Argentinos para as de Mario Falak e a família Sutton (empresário e promotores da marca hoteleira Alvear), para se tornar o Shopping Galerías Pacífico.
Centro Cultural Borges (CCB)
Rua Viamonte 525
O Centro Cultural Borges foi criado pela Fundação para as Artes e inaugurado em outubro de 1995 pelo Rei da Espanha Juan Carlos I, acompanhado de todo o ambiente cultural da cidade de Buenos Aires.

O centro cultural abriu as suas portas com uma exposição de Jorge de la Vega, com a exposição Arte de Argentina (1920-1994), além disso um espaço ligado à figura de Jorge Luís Borges e uma sala onde se expôs pintura espanhola dos séculos XIX e XX.
Desta forma, os proprietários das Galerias Pacífico se comprometeram a destinar uma parte do bloco para atividades culturais.
A Fundação para as Artes teve durante muitos anos como presidente a saudosa Elena Olazábal Estrada de Hirsch, dona de uma das fortunas mais importantes do país, acompanhada de Martha Nogueira como diretora artística, juntas trabalharam arduamente e a instituição viveu um período de esplendor em termos de eventos e artistas que expuseram nas suas salas.

O CCB atua em relação aos museus de todo o país, servindo como ponto de partida para mostras internacionais que fazem sua primeira parada em Buenos Aires e depois realizam seu roteiro no território nacional; assim, ele compartilha sua gestão e atua como um facilitador para muitos museus nacionais.
O centro cultural é ponto de exposição dos principais artistas internacionais que visitam o pais. Tal é o caso do fotógrafo Mick Rock, quem encontrou um filme com imagens que tirou do Queen no início de sua carreira e deu lugar à exposição “Queen: Origin of a Legend”, uma exposição fotográfica inédita que percorreu a América Latina toda.
Outro dos artistas preferidos dos portenhos é Salvador Dali, cuja obra esteve no Centro Cultural Borges no período (maio – setembro) de 2019.
O Ministério de Cultura assume o Centro Cultural
Após uma importante e cordial negociação com a Fundação para as Artes, que desde 1995 gere o espaço cultural situado na rua Viamonte 525, o Ministério da Cultura da Nação anunciou o processo de restituição de um dos espaços emblemáticos da arte e da cultura. Cultura em América Latina: o Centro Cultural Borges.
A crise econômica dos últimos anos e a pandemia foram os elementos-chave para essa transferência. A dinâmica do centro da cidade de Buenos Aires mudou completamente seu aspecto movimentado diante de uma situação comercial mais deprimida, e as Galerias Pacífico, da qual o CCB faz parte e há 25 anos, não estão passando por um momento bom também não.
Uma comparação pode colocar em perspectiva a magnitude de sua incorporação à infraestrutura da cultura nacional: seus 10.000 metros quadrados equivalem a agregar um andar inteiro ao Centro Cultural Kirchner, o maior do gênero na América Latina. Agora o objetivo será “aprofundar seu caráter patrimonial, agregando-lhe uma importante participação federal”, destacam desde o Ministério da Cultura.
São 10.000 metros quadrados para exposições, festivais, seminários, shows, conferências, workshops e eventos. Existe, além das salas de exposição, um auditório e uma sala de cinema
A partir desta instância, o Ministério da Cultura pretende desenvolver projetos importantes, valorizando o valor cultural e estético e incluindo uma profunda visão nacional.
O ministério revelou algumas das iniciativas que serão lançadas no espaço cultural, que tem mais de 10.000 metros quadrados e abriga auditórios, salas de exposições, área de oficinas, espaços para shows, cinema, seminários e conferências. Entre essas novidades, foi anunciado que o Museu Nacional de Belas Artes ficará a cargo de um espaço dedicado a relembrar suas origens, já que ali funcionou sua primeira sede. Outro espaço será destinado a homenagear, de forma permanente, o grande escritor argentino que homenageia o Centro Cultural com seu nome: Jorge Luis Borges. Além disso, se realizará a transferência do Museu Nacional de Arte Oriental (MNAO), que hoje funciona no Palácio Errázuriz, sede do Museu Nacional de Arte Decorativa, e segundo as autoridades, o local será reformado para receber seu acervo, “de acordo com a sua relevância e dedicado à arte oriental contemporânea”.
“O Museu Nacional de Arte Oriental não tem sede no momento”, observou BauerO MNAO reabriu no final do governo Macrista depois de muitos anos, mas aconteceu de forma incerta, sem sede própria, recebendo emprestada uma sala do Museu Nacional de Arte Decorativa (Av. Del Libertador 1902) e com visitas por turnos, antes mesmo de se saber que uma pandemia estava em andamento. “O Museu tem um acervo extraordinário e queremos aprofundar a arte oriental contemporânea, tão presente no mundo de hoje”, antecipou Bauer, confirmando que o museu já tem “marcado um espaço” para o MNAO dentro do Borges. A arte plástica e as disciplinas visuais orientais há décadas que experimentam um enorme crescimento, paralelamente ao peso que os seus mercados têm na economia mundial. Qualquer tour pelas grandes feiras e bienais internacionais nos permite corroborar isso.
Outra sala será comissariada pela direção do Palais de Glace, com exposições que trazem perspectivas contemporâneas sobre seu patrimônio, e haverá um espaço dedicado à promocionar e incentivar o mercado de artesanato da Argentina. Estas são algumas das iniciativas que se desenvolverão numa primeira fase de olho em novas propostas.
O Ministério ainda não esclareceu quando vai assumir o controle total do espaço. Por enquanto, Bauer explicou que trabalha em conjunto com a Fundação para as Artes, que dirigiu o centro cultural por 25 anos. “Será progressivo, estamos trabalhando muito bem com eles e vamos viver juntos por um tempo”, esclareceu e comemorou a aquisição como “mais um espaço para a cultura nacional”. A este respeito, Bauer prometeu que será proposta “uma concepção federal em que as obras e artistas de diferentes províncias tenham um lugar aqui”.
Diferentes integrantes do Centro Cultural Borges ainda não têm futuro definido, a Escuela Mundial de Tango GE dirigida por Gabriela Elias, que foi diretora (1986 – 2012) do grupo de dança da companhia “Mariano Mores” como primeira bailarina com Eduardo Perez. A escola dela funciona lá desde 2014.


O atual ministro da Cultura, Tristán Bauer, é cineasta autor do filme “Iluminados pelo Fogo”, filme que trata da Guerra das Malvinas que ganhou o prêmio Goya de Melhor Filme Estrangeiro de Língua Espanhola, “El camino de Santiago” sobre o desaparecimento e morte de Santiago Maldonado, e “Tierra Arrasada”, o documentário que estreou em dezembro de 2019 sobre os quatro anos da presidência de Mauricio Macri, são alguns dos filmes que compõem sua obra cinematográfica. Dirigiu o Canal Encuentro e em 2013, com a promulgação da Lei de Mídia, tornou-se presidente da RTA (Rádio e Televisão Argentina, Sociedad del Estado), que agrupa o Canal 7, o Canal Encuentro e a Rádio Nacional.
“Não só pelo fato de ser um Patrimônio de Interesse Nacional, as Galerias Pacífico também cedem um espaço para a cultura de Buenos Aires. Estamos trabalhando para recuperar esse espaço, onde possamos ampliar todos os projetos culturais que temos”, afirma o ministro da Cultura.
fonte:
- https://www.cultura.gob.ar/el-centro-cultural-borges-vuelve-al-ministerio-de-cultura-de-la-nacion-10063/
- https://www.clarin.com/cultura/centro-borges-galerias-pacifico-menem-concesiono-hace-25-anos-ahora-vuelve_0_Xios39S_H.html
- https://www.infobae.com/cultura/2020/12/30/incertidumbre-sobre-el-futuro-del-centro-cultural-borges/